A gigante multinacional Pepsico vendeu, nesta semana, a operação da fabricante de biscoitos Mabel após ter ficado dez anos com a empresa em seu portfólio. Não foi um bom negócio para a companhia americana, uma vez que as perdas com a operação foram de mais de R$ 500 milhões – e isso sem contar a inflação do período. “A ordem da Pepsico era sair rápido do negócio, por isso o preço foi tão baixo”, disse uma fonte próxima à operação. Além disso, segundo outra pessoa próxima ao assunto, o interesse pela Mabel não foi muito forte no mercado.
O prejuízo de quase R$ 550 milhões foi revelado após a Camil ter divulgado, nesta quinta-feira, 25, que pagou um total de R$ 152,8 milhões pelas empresas que controlam a Mabel. Dez anos atrás, quando a Pepsico entrou no negócio, o valor foi bem diferente: cerca de R$ 700 milhões, conforme mostrou reportagem do Estadão à época. Ou seja: a Pepsico recuperou pouco mais de 20% do que pagou.
A Mabel foi fundada por uma família de imigrantes italianos nos anos 1950 e, antes da venda para a Pepsico, em 2012, teve o fundo Icatu entre seus sócios. A saída da gigante americana, que ocorre agora, vem alguns meses depois da mudança de comando do segmento de alimentos da Pepsico no Brasil, que ocorreu em março.
Dificuldade de vender a Mabel
A decisão da Pepsi de sair do negócio, segundo apurou a reportagem, está relacionada ao fato de que seu foco voltou para o segmento de “snacks” funcionais – uma estratégia global que garante margens maiores do que os biscoitos da Mabel, que são mais baratos e considerados um produto de “combate”.
“As demais marcas da Pepsico acabam acessando todas as classes e, até por isso, nunca houve um interesse em transformar a Mabel em uma marca global”, explicou uma fonte. Além disso, o mercado de biscoitos no Brasil não tem crescido em volumes vendidos, deixando grande parte das fabricantes com alta capacidade ociosa.
Um fato relevante divulgado pela Camil nesta quinta-feira também mostrou que a Mabel operava bem aquém de sua capacidade, com 40% das máquinas de fabricação de biscoitos paradas a maior parte do tempo. Hoje, a capacidade de produção da Mabel é de 110 mil toneladas por ano, mas só 66 mil de toneladas estão saindo das linhas das fábricas da companhia.
Conforme informou a Camil nesta quinta-feira, a receita líquida dos ativos atualmente é de R$ 421 milhões. Portanto, conforme informou o presidente da companhia, Luciano Quartiero, há espaço para dobrar o faturamento das sociedades, uma vez que já existe capacidade instalada para produzir o dobro do que foi produzido no último ano.
Camil vem diversificando o portfólio
As empresas adquiridas detêm a fabricação de biscoitos das marcas Mabelo, Doce Vida, Mirabel, Elbi’s e Pavesino. Fazem parte da transação as unidades industriais de Aparecida de Goiânia (GO) e Itaporanga D’Ajuda (SE), que têm hoje cerca de 800 colaboradores. A venda ainda inclui um benefício extra à compradora: a transação estabeleceu o licenciamento para a Camil da marca Toddy para cookies pelo prazo de dez anos, além da aquisição dos ativos que compõem a linha de produção do rótulo para cookies.
A compra da Mabel veio em um momento de diversificação para a Camil. A empresa vem tentando ampliar seu portfólio e ganhar relevância na indústria alimentícia. Mais conhecida por cereais – especialmente o arroz e o feijão –, a Camil recentemente entrou no setor de massas, por meio da aquisição da Santa Amália, há um ano – e também tem uma operação de pescados enlatados.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast no fim do ano passado, a companhia disse ter a intenção de se posicionar como uma multinacional brasileira, especialmente na América Latina. Hoje, a companhia já está presente, além do Brasil, em mercados como Uruguai, Chile, Peru, Argentina, Venezuela e Equador.
Ver todos os comentários | 0 |