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Colunista Jacinto Teles
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Crimes sexuais por padres e bispos da Igreja desafiam Papa Francisco


As denúncias de abuso sexual na Igreja Católica, cometidas por padres e até por autoridades superiores, como bispos e arcebispos, sobretudo as mais recentes, têm sido vistas pelo Mundo como o maior desafio imposto ao Papa Francisco após sua ascensão ao pontificado católico em 2013. A Conferência global, denominada de a cúpula sobre os abusos sexuais, iniciada nessa quinta-feira (21) no Vaticano, terminou ontem, domingo (24) e espera-se que deva ter resultados no mínimo efetivos acerca das denúncias de abusos sexuais cometidos por importantes membros da Igreja.

A imprensa internacional, dentre esta destaco o El País e a BBC Brasil, chamaram atenção para as palavras iniciais do Papa Francisco no início da conferência. Que diante de uma plateia de 190 líderes religiosos (entre presidentes de conferências episcopais, representantes de igrejas orientais, chefes de dicastérios e bispos sem dioceses), Francisco recordou o objetivo do encontro histórico. "Eu os convoquei para que juntos possamos ouvir o grito dos pequenos que pedem justiça".

  • Foto: Divulgação do VaticanoPapa Francisco em Audiência Geral de 20 de fevereiro/2019Papa Francisco conversa com freiras em Audiência Geral no Vaticano no último dia 20/02

"Nossos corações estão cobertos pelo peso da responsabilidade pastoral e eclesial que nos obriga a discutir em conjunto, de modo sinodal, sincero e profundo, como lidar com este mal que aflige a Igreja e a humanidade. O povo santo de Deus olha para nós e não espera só condenações simples e óbvias, mas todas as medidas concretas e eficazes que são necessárias. É preciso ser específico.”

Declaração objetiva e concreta do Papa Francisco, durante a conferência com os líderes religiosos nessa semana em Roma, sobre os episódios criminosos que atingem de cheio a Igreja contemporânea.

A reunião da cúpula da Igreja Católica, ocorreu após recente e inesperada admissão de que padres exploraram freiras como "escravas sexuais" em um convento na França.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Arcebispo Dom Sérgio da Rocha (1)Dom Sérgio da Rocha, quando Arcebispo de Teresina, hoje presidente da CNBB - esteve presente no Vaticano na Conferência Global

A BBC Brasil em sua edição de ontem (24), relembrou fatos, como o narrado por Jason Berry, um repórter no Estado de Louisiana, nos Estados Unidos, que começou a investigar a história de um padre abusador chamado Gilbert Gauthe, que não imaginou que seu trabalho daria início a um escândalo internacional, que segue ativo mais de 30 anos depois.

O trabalho de Berry acabou se transformando no livro Lead Us Not Into Temptation (Não nos deixe cair em tentação, em tradução livre para o português), baseado nas ações legais tomadas pela igreja contra múltiplas pessoas que fizeram acusações, no final dos anos 80.

Em 2002, o trabalho de Berry foi seguido por uma investigação do jornal americano Boston Globe. O diário revelou uma rede ainda mais extensa de abusos cometidos por padres e tentativas da igreja de acobertá-los. Os autores da série de reportagens ganharam o prestigioso Prêmio Pulitzer e o trabalho inspirou o filme Spotlight (vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2016).

O órgão de imprensa, BBC Internacional, citou outros casos de abusos sexuais cometidos por religiosos da Igreja Católica, que aqui citarei parcialmente para melhor ilustrar esse registro, e informa que seis das 8 dioceses católicas do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, foram alvo de escrutínio público no ano passado.

O procurador do Estado, Josh Shapiro, intimou e revisou meio milhão de documentos internos. Dezenas de testemunhas forneceram evidências e alguns clérigos se declararam culpados. O relatório feito por Shapiro, publicado em dezembro, foi devastador.

"Mais de mil crianças vítimas de abusos foram identificadas a partir dos próprios registros da igreja", escreveu Shapiro, com "acusações contra mais de 300 padres predadores".

Em outra diocese, um padre visitou uma menina de nove anos no hospital depois que ela havia passado por uma tonsilectomia (retirada das amígdalas) - e a estuprou. Em outro caso, um padre abusou de um menino de nove anos e depois enxaguou sua boca com água benta para "purificá-lo".

O relatório concluiu que pedófilos puderam abusar de crianças porque a igreja escondeu suas atividades ao transferi-los para outras paróquias e não relatar seus crimes para a polícia.

Acusações de estupro

Franco Mulakkal saiu da posição de reverendo na pequena cidade de Kerala, na Índia, para bispo no norte do país. Foi preso em setembro de 2018, após ser acusado por uma freira de tê-la visitado continuamente em um convento com o objetivo de estuprá-la. O bispo, que foi removido temporariamente de suas funções religiosas, negou todas as acusações, dizendo para a imprensa que as acusações eram "sem fundamento e inventadas".

Em uma carta escrita pela freira para suas superioras, ela afirmou que o primeiro estupro ocorreu em maio de 2014 e o último em setembro de 2016. Em janeiro, as freiras pediram que o governador de Kerala interviesse depois que representantes da igreja, segundo elas, ordenaram que as religiosas deixassem a região, em uma tentativa de acabar com o problema.

As freiras se queixam de que são exploradas porque, muitas vezes, dependem de padres e bispos para terem um lugar para morar. Assim, temem o abandono caso lutem contra clérigos abusivos.

Papa Francisco que já sabia dos desafios ao assumir o Pontificado pediu perdão pelos crimes da Igreja

Quando foi eleito, em março de 2013, Jorge Mario Bergolio, que passou a chamar-se por Francisco, o pontífice estava plenamente ciente do impacto dos escândalos de abusos cometidos por membros da Igreja. É fato público mundialmente que no curso de um ano, em julho de 2014, ele se encontrou com seis vítimas de três países - Irlanda, Grã-Bretanha e Alemanha. Em uma missa privada com as vítimas, o Papa explicitamente pediu-lhes perdão. Veja:

"Diante de Deus e seu povo, manifesto minha dor pelos pecados e graves crimes de abuso sexual que clérigos cometeram contra vocês", disse Francisco durante sua homilia, publicada posteriormente pelo Vaticano.

Minha opinião no contexto desse doloroso, lamentável e criminoso fato

Histórias de abuso sexual estão aparecendo em maior proporção de que em outras ocasiões em todas as regiões do mundo, principalmente após vir a público que freiras eram tratadas como “escravas sexuais” nas dependências e por membros da própria Igreja.

E o que é imensamente lamentável, é que a Igreja tem sido acusada de acobertar crimes cometidos por padres e até por bispos contra crianças, adolescentes e freiras, o que afeta de certa forma a autoridade moral de seu maior líder mundial que é o Papa Francisco, que, claramente tem demonstrado indignação com todas essas denúncias de crimes horríveis.

E não me venha dizer: [Nas igrejas evangélicas também têm muitos pastores pedófilos e praticantes de abusos sexuais...], infelizmente também é verdade, mas são tão bandidos quanto os padres, bispos e arcebispos que constituem parte da Igreja Católica que assim se comporta. E são tão criminosos igualmente àqueles e àquelas integrantes da Igreja que acobertaram e ainda acobertam tais práticas, e vivem em perfeita omissão.

Na minha ignorância de pecador, penso que esses delinquentes não receberão a misericórdia de Deus, por que estes fizeram compromissos com a Igreja, e sobretudo com Deus para agirem justamente ao contrário, ou seja, para agirem em defesa dos indefesos e serem misericordiosos com todos.

Não é por que em nossa Igreja (me refiro a nós católicos), temos infindáveis exemplos santíssimos, como os de D. Hélder Câmara, São Francisco, João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e mais recentemente D. Miguel Fenelon Câmara e o revolucionário Jorge Mario Bergólio, o ‘pobre’ Papa Francisco, como ele mesmo outrora assim já dissera, que devemos calar-nos ante à tão esdrúxula, criminosa e covarde ação de estupradores de crianças e freiras e outros cristãos indefesos, presentes desde o Vaticano à Diocese de João Pessoa (PB) ou de Teresina no Piauí.

O Papa Francisco, pobre de nome, entretanto, rico de ações cristãs, principalmente por não calar-se diante das injustiças, mesmo tendo que ver seu ‘próprio sangue derramar’ para assim ver também ‘feridas’ aos pouco serem cicatrizadas, mesmo que o “senão” jamais se acabe, terá a misericórdia de Deus para seguir em frente pela libertação da Igreja.

Sua marca, Bergólio, ficará indelével registrada na história da humanidade, que, mesmo fazendo sua obrigação, nenhum outro Chefe do Vaticano, por razões que não as conheço ainda, teve tão honrosa ação e coragem de enfrentar essa maldita incoerência e omissão da nossa Igreja Católica, por enquanto, com ênfase maior no que diz respeito aos crimes de corrupção e sexuais praticados por seus membros, alguns dos mais destacados na hierarquia religiosa vaticanista.

  • Foto: Divulgação do VaticanoPapa Francisco em Audiência Geral de 20 de fevereiro/2019Papa Francisco em Audiência Geral de 20 de fevereiro/2019 acolhe e abençoa criança durante ato do Pontífice

Vendo aqui em minha simples e já velha estante, busco na obra de Geraldo Luiz Borges Hackman, denominada de ‘A Amada Igreja de Jesus Cristo, Manual de Eclesiologia como Comunhão Orgânica’, o que mais me chama atenção especial nesse momento delicado por que passa a nossa Igreja, é o registro de um trecho da fala do Papa João Paulo II, que desenvolveu esse tema que vou citar a seguir, na Audiência Geral sobre “O Pai” em 16 de outubro de 1985, publicada em Madrid pela Ediciones Palabra, em 1996; o Santo Padre falando sobre a Misericórdia diz textualmente assim:

A Igreja deve professar e proclamar a misericórdia divina em toda a verdade, tal como nos é transmitida pela Revelação [...] A Igreja já vive uma vida autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo do Criador e Redentor, e quando aproxima os homens das Fontes da misericórdia do Salvador, das quais ela é a depositária e dispensadora. [...].

Portanto, devemos, ou seja, nós cristãos observarmos o que nos diz essa passagem bíblica em o Novo Testamento: “Sede Misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc. 6, 36). E o Papa Francisco arremata dizendo assim: “Onde há misericórdia, aí está presente o Espírito de Deus. Onde há rigidez, aí estão seus ministros”.

Mesmo que todos os padres, ou, aliás, todos os servos de Deus sejam pecadores, como na verdade somos, jamais justificará sermos criminosos, predadores ou pregadores da maldade, nem nós, tampouco eles (sacerdotes), que receberam a incumbência maior do projeto de evangelizador. Pois já tiveram seus encontros pessoal e vocacional com Cristo. E esses encontros com Jesus, penso, sem ser profundo conhecedor do sacerdócio, que consiste fundamentalmente em ser além de evangelizador no sentido amplo da própria palavra, ser principalmente alguém compromissado integralmente com a Misericórdia de Deus.

Penso ainda que melhor faria, todo e qualquer religioso, mas nesta matéria me refiro àquele pertencente à Igreja Católica, que se redima dos seus pecados e, sobretudo, assuma seus crimes, entreguem-se não somente à submissão das leis canônicas do Vaticano, mas às leis gerais positivadas no Direito Criminal, e em um gesto de necessidade entreguem as vestes da Igreja não honradas e se comprometam a receber as penas pelos crimes covardes praticados. E fiquem na Igreja, apenas aqueles, mesmo que poucos, mas que sejam possuidores de teorias e práticas de santidade e não somente de "compromissos" e de promessas vãs.

Que a sabedoria do Pai, do Filho e do Espírito Santo, esteja permanentemente, sobre as ações corajosas e santificadas do Papa Francisco e possa, enquanto dimensão trinitária da Igreja ser necessariamente uma ação de Deus, em defesa da evangelização e misericórdia do seu povo, principalmente do oprimido, enclausurado, inclusive naqueles conventos que foram e ainda são palcos das mais covardes e perversas torturas ‘psico-sexuais’.

Que as freiras possam ter o mínimo de autonomia e liberdade em suas ações e especialmente possuir de verdade a indisponibilidade do seu próprio corpo, explico: sendo vedado entregá-lo a outrem.

“Pai afasta de mim esse cálice....”

Essa é a minha opinião, salvo melhor juízo.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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