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Piauí

Parque da Serra da Capivara ganha destaque na mídia nacional

A exploração é pela Serra da Capivara, um lugar de natureza exuberante e de muitos mistérios.

A simplicidade do cenário nordestino, mas com o status de patrimônio mundial. No Estado do Piauí, a maior riqueza do povo está na história.Aliás, na pré-história. No programa Terra da Gente acontece uma viagem diferente: a equipe se aprofunda nas marcas do tempo que podem significar respostas para muitos dos questionamentos humanos. Sinais que mostram como o homem e a natureza interagiam há milhares de anos.

A exploração é pela Serra da Capivara, um lugar de natureza exuberante e de muitos mistérios. Figuras humanas desenhadas nas pedras, provas que mudaram o rumo da história da colonização das Américas. As escavações que revelam utensílios e casas do homem pré-histórico, que de limitado não tinha nada. Das cavernas para o laboratório, o intenso trabalho para preservar essas descobertas tão surpreendentes. Até a forma de enterrar os mortos chama a atenção. No Museu do Homem Americano o visitante pode ver de perto crânios, esqueletos e outros vestígios da origem do povoamento no Brasil. E mais ainda: como a
pré-história muda a vida de famílias inteiras desta região brasileira.

O programa tem também a Hora do Rancho. A dica é de um arroz com carne
seca preparado de um jeito bem especial.

Imagem: André PessoaSerra da Capivara(Imagem:André Pessoa)Serra da Capivara

Riqueza que brota da rocha


Poderia ser apenas uma mancha vermelha na rocha. Mas o olhar atento revela um tesouro arqueológico: pinturas feitas há milhares de anos por homens que habitaram a Serra da Capivara. A arte rupestre está espalhada pelo parque em sítios que foram descobertos pela ciência na década de 1970. Tem figuras humanas com as mãos para o alto, como se estivessem em um ritual. Tudo permanece um mistério. São hipóteses para perguntas que talvez nunca sejam respondidas.

No Sítio do Boqueirão há figuras geométricas e feitas em cores cinza e branco. "A principal teoria que a gente defende aqui é que essas figuras fazem parte de um complexo sistema de comunicação. Então, sendo comunicação, a gente vai ter os signos e esses signos são
associados à linguagem. É muito provável que elas fossem usadas como os indígenas de hoje usam o chão, na areia, passando conhecimento de geração para geração. Eles deviam ter na areia mas também deviam deixar registrado", explica a arqueóloga Cristiane Buco.

Apesar de não ter todas as respostas, há uma certeza: as pinturas rupestres da Serra da Capivara estão entre as mais importantes do mundo. Atualmente 173 sítios arqueológicos estão abertos para a visitação. Mas, no total, são mais de mil áreas no parque repletas de
vestígios pré-históricos. Verdadeiros tesouros para os pesquisadores. Logo após a descoberta das primeiras pinturas, os arqueólogos viram que o chão da serra também tinha história para contar. Começou então uma série de escavações que revelaram um pouco desses homens pré-históricos e revolucionaram teorias do povoamento do continente
americano.

A primeira missão de pesquisa foi financiada pela França no fim da década de 1970. Amostras de carvão encontradas onde antes eram fogueiras indicaram a ocupação humana entre 6 e 8 mil anos atrás em um dos abrigos. Sondagens semelhantes em outros sítios forneceram
datações ainda mais antigas, de cerca de 10 mil anos. Nos anos 1980, carvões encontrados no Boqueirão da Pedra Furada foram datados em 25 mil anos. Até então, a teoria mais aceita, afirmava que as Américas foram povoadas a partir da Sibéria, por grupos que teriam atravessado o estreito de Bering e chegado até a costa pacífica da América do Norte por volta de 15 mil anos atrás e a partir dali teriam se espalhado até chegar ao Sul do continente.

Os resultados obtidos na Serra da Capivara chegaram a ser questionados por cientistas de várias partes do mundo. Mas as escavações no parque continuaram sendo feitas e novas descobertas confirmavam as anteriores. Desde então, o trabalho da Fundação Museu do Homem Americano, coordenado pela arqueóloga brasileira Niéde Guidon, nunca parou.

Agora os franceses estão de volta ao parque para refazer os estudos da década de setenta, dessa vez com técnicas mais modernas. O chefe da equipe é Henri Boëda, um dos cientistas mais renomados da área. A equipe do TG acompanhou um dia de trabalho do arqueólogo. E vê de perto a descoberta feita por um dos integrantes da missão: "Aqui encontramos uma estrutura. Uma lixeira ou mesmo um pequeno abrigo. É surpreendente a quantidade de vestígios que existe aqui. É de fato uma organização humana", comenta o arqueólogo.

O chefe da missão trabalha em outro sítio com o restante da equipe, que também tem integrantes brasileiros. Eles estão escavando uma casa pré-histórica. Na verdade, um abrigo que tem vestígios de antigos moradores que viveram ali entre 6 e 30 mil anos. Boëda explica que nesta missão eles utilizam as técnicas mais modernas de prospecção e
os resultados são extremamente confiáveis.

"Queremos compreender quem eram esses povos. Tentamos ver quais utensílios eles fabricavam, quais conhecimentos e técnicas utilizavam e como organizavam o habitat. É a história da América do Sul. Não apenas do Brasil mas de todo o continente", completa Boeda.

O arqueólogo completa dizendo que é preciso mudar a compreensão do homem pré-histórico. Repensar a imagem de pessoas ignorantes, que viviam como macacos. "Fazer o que eles faziam não é fácil. Para reproduzir estes instrumentos precisamos de pelos menos seis meses de aprendizagem", completa. "É preciso que o Piauí seja conhecido por esse trabalho. Eu conheço apenas dois ou três endereços mundo afora onde há algo assim", conclui.

Os estudantes brasileiros que trabalham com a equipe francesa sabem da importância do local e se orgulham de fazer parte da missão. "Boeda é o ‘cara’, para o nosso currículo é ótimo", afirma a estudante de arqueologia Ana Carolina Ferreira Borges. Na Serra da Capivara, o passado – antes escondido e enterrado – agora virou presente. E exposto para todo mundo ver, graças ao esforço de muita gente.

Museu do Homem Americano

Bem ao lado dos laboratórios fica um dos frutos mais importantes de todo o trabalho na Serra da Capivara. O Museu do Homem Americano reúne as principais descobertas feitas no parque desde o começo das pesquisas em 1973. Como o crânio Zuzu, que tem mais de dez mil anos de idade. O interessante é que ele tem uma aparência muito diferente daquela dos índios brasileiros modernos. Ele lembra os atuais povos africanos ou os nativos da Austrália. Seriam os primeiros imigrantes brasileiros?

Tem também o esqueleto de uma mulher que dormia quando um bloco de pedra a soterrou, há 9.800 anos. Uma das urnas expostas é de uma criança que viveu há 840 anos. Um mapa mundi sinaliza sítios arqueológicos ao redor do mundo. É a dispersão do homo sapiens. Um
telão exibe pinturas rupestres e o som ambiente é especial para levar o visitante a uma viagem ao passado. A modernidade está presente nas telas interativas. O museu conta ainda com vestígios líticos como pontas de flecha e várias pedras lascadas.

A presidente da Fundação Museu do Homem Americano, Niéde Guidon, revela que os planos para o Parque Nacional da Serra da Capivara são como ele próprio: grandiosos. "Vamos apresentar à Unesco um pedido para que a região seja declarada um geoparque, isso porque nós temos monumentos geológicos fantásticos, paisagens maravilhosas", declara Niéde.

Confira aqui o programa

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