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Política

Aliados de Flávio citados em ‘vazamento’ na PF tiveram sigilos quebrados

Braga Grillo, atual chefe de gabinete do senador, Victor Alves e Valdenice Meliga, que Paulo Marinho diz terem recebido alerta de 'delegado simpatizante' sobre operação.

Os três nomes citados pelo suplente de senador Paulo Marinho como pessoas ligadas ao clã Bolsonaro, que teriam participação no suposto vazamento de informação sigilosa sobre operação da Polícia Federal que atingiria o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos/RJ) e assessores, entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2018, eram investigados desde o início do ano pelo Ministério Público Estadual, no esquema de “rachadinha” – quando os assessores têm que devolver parte dos salários recebidos -, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Miguel Ângelo Braga Grillo, Victor Granado Alves e Valdenice de Oliveira Meliga estão entre os 103 investigados no esquema de “rachadinha” que tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados pela Justiça do Rio, em 2019. São apurados crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete do filho Zero Um do presidente da República, Jair Bolsonaro, quando ele ocupava cadeira na Alerj.

O senador tentou suspender as apurações, na época, mas o ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, ao negar o pedideo pontuou que as decisões foram ‘devidamente fundamentadas’, ‘no amparo em fortes indícios de materialidade e autoria de crimes.

Grillo é atual chefe de gabinete de Flávio no Senado, Alves é advogado e tem relações com o senador, Valdenice é assessora política. Victor Alves aparece ainda no relatório de inteligência financeira, do antigo Coaf (atual Unidade de Inteligência Financeira), que colocou José Carlos Fabrício de Queiroz no radar das autoridades. Junto com o ex-chefe de gabinete de Flávio que virou alvo central da apuração, os três nomes citados por Marinho são pessoas de confiança do clã Bolsonaro.

O alerta narrado por Marinho ao jornal Folha de S. Paulo foi supostamente vazado por um “delegado simpatizante” da PF, sobre a deflagração da Operação Furna da Onça – de 11 de novembro de 2018 -, que apurou um “mensalinho” pago a deputados estaduais, no governo Sérgio Cabral, e atingiria Flávio e gente ligada a ele.

A informação resultou nas demissões de Queiroz, do gabinete de Flávio, e da filha dele, Nathalia de Mello Queiroz, do gabinete de Jair Bolsonaro, na Câmara dos Deputados, a seu pedido. O Ministério Público Federal anunciou nesta segunda, 18, que vai investigar a suspeita de vazamento de informações da Furna da Onça, e suposta interferência em sua deflagração.

Grillo é militar reformado e homem de confiança da família. Marinho atuou na campanha presidencial, rompeu com a família Bolsonaro, junto com o ex-ministro Gustavo Bebianno (que morreu, em março), e é pré-candidato à Prefeitura do Rio pelo PSDB. Ele contou que Flávio contado sobre uma reunião com o delegado informante, em que o assessor teria sido avisado sobre a Furna da Onça e os riscos para a família. Além de Grillo, estariam juntos e poderiam confirmar o encontro Victor Alves e Valdenice.

Via defesa, Fláviou negou que tenha sido informado sobre a Furna da Onça. O advogado Frederick Wassef, que defende o senador no caso Queiroz, afirma que nem Flávio nem assessores eram investigados na operação. E reforçou que nenhum membro da família Bolsonaro solicitou postergação ou teve ingerência em qualquer investigação movida pela PF.

‘Rachadinha’. O Grupo de Atuação Especializada contra a Corrupção (Gaecc), da Promotoria do Rio, aponta o ex-chefe de gabinete de Flávio na Alerj, José Fabrício Queiroz, – cargo hoje ocupado por Grillo, como é conhecido internamente – como o coordenador do esquema, que arrecadou milhões com a devolução de parte dos salários dos servidores do gabinete. O procedimento de apuração é de julho de 2018 – quatro meses antes da eleição, em outubro.

Desde fevereiro, o setor de inteligência do Ministério Público do Rio trabalhava nos dados do relatório de inteligência do Coaf, que apontava movimentações financeiras suspeitas de Queiroz, dentro de uma lista de centenas de outros assessores, servidores e ex-servidores da Alerj. O relatório divide todos em 22 núcleos ligados a deputados.

Na esfera federal, o Ministério Público usou o documento nas apurações pagamentos de propinas a parlamentares da base aliada do governo Cabral, a Furna da Onça. Foram presas 22 pessoas, entre eles dez deputados. Outros haviam sido detidos na Operação Cadeia Velha – ambas desdobramentos da Lava Jato -, que também tinha como alvo o esquema de corrupção na Alerj, envolvendo o então presidente, Jorge Picianni (MDB).

O atual chefe da Abin, Alexandre Ramagem, era delegado da PF, que atuou nesse caso. Nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro novo diretor-geral da PF, em abril, ele foi o estopim da demissão do ex-ministro Sérgio Moro, do Ministério de Justiça e Segurança Pública. Naquele mês de outubro, o delegado atuava na segurança da campanha de Bolsonaro. O Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a nomeação de Ramagem. Diante da liminar, Bolsonaro anulou sua indicação e escolheu Rolando Alexandre de Souza, considerado o braço direito de Ramagem na Abin.

O nome de Queiroz apareceu movimentando R$ 1,2 milhão de forma suspeita em sua conta, com recebimentos de assessores e servidores ligados aos gabinete de Flávio – clássico esquema de “rachadinha”. Na área estadual, as apurações seguiram os esquemas de desvios dos salários nos gabinetes de vários deputados, de sua competência.

A existência do relatório foi revelada pelo Estadão, em reportagem do repórter Fábio Serapião, no dia 6 de dezembro de 2018: “Coaf relata conta de ex-assessor de Flávio Bolsonaro“. Naquela ocasião, as apurações de “rachadinha” do MP do Rio estavam em andamento há quatro meses. Em duas frentes de investigação, tanto a Furna da Onça – no âmbito federal – como a apuração de desvios de salários nos gabinetes da Alerj – na esfera estadual – tinham o relatório do Coaf.

Sigilos

Os nomes de Grillo, Victor Alves e Valdenice aparecem entre os assessores investigados desde as primeiras quebras de sigilos pedidas pelo Ministério Público Estadual. Em 24 de abril de 2018, o juiz Flavio Itabiana de Oliveira Nicolau, da 27.ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, decretou quebra dos sigilos fiscal e bancários dos investigados, que mostrou que 13 assessores repassavam mensalmente valores para Queiroz.

Foram identificados 483 depósitos, atingindo valor de R$ 2 milhões (sendo 339 depósitos de dinheiro em espécie, 127 transferências bancárias e 17 depósitos de cheques). Na apuração, 103 tiveram os sigilos quebrados, entre elas Flávio, sua mulher Fernanda, familiares da ex-mulher do presidente, Ana Cristina Siqueira Valle – que não é mãe dos três filhos parlamentares, Flávio, Carlos e Eduardo -, ex-policiais, familiares do miliciano Adriano da Nóbrega Magalhães (morto em fevereiro, na Bahia), do sócio do senador, Alexandre Diniz, entre outros.

‘Invenção’

Flávio nega as acusações. O senador classificou a acusação de “invenção” e afirmou que o empresário tem interesse em prejudica-lo, já que é suplente. Em nota publicada no domingo, 17, em suas redes sociais, o filho mais velho do presidente diz que “o desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena” e que o empresário “preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão”, ao trocar a “família Bolsonaro por Doria e Witzel”, e “parece ter sido tomado pela ambição”.

Via seu advogado, Fláviu negou que tenha sido informado sobre a Furna na Onça e diz que nem ele nem assessores em investigados na operação. Frederick Wassef, advogado que defende Flávio no caso Queiroz, reforçou que nenhum membro da família Bolsonaro solicitou postergação ou teve ingerência em qualquer investigação movida pela PF.

Wassef fez ainda um exercício hipotético. Para ele, caso fossem comprovados vazamento de informações e motivação política por trás das datas estabelecidas pelos investigadores para deflagrar a operação, esses fatos não implicariam em ‘nada mais do que um procedimento administrativo da própria corregedoria da Polícia Federal para apurar as condutas praticadas pelo referido delegado federal’.

“Portanto, no máximo e no pior dos cenários, objeto de apuração dessa história teria como único participante, como único alvo e objeto, o delegado federal”, defendeu o advogado.

Grillo, Valdenice, Alves e Queiroz não foram encontrados para comentar. O espaço está aberto. Em outras ocasiões, a defesa de Queiroz negou crime de “rachadinha”.

Leia abaixo a manifestação completa da defesa do senador Flávio Bolsonaro

Com a palavra, a defesa de Flávio Bolsonaro

“Hipoteticamente admitindo que venha a ser verdade o que afirma o empresário Paulo Marinho, de que eventualmente um delegado da Polícia Federal tivesse, no passado, dado uma velocidade diferente nas investigações, postergando para um mês para frente, caso fosse verdade, caso fosse comprovado isso, o que já está claro que não é verdade, até porque o próprio Judiciário e o Ministério Público Federal, parece que já tem matéria na imprensa hoje, dizendo que foi uma decisão colegiada de todos. Eu vi matéria nesse sentido. Mas, só a título de fazer uma reflexão hipotética. Caso fosse comprovado isso, nada tem a ver com Jair Bolsonaro ou com Flávio Bolsonaro. Primeiro lugar, se isso tivesse ocorrido, foi um ato unilateral, por vontade própria do delegado federal, que assim decidiu agir, por seu interesse e vontade, porque quis fazer dessa forma, sozinho, sem conhecimento, ou autorização ou participação nem de Flávio e nem de Jair Bolsonaro. Ou seja, nenhum membro da família Bolsonaro participou, teve ingerência, quis, pediu, solicitou nada, nem na esfera psicológica, emocional, espiritual, nem prática, ninguém jamais faz ou quis ou praticou qualquer ato no sentido de solicitar tal postergação de investigação. Até porque eles nem sabiam disso. Bom, então, hipoteticamente, caso tenha ocorrido isso, a minha mensagem é que no máximo isso seria algo que, caso comprovado no futuro, não vai ensejar nada mais do que um procedimento administrativo da própria corregedoria da Polícia Federal para apurar as condutas praticadas pelo referido delegado federal. Portanto, no máximo e no pior dos cenários, objeto de apuração dessa história teria como único participante, como único alvo e objeto, o delegado federal. E, para completar, à época dos fatos Jair Bolsonaro não era Presidente da República. Estamos falando de muito tempo atrás, outro espaço e tempo, quando ele não era presidente e, portanto, jamais poderia ele, na pessoa física ou na instituição Presidência da República, ter interferido ou requerido qualquer favor junto à qualquer autoridade da Polícia Federal. Portanto, não procede essa história”

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