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Ler Fernando Pessoa é viajar num mundo atemporal. Suas idéias e definições parecem sempre calhar com o momento em que vivemos, basta nos despirmos um pouco das nossas certezas e hipocrisias, senão vejamos o poeta no Livro do Desassossego:

“Não tomando nada a sério, nem considerando que nos fosse dada, por certa, outra realidade que não as nossas sensações, nelas nos abrigamos, e a elas exploramos como a grandes países desconhecidos. E, se nos empregamos assiduamente, não só na contemplação estética mas também na expressão dos seus modos e resultados, é que a prosa ou o verso que escrevemos, destituídos de vontade de querer convencer o alheio entendimento ou mover a alheia vontade, é apenas como o falar alto de quem lê, feito para dar plena objetividade ao prazer subjetivo da leitura.”

Por certo, nessa toada confirmamos a tese de Belchior, em sua Divina Comédia Humana:
“Aí, um analista amigo meu
disse que desse jeito não vou ser feliz direito
porque o amor é uma coisa mais profunda
que um encontro casual (...)”

Habitantes que somos deste grande desconhecido de nós mesmos, às vezes, como diz Belchior, só nos resta estar:
“Deixando a profundidade de lado
eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia
fazendo tudo e de novo dizendo sim à paixão
morando na filosofia (...)
viver a divina comédia humana
onde nada é eterno.”

Ao final das contas, seremos sempre nós contra nós mesmos, e os nossos algozes são velhos conhecidos. Mas, como diria Ednardo, em Pavão Mysteriozo:
"(...) não temas minha donzela
nossa sorte nessa guerra,
eles são muitos
mas não podem voar."

Boa sorte a (nós) todos.

Londres (RU), 22 de fevereiro de 2009.

José Anastácio de Sousa Aguiar
 

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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