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Lula sabia e dava a 'palavra final' sobre caixa 2, diz Santana

O Supremo Tribunal Federal (STF) disponibilizou nesta quinta-feira (11), todos os arquivos com os documentos da delação premiada do marqueteiro João Santana e de sua mulher Mônica Moura.

O Supremo Tribunal Federal (STF) disponibilizou nesta quinta-feira (11), todos os arquivos com os documentos da delação premiada do marqueteiro João Santana e de sua mulher Mônica Moura. Os dois fecharam acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e revelaram detalhes de propinas no exterior e caixa dois nas campanhas presidenciais.

O marqueteiro contou, em sua deleção premiada, como foi chamado para trabalhar na campanha à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. De acordo com Santana, primeiramente ele foi contratado para resolver a crise que o PT enfrentava pela descoberta do escândalo do mensalão.

  • Foto: Felipe Rau/Estadão ConteúdoJoão Santana e sua esposa, Mônica MouraJoão Santana e sua esposa, Mônica Moura

As primeiras tratativas teriam sido feitas com o ex-ministro Antonio Palocci, que lhe disse, num encontro em agosto de 2005, em Brasília, que, se Lula se saísse bem da crise, seria candidato no ano seguinte. Santana substituiria, assim, o seu ex-sócio e publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha vitoriosa de Lula em 2002 e fora atingido pelas investigações do mensalão.

João Santana afirmou à procuradoria que Lula tinha conhecimento dos pagamentos por fora efetuados à sua empresa, a Pólis. E que ouviu diversas vezes de Palocci que as decisões dependiam da palavra final do chefe — no caso, Lula.

  • Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de ato favorável a ele na Praça Santos AndradeO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de ato favorável a ele na Praça Santos Andrade

“Apesar de nunca ter participado de discussões finais de preços ou contratos, tarefa de Mônica Moura, João Santana participou dos encaminhamentos iniciais e decisivos com Antonio Palocci. Nestes encontros, ficou claro que Lula sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis, porque Antonio Palocci, então ministro da Fazenda, sempre alegava que as decisões definitivas dependiam da ‘palavra final do chefe'”, diz trecho da delação premiada.

Dilma sabia de caixa 2

Mônica Moura afirmou em sua delação que a ex-presidente Dilma Rousseff tinha "pleno conhecimento" de como a Odebrecht atuava, em sua campanha, para quitar dívidas, por meio de caixa dois, a ela e a João Santana.

Segundo a marqueteira, o ex-ministro Guido Mantega negociava os valores a serem pagos no marketing da campanha eleitoral de 2014, por ordem de Dilma. Segundo Mônica Mantega, apelidado de “Laticínio” nos registros da delatora – um trocadilho com “manteiga” – fazia questão que as conversas ocorressem sempre em sua residência oficial, em Brasília. Em uma das reuniões sobre o tema, foi acordado que João Santana receberia 105 milhões de reais pelos serviços da campanha, sendo que 35 milhões de reais deveriam, necessariamente, ser quitados por meio de caixa dois.

Mônica ainda relatou que foi orientada por Mantega a procurar a Odebrecht para quitar a parcela de caixa dois combinada.

  • Foto: Tom Vieira Freitas/Fotoarena/Estadão ConteúdoEx-presidente Dilma RousseffEx-presidente Dilma Rousseff

João Santana e Mônica Moura receberam R$ 10 milhões dos R$ 35 milhões que deviam receber segundo o acordo. O restante nunca foi pago pela Odebrecht. O motivo, segundo a marqueteira, foi a Operação Lava Jato. Marcelo Odebrecht temia que fossem fornecidas informações da Suíça que ligassem a companhia ao casal de marqueteiros.

Diante do calote de 25 milhões de reais, João Santana, que usualmente tratava da parte criativa no marketing, e não de assuntos financeiros, assumiu o papel de “cobrador oficial” do passivo junto à própria Dilma Rousseff. Mônica Moura também aproveitava intervalos de gravações para cobrar de Dilma a dívida. A petista sempre afirmava estar disposta a ajudar e, segundo Mônica, “desde o início, tinha pleno conhecimento de que a Odebrecht ficara responsável pelo pagamento não oficial”.

Dilma avisou sobre prisão do casal

Ainda segundo Mônica Moura, a ex-presidente Dilma Rousseff ligau para o marqueteiro João Santana para avisá-lo que seria preso na Operação Lava Jato. A chamada telefônica teria ocorrido no dia 21 de fevereiro de 2016, um dia antes do juiz Sergio Moro decretar a prisão do casal, que estava na República Dominicana, trabalhando na campanha presidencial de Danilo Medina.

Dilma informava detalhes do andamento da operação através de e-mails secretos, em que mensagens cifradas serviam para alertar o casal, segundo delatou Mônica.

Segundo trecho da delação, Dilma externou preocupação de que o esquema poderia ser descoberto. “Precisamos manter contato frequente de uma forma segura para que eu lhe avise sobre o andamento da operação. Estou sendo informada de tudo frequentemente pelo José Eduardo Cardozo”, disse Dilma, segundo relator, em delação premiada, de Mônica Moura.

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