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*Arthur Teixeira Júnior

Imagem: GP1Arthur Teixeira Júnior(Imagem:GP1)Arthur Teixeira Júnior

Meu irmão está “P” da vida com seu empregador.

Explico: após mais uma desastrosa administração que milagrosamente perdurou por longos dois anos, a Matriz resolveu substituir o presidente da filial da multinacional onde ele trabalha. Mandaram um Presidente Peruano, sob o argumento que tal fato iria consolidar o “caráter plurinacional da empresa, que não distingue seus colaboradores ou parceiros por credo, cor ou nacionalidade, mas sim pela competência e comprometimento com os objetivos da organização”.

O novo presidente chegou carregando em sua bagagem um eficaz arsenal corporativo, como doutorado em Cambridge, mestrado em Oxford, pós-doutorado em Seattle e mais uma batelada de títulos e comendas internacionais. Mas a principal arma que tinha era uma carta da Matriz, mais branca que bunda de freira, que lhe dava “plenipoderes” para executar todo e qualquer tipo de mudança organizacional.

Na reunião de apresentação, misturou uma série de termos como turnaround, briefing consultivo, globalização exponencial, marketing agressivo, participação global dos colaboradores, etc. Todos ficaram eufóricos. Inclusive meu irmão. Finalmente haveria mudanças nos escalões intermediários que por décadas enraizaram-se no poder daquela filial, ora tomando decisões totalmente contrárias aos objetivos da empresa, ora angariando fundos para seus próprios deleites.

Por dias, semanas e depois meses, todos os “essenciais colaboradores” ficaram aguardando as tão necessárias e esperadas mudanças. A única mudança anunciada, após semanas de angústias, foi a criação de um e-mail corporativo: “[email protected], que seria o canal direto entre todo o corpo funcional e o novo Presidente, coletando sugestões, elogios, criticas, denúncias e reclamações. Na verdade, era o reconhecimento tácito de que nada nos escalões inferiores funcionava e não havia qualquer canal aberto para nenhum diálogo.

Meu irmão foi um grande, talvez o maior, entusiasta da iniciativa, e no dia seguinte começou a sugerir, criticar, denunciar e mesmo elogiar, embora este último tópico fosse quase inexeqüível. Sua primeira sugestão foi a mudança no horário de atendimento aos clientes. Para sua surpresa, no dia seguinte seu e-mail foi respondido, pelo próprio Presidente Plenipotenciário: “Muito boa sua sugestão. Informo que a medida já esta sendo implantada, pois a mesma sugestão, coincidentemente, já havia sido enviada pelo Diretor Administrativo...”.

Intrigante... Meu irmão enviou sua sugestão no dia seguinte da implantação do novo canal de comunicação e, mesmo assim, alguém já havia enviado uma idéia igualzinha a sua ...

Ele não desanimou: “Sugiro a V.S. a criação de unidades móveis de atendimento da Assistência Técnica” e respondido: “Muito boa sugestão. Informo-lhe que esta implantação tem previsão para entrar em operação no próximo mês, devido a mesma proposta anteriormente apresentada pelo Diretor Administrativo ...”.

“Sugiro a criação de um Serviço Telefônico ‘0800’ para atendimento das reclamações ... Tendo como resposta: “Sua sugestão já esta em fase de operacionalização, graças a uma mesma sugestão anterior de nosso Diretor Administrativo...”.

Por fim, resolveu então, já desanimado pela sua falta de originalidade sempre superada pelo Diretor Administrativo, reclamar do funcionamento do refeitório: “Sugiro que o refeitório tenha todos seus lugares disponíveis a todos os escalões da Organização, pois não podemos ter espaço exclusivo a Diretores e Supervisores ...”. Não houve resposta nos próximos três dias.

Até que encontrou, no banheiro, Godofredo, assessor da Diretoria Administrativa: “Muito boa a sua sugestão de democratizar o espaço no refeitório...” foi logo tagarelando Godofredo enquanto chacoalhava o dito cujo.

“Mas, ..., explica aqui prá mim Godofredo: como você sabe desta minha sugestão?”
“Ora, é fácil: todas as mensagens enviadas para o endereço “fale com o presidente” vão primeiro para a Rogéria, do setor de “comunicações”, que imprime as mensagens em três vias e manda uma cópia para o Setor Financeiro, outra para o ‘RH” e uma para o Diretor Administrativo. Esta última passa antes por mim, que separo as pertinentes dos puxa-saquismos antes de tirar mais duas cópias: uma para o Diretor e outra para o arquivo ... Daí...”

Não precisou explicar mais nada. Meu irmão está procurando emprego.

Mudando de assunto: Hoje voltei de merecidas férias. Encontrei a empresa “em greve por tempo indeterminado”. Quando cheguei, o relógio de ponto estava bloqueado e com um aviso para que todos os fura-greve assinassem a respectiva folha manual de ponto. Mesmo assim entrei para trabalhar. No “Informativo Interno” havia a publicação da concessão de “licença saude” por trinta dias para nosso colega Netunino, Diretor do Sindicato e talvez o maior incentivador da greve contra o ‘arrocho salarial’, licença esta iniciando-se coincidentemente no dia em que começou a greve. Desejo rápida recuperação ao nosso líder, mas não tem greve que dê certo desta forma, tampouco sugestões originais daquela forma.

*Arthur Teixeira Júnior é colaborador

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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