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Temos normalmente a orgulhosa pretensão de crer que fazemos com nossas vidas o melhor que podemos. Trabalhamos arduamente para realizar sonhos materiais, que quando alcançados são imediatamente renovados para patamares bem mais gananciosos.

 Alguns chamam isso de capitalismo, outros de felicidade, outros de vida, outros nunca nem pensaram sobre o assunto, esquecendo estes últimos que estar tranqüilo, é estar mal informado. Jamais nos perguntamos - e nem gostamos que alguém questione - qual é a verdadeira importância do que fazemos? Para o que serve o que tão avidamente gastamos o nosso precioso tempo? É reclamação quase que unânime em nossa sociedade, a falta de tempo.

Todos temos o dia praticamente todo tomado por atividades que nem sempre sabemos ao certo para que servem. Esquecemos de nos perguntar para que serve o que estamos fazendo? O que realmente pretendemos com os simples - e complexos - atos que praticamos? Aonde chegaremos? E para que queremos chegar onde sonhamos? Será que vale a pena?

Sempre que iniciava uma nova turma de alunos para concursos públicos, uma das primeiras questões que colocava como fator motivador e ao mesmo tempo reflexivo era a seguinte. Eu afirmava que todos eles poderiam chegar onde bem desejassem, bastava estarem dispostos a pagar o preço.

Devo confessar que não sei bem a repercussão desse questionamento nos alunos, mas a minha intenção não era simplesmente motivar - com a primeira parte da assertiva, mas sim questioná-los - com a segunda parte, mostrando que o preço a ser pago por um objetivo ou meta pode ser caro demais.

Pude constatar com minha experiência em sala de aula, que muitos não tinham a menor vocação para desempenhar a função para a qual estavam estudando. Fatores outros, como bons salários, estabilidade, etc, influenciavam mais que a vocação. Não raro, ouvia de alunos que quando eles se aposentassem iriam fazer o que realmente gostavam.

Ora, alguém se dispor a começar a viver após 35 anos de um trabalho sem graça, normalmente ao atingir a casa dos 60 anos, é algo preocupante. Tendemos a criar uma infinidade de necessidades para nós mesmos, que por vezes, nos perdemos no verdadeiro significado das coisas e da vida.

Relativizamos os valores mais caros e supervalorizamos as questões de ordem secundária. Cabe aqui o alerta de Vitor Hugo (in Os Miseráveis): "De ordinário, as grandes asneiras são, como as cordas grossas, formadas por uma multidão de fios. Pegai na corda e desfiai-a, tomai separadamente todos os pequenos motivos determinantes, e direis, quebrando-os um a um: "Pois é só isso!" Entrançai-os, porém, e torcei-os todos, e ficar-vos-á uma enormidade."

Em outras palavras, nós mesmos criamos as nossas próprias amarras e depois normalmente temos o péssimo hábito de culpar qualquer um, menos a nós. Talvez, da próxima vez que formos dedicar o nosso precioso tempo a alguma atividade, possamos nos questionar: qual é realmente a importância disso para minha vida? Será realmente que eu preciso disso?

Por certo, teremos boas surpresas. Nesse contexto, destaco Epicuro (in Pensamentos): "Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois ninguém é jamais pouco maduro, nem demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz." Cumpre implementar o alerta final, se alguém conseguir realizar tudo o que foi dito acima, por favor, me ensine.

Boa sorte a (nós) todos.

Eusébio/CE, 14 de junho de 2008.

José Anastácio de Sousa Aguiar

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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