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Europa passa a considerar gás e fissão nuclear como ‘energias verdes’

Apoiadores argumentam que as duas fontes são necessárias para possibilitar transição energética.

Os eurodeputados aprovaram nesta quarta-feira, 6, um avanço no plano para classificar parte da eletricidade gerada por reatores atômicos e gás natural como energia renovável, uma decisão observada atentamente e capaz de forjar a política ambiental por vários anos.

Destinado a orientar investimento em projetos seguindo o objetivo do bloco europeu de conquistar a neutralidade climática até 2050, o plano conhecido como “taxonomia da UE” está em discussão.

Em fevereiro, semanas antes da invasão russa na Ucrânia, o braço executivo da UE apresentou um plano para classificar parte da geração de eletricidade a partir de gás natural e reatores nucleares como investimentos verdes “transicionais” sob certas circunstâncias, o que desencadeou uma reação furiosa.

Cinco meses depois, enquanto a Rússia utiliza o gás natural como arma e a crise global de energia se intensifica, os legisladores do Parlamento Europeu rejeitaram uma objeção à proposta por 328 votos a favor e 278 contra.

Aqueles que apoiam incluir gás e energia nuclear no campo da energia verde argumentam que essas fontes de eletricidade são necessárias para a transição às fontes renováveis, especialmente tendo em conta o impacto da guerra sobre os preços da energia.

Os críticos não estão convencidos. Houve vaias quando o resultado da votação foi anunciado no Parlamento em Estrasburgo, França. Um comunicado à imprensa do grupo de defesa ambiental Greenpeace qualificou o plano como uma “política suja”, que “manterá mais dinheiro enchendo o cofre de guerra de Putin”.

A questão no centro do debate é se geradores de eletricidade movidos a gás e usinas nucleares podem, sob alguma circunstância, serem considerados fontes sustentáveis ou verdes.

Antes da guerra, a inclusão do gás nessa classificação teve apoio de Estados-membros que qualificavam o insumo como uma “ponte” necessária para países se livrarem dos combustíveis fósseis enquanto aumentam sua capacidade de geração de eletricidade a partir de fontes renováveis. A França e outras nações do bloco pressionaram pela inclusão da energia atômica na classificação, apesar da forte oposição da Alemanha.

O plano enfrenta oposição não apenas de ambientalistas, mas também de alguns conselheiros da UE e até do diretor-executivo de um grupo que representa investidores de peso. Críticos afirmam que o esforço da Comissão Europeia de “proteger investidores privados de lavagem verde (greenwashing)” arrisca aumentar esse tipo de maquiagem numa escala ainda maior.

Aqueles que se opõem à inclusão do gás na taxonomia verde expressam preocupação sobre a possibilidade dessa classificação incentivar investimentos em combustíveis fósseis e atrasar a transição da UE para as fontes renováveis. Também há preocupações a respeito da medida se tornar um marco, ocasionando diretrizes similares em outras regiões.

A guerra da Rússia na Ucrânia acrescentou novas reviravoltas ao debate. De muitas maneiras, fez a Europa repensar sua dependência em relação à Rússia, particularmente quando se trata de combustíveis fósseis dos russos, e amplificou chamados pela aceleração da transição energética.

A UE concordou em acabar gradualmente com suas importações de carvão e petróleo da Rússia para atingir o cofre de guerra do Kremlin. Mas o bloco continua dependente do gás russo — o que não passa despercebido por Putin, que tem usado esse poder de barganha para ameaças e punições.

“Isso atrasará a verdadeira — e urgentemente necessária — transição para as fontes sustentáveis de energia e aprofundará nossa dependência em relação aos combustíveis russos”, tuitou a ativista ambiental Greta Thunberg nesta quarta-feira. “A hipocrisia é chocante, mas infelizmente não surpreende.”

Defensores do plano argumentam que a guerra sublinhou a necessidade do imediato investimento em infraestrutura necessário para importar gás de outros países. Eles esperam que as novas regras fomentem um aumento no investimento em infraestruturas como novos gasodutos e terminais para importação de gás natural liquefeito.

“A ‘Transição Energética Imaculada’ não existe”, tuitou o eurodeputado espanhol Luis Garicano nesta quarta-feira. “Uma transição sensata requer mais do que apenas as fontes renováveis.”

Com o preço do gás nas alturas, a guerra na Ucrânia também intensificou o interesse em toda a Europa em construir novas usinas nucleares ou prolongar a vida de centrais atômicas já existentes.

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