Alinhado à ala ideológica do governo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho "zero três" do presidente Jair Bolsonaro, justifica as negociações de cargos na administração federal a partidos do Centrão pela necessidade de "diálogo". Segundo ele, há muitos postos ainda ocupados por pessoas indicadas na gestão de Dilma Rousseff (PT) e, por isso, precisam ser trocadas.
"O presidente não elege o Congresso, quem elege são as pessoas. E o presidente tem de ter algum tipo de diálogo com quem está ali. Foi feliz no diálogo que aprovou a reforma da Previdência e hoje em dia ele mantém diálogos", disse Eduardo, ao conversar com o Estadão/Broadcast durante a manifestação pró-governo em Brasília, neste domingo.
Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas políticas no ano passado, Bolsonaro passou nos últimos meses a distribuir cargos aos partidos do Centrão em troca de apoio no Congresso. O principal objetivo é barrar o avanço de um eventual pedido de impeachment na Câmara.
Nesta segunda-feira, o governo nomeou Marcelo Lopes da Ponte, ex-chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI), para comandar o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento de R$ 29, 4 bilhões neste ano. Bolsonaro também vai entregar o comando do Banco do Nordeste (BNB) para um nome indicado pelo PL, sigla liderada pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão. No lugar do atual presidente do banco, Romildo Rolim, assumirá Alexandre Borges Cabral, que já foi presidente da Casa da Moeda entre julho de 2016 e junho de 2019 por indicação de outra legenda do bloco, o PTB.
"A estrutura da União é gigantesca. Se você fosse o presidente teria mais do que 20, 30 nomes, pessoas competentes daquela área para botar diante de determinadas empresas públicas, estruturas do governo? É difícil", disse Eduardo Bolsonaro. "O que eu sei é que tem muita gente ainda que foi indicada desde os tempos de Dilma Rousseff e isso não está de acordo com a proposta vencedora de 2018. Você não pode ter pessoas em escalões inferiores trabalhando contra o governo e é preciso identificar e trocar essas pessoas, se puder."
A manifestação do domingo, que teve a participação de Bolsonaro, se concentrou em críticas ao Supremo Tribunal Federal e ao inquérito sobre fake news, que investiga deputados do PSL e também o "gabinete do ódio", instalado dentro da estrutura do gabinete do presidente da República, como revelou o Estadão em setembro do ano passado.
Manifestantes também exibiram faixas contra o projeto de lei a ser votado pelo Senado sobre fake news, de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). "Vou trabalhar contra. Tentar convencer os deputados para que votem de maneira contrária, falar com as pessoas, esclarecer sobre o que trata o projeto para que elas pressionem seus representantes", disse Eduardo Bolsonaro.
A proposta que prevê responsabilizar as empresas, não só os usuários, deve ser votado nesta terça-feira, 29, pelo Senado. A medida tem o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas enfrenta resistência das empresas e entre aliados do presidente, foco das investigações da Corte.
O filho do presidente disse acreditar que o Centrão poderá ajudar o governo a barrar a proposta. "Depende da convicção de cada deputado. Eu acredito que a maioria dos partidos vá deixar a bancada livre, não é uma pauta econômica", disse. "A gente não precisa de um censor, a internet tem de ser livre."
Para Eduardo Bolsonaro, o Estado não deve interferir nessa questão. "Será que eu não tenho intelecto suficiente para ter esse discernimento? Eu confio mais em alguns meios de comunicação, outras pessoas confiam mais em outros. Se for assim, quem tiver mais poder, vai silenciar todas a imprensa que for contra essa pessoa, fazendo com que se instale uma ditadura", disse.
O deputado afirmou também não temer as investigações sobre fake news. "Eu estou tranquilo, eu não cometi crime nenhum. Eu desafio qualquer pessoa a mostrar a fake news que eu tenha postado que influenciou a eleição de 2018."
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