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Economia e Negócios

Analistas do mercado financeiro apostam em alta da Selic para 3,5%

Em sua última reunião, em março, o Copom fez o primeiro aumento da taxa desde 2015, para 2,75% ao ano.

O aumento da taxa Selic para 3,50% ao ano no Comitê de Política Monetária (Copom) de maio é aposta unânime no mercado financeiro. Todos os 68 participantes da pesquisa do Projeções Broadcast acreditam que o Banco Central vai anunciar nesta quarta-feira, 5, uma alta de 0,75 ponto porcentual dos juros básicos, como apontado na última reunião, em março. Naquele mês, o colegiado elevou a Selic para 2,75% ao ano, no primeiro aumento da taxa desde julho de 2015.

Assim, as atenções se voltam para o comunicado do Copom. As principais dúvidas são sobre uma eventual sinalização do movimento de junho e sobre a permanência ou não da expressão "ajuste parcial" no documento, uma vez que parte do mercado avalia que a normalização monetária deveria ser total em meio às elevadas taxas de inflação. Os membros do BC, por sua vez, tem argumentado que a normalização parcial não é "um compromisso" e que a visão pode ser alterada de acordo com a evolução dos dados.

A pesquisa do Projeções Broadcast ainda coletou estimativas para os juros básicos no fim de 2021 e 2022. No término deste ano, a maioria das estimativas é de que a Selic fique em 5,50%, mas o intervalo das projeções vai de 4,50% a 6,50%. O intervalo para o fim de 2022 vai de 4,50% a 8,00%.

Para maio, o Copom indicou no comunicado do último encontro que planejava promover um ajuste na taxa Selic da mesma magnitude do feito em março (0,75 ponto porcentual), a não ser que houvesse "uma mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos".

Com essa frase em mente, a conclusão do mercado é a de que o BC deve seguir o plano de voo, porque o cenário de inflação não sofreu grandes alterações e, após uma discussão conturbada do Orçamento de 2021, o arcabouço fiscal foi mantido, embora mais frágil.

Em relação à atividade econômica, os dados até fevereiro surpreenderam positivamente, mas a incerteza à frente é ainda muito elevada, tanto em relação a março, com o aumento de restrições, quanto para o restante do ano em meio ao ritmo lento de vacinação. O cenário internacional seguiu sem significativas atualizações, considerando que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) reforçou que a retirada de estímulos ainda está distante.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho para América Latina, Luciano Rostagno, o cenário da inflação pouco se alterou em relação à última reunião do Copom, o que sustenta a projeção de Selic a 3,50% e a manutenção da sinalização de ajuste parcial. Ele também cita a acomodação das taxas dos juros longos americanos como fator que contribuiu para as perspectivas.

“Os dados estão mostrando arrefecimento das pressões inflacionárias, com alimentos mais comportados e choque de preço de combustíveis perdendo força. A atividade em março deve ter números com impacto significativo das medidas de distanciamento social, mas a diminuição recente de novos casos do coronavírus ajuda a diminuir o risco fiscal”, explica.

De acordo com Rostagno, a melhora nas condições financeiras do País e a inflação em um patamar condizente com a meta podem levar o BC a reduzir o ritmo de alta de juros para junho, de 0,75 para 0,50 ponto porcentual. “O BC talvez não se comprometa com os próximos passos, como fez da última vez. Mas o cenário base ainda é que volte a elevar a Selic em 0,75 ponto na reunião de junho.”

O estrategista do Mizuho reconhece o risco de estimativas acima da meta para o IPCA (a inflação oficial do País) de 2022, mas ainda acha cedo para uma alteração do ajuste parcial, com Selic estimada em 5,50% para o fim de 2021. “Não há necessidade de abandonar esse plano de voo. Vai depender de como o cenário evolui para tomar uma decisão, e essa decisão só deve vir no último trimestre”, afirma.

O economista Julio Cesar Barros, da MAG Investimentos, lembra que o modelo do Copom em março apontava para uma inflação de 3,50% em 2022, no centro da meta, considerando o câmbio a R$ 5,70% e Selic de 4,50% no fim deste ano, conforme apontava o relatório Focus à época. Agora, com o dólar próximo de R$ 5,40 e juro a 5,50% na Focus, a tendência é de redução ou ao menos manutenção da projeção para a inflação no ano que vem.

Barros também cita a resolução "aceitável" do Orçamento, a renovada sinalização de manutenção do estímulos nos EUA e as dúvidas sobre a retomada da atividade econômica em meio à pandemia de covid-19 e a lenta vacinação como fatores para o BC não só confirmar a alta de 0,75 ponto em março, mas também repetir no comunicado o "desejo de não caminhar para o juro neutro", apesar do avanço da expectativa de inflação de 2022, de 3,50% para 3,60% na Focus.

"O BC não deve tirar neste momento a indicação de normalização parcial. Se mudar o cenário, o BC tem comunicado claramente que vai fazer mais, se precisar", diz.

Em eventos no início de abril, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, afirmou que não há "compromisso" com o ajuste parcial, mas que essa é visão do Copom hoje, o que pode mudar com a evolução dos dados econômicos.

Para o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, o BC deve deixar a sinalização de normalização parcial, mas explicar melhor que não está comprometido com esse movimento. Contudo, Weeks acredita que o comunicado já deve sinalizar outro aumento de 0,75 ponto em junho. Por isso, recentemente ele alterou a projeção de fim de ano de 6,00% para 6,25%.

"O BC tinha duas preocupações na última reunião: fiscal, um risco altista, e atividade, de baixa, por causa da segunda onda de covid-19. O que está ficando claro é que o risco da pandemia para a atividade diminuiu, com a restrições gerando uma queda menor do que se esperava. Nós, por exemplo, estamos revisando o PIB de volta para 4,0% (de 3,50%). Então segue o risco fiscal, que continua relativamente alto. Por isso, acho que faz sentido continuar com um ajuste rápido no início do ciclo, assim como fez em março."

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