Uma revisão de 1.627 estudos envolvendo 1,8 milhão de pessoas de 121 países confirmou uma suspeita sugerida há anos na psicologia social: os conservadores são mais felizes. Realizada por um grupo de psicólogos, a metanálise revelou um novo resultado surpreendente: o status social elevado não é a razão pela qual uma pessoa conservadora tende a ser mais feliz, pois o mesmo efeito é observado entre indivíduos de status mais baixo.

Em geral, a relação entre o conservadorismo, chamado pelos autores de "ideologias que apoiam o status quo", e o bem-estar psicológico foi baixa, porém significativa. Isso significa que ser conservador aumenta levemente a chance de bem-estar, e esse efeito é observado com tamanha consistência que é extremamente improvável (chance menor do que uma em mil) que o resultado seja fruto do acaso.

Anteriormente, quando resultados semelhantes foram observados, alguns pesquisadores propuseram a hipótese da justificação do sistema mediada pela estratificação social para explicá-los. A visão até então era de que se uma pessoa não considera a sociedade injusta, é porque é rica e se beneficia do status quo. No entanto, a metanálise derruba essa ideia ao mostrar que tanto conservadores ricos quanto pobres têm satisfação com a vida e felicidade independentemente de sua conta bancária, e não foram observadas diferenças entre os sexos.

Detalhando os resultados, entre os quase dois milhões de participantes, houve uma proporção maior de pessoas de países ocidentais, o que era esperado devido às diferenças na produção acadêmica entre os países. Esses países apresentaram uma relação ligeiramente maior entre bem-estar mental e conservadorismo, mas a relação ainda foi positiva no restante do mundo.

Outro viés presente em estudos de psicologia é a prevalência de estudantes de graduação entre os participantes. Os autores levaram isso em consideração e concluíram que o efeito é maior nos graduandos do que nos não graduandos. Entre os não estudantes, a relação é basicamente a mesma do resultado geral. Já entre os estudantes, a conexão entre felicidade e tradicionalismo é moderada, ou seja, maior do que a média geral.

Quando a ideologia com a qual os participantes concordavam sugere diretamente que existe justiça e legitimidade na organização social, a relação com o bem-estar psicológico é ampliada, tornando-se moderada em comparação ao efeito geral baixo, mas positivo. Isso significa que o conservadorismo está mais fortemente ligado à satisfação subjetiva quando as pessoas acreditam que a sociedade é justa.

A revisão descartou a possibilidade de que os pesquisadores dos mais de mil estudos tenham publicado apenas confirmações de suas hipóteses, visando aumentar a confiabilidade dos resultados.

Os psicólogos Salvador Vargas Salfate, Julia Spielmann e D. A. Briley, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, são os autores desta revisão. Embora ainda não tenha sido submetido a uma revista científica.