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Médico legista rebate pontos da entrevista do advogado da família de Fernanda Lages

O médico legista detalhou pontos dos procedimentos que foram realizados no corpo de Fernanda e comentou várias causas para um suicídio.

O médico legista do IML de Teresina, Antônio Nunes, divulgou uma nota à imprensa comentando sobre as declarações dada pelo advogado da família de Fernanda Lages, Lucas Villa, em entrevista coletiva, em que o mesmo apresentou alguns questionamentos quanto ao relatório da Polícia Federal de que a estudante teria cometido suicídio ou sofrido um acidente.

Antônio Nunes esclareceu que não procede a afirmação de que teria dito que Fernanda quebrou costelas nas escadas e ainda que não foi encontrada nenhuma prova de que outra pessoa tivesse entrado em contato com o corpo da jovem.

O médico legista detalhou pontos dos procedimentos que foram realizados no corpo de Fernanda e comentou várias causas para um suicídio.

Confira a nota do médico na íntegra:

Em que pese o comportamento sempre ético e tranquilo de Dr. Lucas Villa, advogado da família Lages, durante a entrevista coletiva, ao meio dia de 21 de setembro de 2012, há algumas questões que não procedem.

Não há dúvidas que a Polícia Federal foi mais longe na elucidação dos fatos que cercam a morte de Fernanda Lages Veras, notadamente pela excelência de seus quadros e por aparelhagem de ponta.

Mas, durante a coletiva, o advogado da família afirmou que este médico legista tinha colocado no laudo cadavérico que tinha havido fraturas de costelas por queda nas escadas e isto não corresponde à verdade. Por estes motivos, esclarecemos alguns pontos do laudo:

Não procede a afirmação de que tínhamos dito que ela quebrou costelas nas escadas.

O que diz o laudo: “as fraturas cranianas múltiplas com achatamento, lacerações de órgãos internos que indicam altos impacto e energia cinética são compatíveis com precipitação de grande altura e isto associado à fratura do braço direito sem fraturas em coluna vertebral, bacia e membros inferiores são compatíveis com queda com cabeça em nível inferior do lado direito” Como se observa é exatamente o mecanismo descrito pela Polícia Federal, havendo encontrado mais fraturas porquanto há maior tecnologia, inclusive sendo realizados ressonância magnética e tomografia computadorizada no cadáver o que não é a realidade da maior parte dos Institutos médico-legais, inclusive o nosso.

Descrevemos que as escoriações poderiam ter sido causadas por queda nas escadas, mas sequer afirmamos isto de maneira definitiva e apenas como uma possibilidade, senão vejamos o que descreve o laudo: “”particularmente nas ocorridas em antebraço e tronco à direita são compatíveis com instrumentos capazes de contundir e arrancar epiderme superficialmente, podendo ser causadas, dentre outros instrumentos possíveis, pela borda das escadarias”: como se vê, este perito admite a possibilidade que pudesse ocorrer em outro local, ao descrever a possibilidade de outros instrumentos. A Polícia Federal chegou à conclusão que ocorreram pela queda do prédio porque no exame histopatológico ( popular biópsia ) se encontrou sinais de que não tinha começado a cicatrização. Este perito retirou do corpo fragmentos de pele das lesões e só não realizou este exame porque acabou o prazo e não pode mais ter acesso ao material que se encontrava na Paraíba e que foi para a PF.

Quanto ao restante, o mecanismo é semelhante: lesões causadas pela cordoalha e pela mureta e morte por precipitação de grande altura.

Não foi encontrado tóxicos, DNA das unhas e genitália negativos, estando alcoolizada e extensa hemorragia interna e fraturas pela queda de grande altura além de que o dente foi quebrado também pelo impacto.

Além disso,há o desgaste da unha do primeiro dedo da mão esquerda, assim descrito no laudo cadavérico: “unha do 1º quirodáctilo esquerdo desgastada em serrilhamento, irregular”; isso é a popular unha roída sendo que as outras de todos os dedos estavam bem cuidadas, o que denota estresse e ansiedade.

Além disso, há a quantidade de materiais colhidos e que possibilitaram os exames posteriores, conforme laudo: “foi retirado líquido do globo ocular, conteúdo gástrico, fragmento de fígado, fragmentos de pele com sangue e cimento ( da coxa direita ), fragmentos de pele com sangue das mãos, cortadas unhas, colhido sangue, secreção vaginal e conteúdo bucal. Enviados fios de cabelos “. Como se vê foi um trabalho minucioso e que não foi do simplismo dito na entrevista coletiva.

Não foi encontrada nenhuma prova de outra pessoa tivesse entrado em contato com o corpo.

Além disso, há a insistência em um perfil suicida e isto não é pré-requisito absoluto para alguém se matar, podendo haver varias causas para um suicídio, as quais citamos abaixo:

Transtorno psicológico

Transtornos de humor (Depressão maior, Distimia e Transtorno bipolar)

Psicoses (Esquizofrenia, Transtorno esquizoafetivo, Transtornos delirantes)

Transtornos de ansiedade (Transtorno de estresse pós-traumático, Transtorno obsessivo-compulsivo e Transtorno de ansiedade generalizada)

Demências (como Alzheimer, Demência vascular e Mal de Parkinson).

Transtorno de personalidade (especialmente boderline, antissocial, Transtorno de personalidade histriônica e esquiva)

Os transtornos mentais são freqüentemente presentes durante o momento do suicídio, com estimativas de 87% a 98% dos casos. Transtornos de humor estão presentes em 30%, abuso de substâncias em 18%, esquizofrenia em 14% e transtornos de personalidade em 8 a 20% dos suicídios. Estipula-se que entre 5 e 15% de pessoas com esquizofrenia morrem de suicídio.

Abuso de substâncias

O abuso de alcóol é um dos principais indicadores de ideação suicida.

O abuso de substâncias é a segunda causa mais comum de suicídio depois dos transtornos de humor. Tanto o abuso crônico de substâncias, bem como o abuso de substâncias aguda está associada a um risco aumentado de suicídio. Isso é atribuído aos efeitos intoxicantes e desinibidor de muitas substâncias psicoativas, quando combinado com o sofrimento pessoal, como o luto o risco de suicídio é muito maior. Mais de 50% dos suicídios estão relacionados ao álcool ou drogas. Até 25% dos toxicodependentes e alcoólicos cometem suicídio. Em adolescentes, o número é maior com álcool ou abuso de drogas, que desempenha um papel em até 70% dos suicídios. Foi recomendado que todos os toxicodependentes ou alcoólicos são investigadas por pensamentos suicidas, devido ao elevado risco de suicídio.

Biológico

Para boa parte dos especialistas, a genética tem um efeito sobre o risco de suicídio[ responsável por 30-50% de variância.. Grande parte deste relacionamento atua através da hereditariedade da doença mental. Porém, a questão da hereditariedade é polêmica, alguns autores alegam que é apenas consequência de viver com pais com transtornos mentais (e esses sim seriam hereditários).

Social

Problemas familiares, amorosos e financeiros

Um estudo encontrou maior frequência de suicídio entre pessoas com famílias desestruturadas e após rompimentos de relacionamentos amorosos entre jovens. Entre adultos separações e problemas financeiros são fatores de risco. Apesar de problemas financeiros sérios serem um fator de risco e religião ser um fator de proteção Durkheim percebeu uma prevalência de suicídio entre pessoas de classe sócio-econômica mais elevada e entre protestantes no Rio de Janeiro. Outros autores também encontraram maior prevalência entre classes sócio-econômicas mais altas num estudo feito em São Paulo.

Como forma de rebeldia ou protesto

Como se pode perceber há diversas causas para o suicídio, inclusive, muitas delas sendo momentâneas, não havendo a obrigatoriedade de haver um perfil suicida anterior. Inclusive, em certas doenças, há alucinações e delírios, podendo, a pessoa chegar a ouvir, inclusive, vozes que podem perturbá-la ou mandar que façam coisas. Obviamente, não é mais possível fazer tais diagnósticos porque a jovem Fernanda Lages não está entre nós, mas há que se entender que há outras causas que não somente a depressão. Como se pode perceber há infinitamente mais convergências que pequenas divergências em relação ao laudo da PF.


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