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EUA vão consultar aliados após formação do governo Talibã

EUA pretende aumentar a pressão para que o Talibã cumpra o compromisso de permitir a saída dos afegãos.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, consultará na Alemanha os aliados de Washington sobre a situação no Afeganistão após o anúncio do novo governo Talibã.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos saiu do Catar, onde visitou o principal centro de trânsito de refugiados afegãos, com destino ao país europeu, onde visitará a base aérea americana de Ramstein, por onde passam milhares de pessoas que deixaram o Afeganistão.

Em Ramstein, Blinken se reunirá com o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, antes de um encontro virtual com os ministros de 20 países sobre a situação no Afeganistão.

O governo dos Estados Unidos quer aumentar a pressão internacional para que o Talibã cumpra o compromisso de permitir a saída dos afegãos que desejam abandonar o país.

As conversações podem servir para coordenar uma resposta ao governo interino anunciado na terça-feira, 7, formado por integrantes “linha dura” do Taleban, incluindo um ministro do Interior procurado por Washington por terrorismo. Nenhuma mulher foi nomeada.

Washington expressou preocupação com a formação do governo, mas destacou que o julgará por suas ações. As potências mundiais disseram ao grupo que a chave para a paz e o desenvolvimento é um governo inclusivo que apoie as suas promessas de uma abordagem mais conciliadora, defendendo os direitos humanos, após um período anterior de 1996-2001 no poder marcado por vinganças sangrentas e opressão às mulheres.

Aliados dos Estados Unidos criticaram a forma como o presidente Joe Biden concluiu a guerra de 20 anos no Afeganistão, que resultou na queda do governo apoiado pelas potências ocidentais.

Armin Laschet, candidato governista a suceder a chanceler alemã, Angela Merkel, chamou a missão no Afeganistão de “o maior fiasco” na história da Otan.

Blinken afirmou que Washington trabalhará com seus aliados para exercer pressão diplomática e econômica no Afeganistão após a retirada das tropas.

Em 2019, doadores estrangeiros liderados pelos Estados Unidos contribuíram com 75% dos gastos públicos do Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo.

Governo formado

Os taleban deixaram seus altos escalões internos para ocupar os cargos de topo no novo governo do Afeganistão.

O líder supremo taleban, Haibatullah Akhundzada, na sua primeira declaração pública desde a tomada de Cabul, afirmou que o grupo está comprometido com todas as leis, tratados e compromissos internacionais que não entrem em conflito com a lei islâmica.

"No futuro, todas as questões de governação e vida no Afeganistão serão reguladas pelas leis da Santa Sharia", disse ele numa declaração, na qual também felicitou os afegãos por aquilo a que chamou de “libertação do país do domínio estrangeiro”.

Os nomes anunciados para o novo governo, três semanas após a vitória militar do Taleban, quando as forças estrangeiras lideradas pelos EUA se retiraram e o fraco governo apoiado pelo Ocidente entrou em colapso, não deram qualquer sinal de um ramo de oliveira aos seus opositores.

Os Estados Unidos disseram estar preocupados com os antecedentes de alguns membros do Gabinete e notaram que nenhuma mulher foi incluída. "O mundo está acompanhando de perto”, disse um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

Os afegãos, que se beneficiaram de grandes progressos na educação e liberdades civis durante os 20 anos do governo apoiado pelos EUA, continuam receosos das intenções dos taleban e os protestos diários continuam desde a tomada do poder pelos Taleban, desafiando os novos governantes.

Os taleban pediram que os afegãos sejam pacientes e juraram ser mais tolerantes desta vez — um compromisso que muitos afegãos e potências estrangeiras vão levar em conta como condição para ajuda e investimento desesperadamente necessários no Afeganistão.

Legado

Mullah Hasan Akhund, nomeado primeiro-ministro — como muitos na liderança do Taleban —, goza de seu prestígio pela estreita ligação com o fundador recluso do movimento, Mullah Omar, que presidiu ao seu governo há duas décadas.

Akhund é chefe de longa data do poderoso órgão de tomada de decisões do Taleban, Rehbari Shura, ou conselho de liderança. Ele foi ministro das Relações Exteriores e, em seguida, vice-primeiro-ministro quando o Taleban esteve no poder pela última vez e, como muitos do próximo gabinete, está sob sanções da ONU por seu papel naquele governo.

Sirajuddin Haqqani, o novo ministro do Interior, é filho do fundador da rede Haqqani, classificada como grupo terrorista por Washington. Ele é um dos homens mais procurados pelo FBI devido ao seu envolvimento em ataques suicidas e ligações com a Al-Qaeda.

O mulá Abdul Ghani Baradar, chefe do gabinete político do movimento, foi nomeado vice de Akhund, disse o principal porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, em entrevista coletiva em Cabul.

A passagem de Baradar para o cargo mais importante do governo foi uma surpresa para alguns, já que ele havia sido responsável por negociar a retirada dos EUA em negociações no Catar e por apresentar a nova cara do Taleban ao mundo.

Anteriormente, Baradar foi comandante sênior do Taleban na longa insurgência contra as forças dos EUA. Ele foi detido e encarcerado no Paquistão em 2010, tornando-se chefe do escritório político do Taleban em Doha após sua libertação em 2018.

O mulá Mohammad Yaqoob, filho do mulá Omar, foi nomeado ministro da Defesa. Todas as nomeações foram para atuação, disse Mujahid.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse a repórteres que tão cedo não haveria reconhecimento do governo do Taleban.

Colapso econômico

O porta-voz Mujahid, falando contra um cenário de colapso dos serviços públicos e colapso econômico no meio do caos da tumultuosa retirada estrangeira, disse que tinha sido formado um gabinete de representação para responder às necessidades primárias do povo afegão.

Ele disse que alguns ministérios ainda precisam ser preenchidos enquanto se aguarda a busca por pessoas qualificadas.

As Nações Unidas disseram na terça-feira que os serviços básicos estavam se deteriorando no Afeganistão e que a comida estava prestes a acabar. Mais de meio milhão de pessoas foram deslocadas internamente no Afeganistão este ano.

Uma conferência internacional de doadores está agendada para 13 de setembro em Genebra. As potências ocidentais dizem estar dispostas a enviar ajuda humanitária, mas que um envolvimento econômico mais amplo depende da forma e das ações do governo talibã.

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