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Teresina - Piauí

Crianças de rua: o outro lado do Dia das Crianças em Teresina

Existe uma diferença entre crianças moradoras de rua e em situação de rua.

É meio-dia quando nossa equipe avista de longe o menino no cruzamento da Avenida Miguel Rosa com a BR 343, zona sul de Teresina. M.M, 12 anos, se equilibra entre os veículos, fazendo malabarismos de pedras que cata ao chão, com o objetivo de conseguir moedas das pessoas que passam. Ele é mais uma criança de rua da capital.

Magro, descalço e com a pele queimada do sol, o pequeno conta que consegue se alimentar com os trocados que recebe nos semáforos e pedindo comida de porta em porta. Para dormir, ele diz que se ajeita em qualquer canto e afirma não ter medo de viver sozinho nas ruas.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Criança de rua pedindo esmola no sinal Criança de rua pedindo esmola no sinal

De acordo com dados disponibilizados pela Secretaria Municipal do Trabalho, Cidadania e de Assistência Social (Semtcas), atualmente existem 32 crianças com idade de 0 a 12 anos estão em situação de abandono nas ruas de Teresina, conforme o último levantamento realizado pelo Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) entre janeiro e agosto deste ano.

Kelma Modestino, Gerente de Proteção Especial da Semtcas, esclarece que há uma diferença entre crianças moradoras de rua e em situação de rua. “Nos últimos meses, foram identificadas 32 crianças em situação de rua, não são moradoras de rua, eles estão naquele espaço na maioria das vezes realizando trabalho infantil e geralmente têm família”, destaca.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Criança de rua pedindo no sinal em Teresina Criança de rua pedindo no sinal em Teresina

Entre um automóvel e outro, o garoto conversa com nossa equipe e relata com naturalidade sua história. “Meu pai está preso, minha mãe foi embora e eu vivo na rua”, declarou. Ele não lembra a última vez que frequentou a escola e mal sabe ler, apenas soletrar algumas palavras.

Teresina conta com uma estrutura, em sua maioria garantida pela Semtcas, para tratar desses casos, como explana Kelma Modestino. “Temos o Cras (Centro de Referência de Assistência Social), que atua na prevenção e na proteção dos direitos e o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), que atende pessoas e famílias cujos direitos foram violados e age na superação desses problemas sociais. Em Teresina, há quatro unidades do Creas, em cada região da cidade, e 19 Cras”, informa.

  • Foto: Thais Guimarães/GP1Kelma ModestinoKelma Modestino

A gerente da Semtcas conta como funciona o processo para lidar com as crianças abandonadas. Ela explica que existem Agentes de Proteção Social (APS), que percorrem a cidade e detectam situações de violação de direitos. “Quando uma criança é encontrada, todo um procedimento é realizado. Primeiro, tentamos fazer a abordagem e identificar se há algum responsável no entorno. Caso seja constatado que ela possui família, acionamos o Conselho Tutelar e encaminhamos ao Creas, para que se busque trabalhar os familiares no sentido de convencê-los a retirar essa criança da rua. Se a criança for de fato abandonada, ela é encaminhada a uma unidade de acolhimento, que aqui em Teresina funciona na Casa Reencontro”, afirma.

  • Foto: Marcelo Cardoso/GP1 Criança de rua pedindo esmola Criança de rua pedindo esmola

M.M, o personagem principal desta reportagem, é conhecido em muitos setores de assistência social da capital. “Essa criança é uma das situações trabalhadas aqui de forma coletiva. Ele faz vários relatos e toda vez que é abordado conta uma história diferente, mas já fizemos um estudo de caso e sabemos que esse menino é de Timon e tem um histórico familiar de desagregação, os pais são separados. Ele já foi acolhido algumas vezes, mas fugiu. Estamos tentando mais uma vez acolhê-lo, mas aguardamos decisão judicial, pois somente o Juizado Especial da Criança e do Adolescente pode autorizar a ação”, desvenda Kelma Modestino.

  • Foto: Thais Guimarães/GP1Casa ReencontroCasa Reencontro

A Casa Reencontro está localizada na rua Professor Odilo Ramos, bairro Morada do Sol, zona leste de Teresina. O garoto de 12 anos, cuja história tentamos contar, pode ser encontrado em vários pontos de Teresina, em semáforos, ruas, calçadas e praças. Para esse menino, o Dia das Crianças é só mais um dia quente.

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