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EUA condenam deportações forçadas pela Rússia de civis de Mariupol

Ucrânia acusa a Rússia de obrigar civis a cruzarem a fronteira para a realização de trabalhos forçados.

Relatos de que milhares de moradores da cidade portuária sitiada de Mariupol, na Ucrânia, foram deportados à força para a Rússia são “perturbadores” e “inconcebíveis” se verdadeiros, disse a embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, neste domingo, 20.

Falando no programa “Estado da União” da CNN, Thomas-Greenfield disse que os Estados Unidos ainda não confirmaram as alegações feitas no sábado pelo conselho da cidade de Mariupol por meio de seu canal Telegram.

“Eu só ouvi. Não posso confirmar”, disse ela. “Mas posso dizer que é perturbador. É inconcebível para a Rússia forçar cidadãos ucranianos a entrar na Rússia e colocá-los no que basicamente serão campos de concentração e de prisioneiros.”

No último sábado, 19, Pyotr Andriuschenko, assistente do prefeito de Mariupol, acusou as forças russas de levaram entre 4.000 e 4.500 moradores a força pela fronteira russo em direção a Taganrog. Seu temor, disse, era que esses civis estivessem sendo levados para a realização de trabalhos forçados. As acusações não puderam ser confirmados por veículos de mídia independentes.

No entanto, neste domingo, a porta-voz de direitos humanos da Ucrânia, Lyudmyla Denisova, repetiu as afirmações. “Nos últimos dias, vários milhares de moradores de Mariupol foram deportados para a Rússia”, escreveu Denisova em seu canal no Telegram. Segundo ela, a maioria desses cidadãos estavam abrigados no ginásio de esportes da cidade durante os intensos bombardeios quando foram levados.

“Sabe-se que os moradores de Mariupol capturados foram levados para campos de triagem, onde os ocupantes checaram os telefones e documentos das pessoas. Após a inspeção, alguns moradores de Mariupol foram transportados para Taganrog e de lá enviados de trem para várias cidades economicamente deprimidas na Rússia.”

Segundo ela, os cidadãos ucranianos receberam “papéis emitidos que exigem que eles estejam em uma determinada cidade. Eles não têm o direito sair de lá por pelo menos dois anos, com a obrigação de trabalhar no local de trabalho especificado. O destino dos outros permanece desconhecido.”

A mídia estatal russa fala em “refugiados” chegando à Rússia desde Mariupol, mas Denisova chamou a ação de “sequestro” e lembrou que “o rapto e o deslocamento forçado dos territórios ocupados constituem uma violação grave dos artigos 3º e 34º da Convenção de Genebra, além do artigo 9º do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e do artigo 5º do Convenção Europeia dos Direitos Humanos.”

“Apelo à comunidade mundial e aos parceiros internacionais para que respondam a este fato e aproveitem todas as oportunidades para aumentar as sanções contra o estado terrorista da Federação Russa para a libertação de cidadãos ucranianos e a retirada de tropas terroristas de toda a Ucrânia”, finaliza.

Moradores relatam deportações

Moradores de Mariupol disseram ter ouvido de amigos e vizinhos que afirmaram terem sido levados através da fronteira sem o seu consentimento. Eduard Zarubin, um médico que deixou a cidade na quarta-feira, disse que entrou em contato com três famílias que foram levadas à força para Taganrog por soldados russos.

“Agora os russos estão andando pelos porões, e se ainda houver pessoas lá, eles os levam à força para Taganrog”, disse Zarubin, 50 anos. Em um caso, ele disse, toda a família de um de seus amigos foi levada, assim como a família do irmão de seu amigo.

Em outro caso, um ex-colega de classe de seu filho de 22 anos relatou que tropas russas entraram no porão da família, atiraram para o ar para assustá-los e mandaram apenas os homens saírem, disse Zarubin.

O amigo de Zarubin entrou em contato com ele por telefone na manhã de sexta-feira para explicar que eles haviam sido levados. Zarubin disse que não conseguiu contatar seus amigos posteriormente, embora tenha notado que um deles enviou uma mensagem dizendo que não tinha permissão para retornar à Ucrânia.

Mariupol sitiada

A Rússia lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia em 24 de fevereiro, iniciando um conflito que resultou em mais de 900 mortes de civis e quase 1.500 feridos, segundo o escritório de direitos humanos da ONU.

Mariupol, uma importante conexão com o Mar Negro, tem sido um alvo desde o início da guerra, que o presidente russo, Vladimir Putin, chama de “operação militar especial” para desmilitarizar e “desnazificar” a Ucrânia. A Ucrânia e o Ocidente dizem que Putin lançou uma guerra de agressão não provocada.

Muitos dos 400.000 moradores de Mariupol estão presos há mais de duas semanas enquanto a Rússia tenta assumir o controle da cidade, o que ajudaria a garantir um corredor terrestre para a península da Crimeia que Moscou anexou da Ucrânia em 2014.

Uma escola de artes que servia como abrigo para cerca de 400 pessoas na cidade foi bombardeada por forças russas, informaram autoridades ucranianas neste domingo.

De acordo com o conselho municipal de Mariupol, mulheres, crianças e idosos se refugiavam dentro da Escola de Arte nº 12, em um distrito no leste de Mariupol, no sábado, quando o prédio foi destruído pelos disparos russos. Não houve informações sobre vítimas, mas civis estariam sob os escombros.

Na quarta-feira, 16, um teatro que servia de abrigo para mais de mil pessoas em Mariupol também foi bombardeado por forças russas, apesar de alertas no local sobre a presença de crianças. No sábado, operações de resgate continuavam a tentar retirar sobreviventes dos escombros, mas o trabalho era dificultado pelos frequentes combates nas ruas da cidade e pelos bombardeios.

Mais cedo, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, disse que o cerco em Mariupol entraria para a história por “crimes de guerra cometidos pelas tropas russas”.

“Fazer isso com uma cidade pacífica… o que os ocupantes fizeram é um terror que será lembrado por séculos”, afirmou em vídeo à nação.

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