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Pretendo de quando em vez trazer aos leitores algumas indicações bibliográficas. Dou início com dois autores de correntes filosóficas diversas e separados por mais de 1000 anos no tempo: o Imperador e o Monge.

Marco Aurélio foi regente do Império Romano de 161 até sua morte em 180, e, em que pese, ser mais lembrado pela história por sua cultura e sucesso no comando do império, tendo sido considerado o último dos cinco bons imperadores, ele, para a filosofia, é lembrado por ter sido um ardoroso adepto do estoicismo e ter escrito o livro Meditações.

Por seu turno, Baltasar Gracián era monge espanhol, nascido no século XVII, e notabilizou-se por seu estilo de escrita sóbrio e conciso.

O que ambos tem em comum, em que pesem as grandes diferenças de estilo e pensamento, e que aqui destaco, é a preocupação com a ética e as relações humanas, tendo ambos criado verdadeiros manuais de regras do bem viver, senão vejamos trechos de suas obras.

"Que a tua faculdade soberana, que é dona da tua alma, seja inatingível aos movimentos da carne, tanto os suaves quanto os rudes. Que não se confunda a faculdade soberana com a carne, mas, em si mesma fechada, circunscreva aos membros aquelas impressões. (...)
Como podem almas grosseiras e ignorantes perturbar uma alma preparada e sábia? Qual alma é preparada e sábia? Aquela que conhece o princípio e o fim, a razão espalhada por todos os seres, que por toda a eternidade rege o Todo por meio de revoluções regulares. (...)
Eis a melhor maneira de se vingar: não se lhes assemelhar. (...)
Para o homem, a felicidade consiste em fazer o que lhe é natural. E o natural do homem é ser benevolente para com seus semelhantes, desdenhar da carência dos sentidos, discenir as ações que merecem crédito, contemplar a natureza do Todo e tudo que dela decorre. (...)
Combate o modo de viver pernicioso, repetindo a ti mesmo: ‘A partir de agora depende de mim expulsar de minha alma o vício, a ambição, em suma, tudo o que perturba, e, vendo as coisas realmente como são, delas me servir segundo o seu valor’. Jamais te esqueças desse poder que te é natural.” Meditações – Marco Aurélio

“Integridade e firmeza. Esteja sempre do lado da razão, e com tal firmeza de propósito, que nem a paixão comum, nem a violência tirânica o desviem dela. Mas onde encontrar essa fênix de equidade? Poucos se dedicam à integridade. Muitos a festejam, mas poucos a visitam. Alguns a seguem até que a situação se torne perigosa. Em perigo, os falsos a renegam, e os políticos astuciosamente a disfarçam. Ela não teme pôr de lado a amizade, poder e mesmo seu próprio bem, e é nessa hora que é repudiada. Os perspicazes elaboram sofismas sutis e falam de louváveis motivos superiores ou de razão de Estado, mas o homem realmente leal considera a dissimulação uma espécie de traição, orgulha-se mais de ser firme do que sagaz e se encontra sempre do lado da verdade. Se diverge dos outros, não é devido a algum capricho seu, mas porque os outros abandonaram a verdade.” A Arte da Sabedoria Mundana – Baltasar Gracián.

Boa sorte a (nós) todos.


Eusébio/CE, 24 de agosto de 2008.

José Anastácio de Sousa Aguiar
 

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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