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Inflação no Reino Unido tem alta histórica e agrava crise do Brexit

Pressionado pela escassez e crise, primeiro-ministro Boris Johnson promove mudanças no gabinete.

Vendo escassez de produtos nos supermercados e frutas e verduras apodrecendo nos campos, os britânicos convivem agora uma alta histórica da inflação para agravar a crise provocada pelo Brexit e pela covid-19. Dados oficiais divulgados na quarta-feira, 15, mostraram que a inflação no Reino Unido subiu, em agosto, para 3,2%, a maior alta em nove anos e um salto de 1,2 ponto porcentual desde julho.

Economistas e analistas explicam que a inflação foi puxada pela alta dos preços de alimentos, hotéis e transportes. O Escritório de Estatísticas Nacionais diz que esse salto no custo de vida, provavelmente, será temporário, porque os preços dos alimentos em agosto foram artificialmente mais baixos graças aos créditos distribuídos pelo governo.

No entanto, essa visão não é unânime. De acordo com o jornal The Guardian, citando economistas, a inflação pode permanecer alta por causa da pressão nas redes de abastecimento. O Reino Unido atravessa a pior crise de oferta em mais de meio século. A combinação de pandemia e novas regras de imigração – após o Brexit – deixou setores-chave sofrendo de escassez de mão de obra, especialmente no transporte rodoviário. Frutas e verduras estão apodrecendo nos campos por falta de trabalhadores para a colheita.

Os economistas também consideram que a variante Delta do coronavírus e as contínuas restrições à pandemia permanecem como uma ameaça. O Partido Trabalhista e os sindicatos advertiram que as famílias devem ainda enfrentar um golpe duplo nos próximos meses, à medida que o custo de vida aumenta.

Segundo eles, o governo elevará os impostos e está preparando para fazer um corte nos benefícios sociais. “A última coisa que as famílias trabalhadoras precisam agora é outra crise de padrão de vida”, disse Frances O’Grady, secretária-geral do Trades Union Congress (TUC), a central nacional dos sindicatos.

“A inflação recorde é um sinal do que está por vir”, disse Yael Selfin, economista da KPMG, em entrevista ao London Evening Standard. “Embora a inflação possa diminuir ligeiramente em setembro, espera-se que permaneça elevada e possa subir ainda mais nos meses subsequentes. Dificuldades de recrutamento, pressões de custo para negócios, problemas de cadeia de suprimentos e mudanças estruturais pós-covid estão apontando para uma inflação mais alta pelo menos até o fim deste ano.”

Embora os economistas afirmem que o salto de 1,2 ponto porcentual seja pontual, o Banco da Inglaterra já previu que a inflação pode chegar a 4% até o fim do ano. Na terça-feira, em meio à crescente pressão, o Reino Unido decidiu adiar a aplicação progressiva de novos controles sobre as importações de bens da União Europeia até o próximo ano.

Após a saída do país do mercado único europeu, em 1.º de janeiro, novas regras deveriam ser introduzidas para a importação de produtos de origem animal do bloco a partir do próximo mês. Mas isso será adiado até 1.º de janeiro de 2022, para que as empresas tenham mais tempo para se ajustar em um período especialmente complexo quando começam a adquirir estoque para as festas de Natal.

Mudanças no gabinete

Para tentar conter a crise, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, rebaixou ontem seu chanceler e demitiu seu ministro da Educação em uma grande mudança de gabinete. Com a iniciativa, Johnson tenta superar uma série de erros políticos e reavivar sua promessa de “aumentar o nível” de prosperidade econômica do Reino Unido.

Na mudança mais marcante, Johnson destituiu o secretário de Relações Exteriores, Dominic Raab, que enfrentou críticas por sua demora em retornar de um feriado na Grécia quando o Taleban assumiu o controle do Afeganistão no mês passado. Raab passará a ser secretário da Justiça, com o título adicional de vice-primeiro-ministro. Apesar da honraria, a alteração significa um rebaixamento – o vice não tem um papel constitucional formal.

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