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Ciência e Tecnologia

Governo americano pretende proibir cigarros eletrônicos com sabor

Medida deve ser adotada após uma série de mortes de pessoas afetadas por uma doença pulmonar misteriosa; uso desse tipo de cigarro cresce entre jovens nos Estados Unidos.

O governo americano indicou que vai proibir a venda de cigarros eletrônicos com sabor, uma vez que centenas de pessoas foram afetadas por uma misteriosa doença pulmonar e o uso desses cigarros por adolescentes continua a aumentar.

O presidente Trump, ao lado de autoridades da saúde, admitiu que existe um problema nesse caso e afirmou: “não podemos deixar que as pessoas adoeçam. E nem que nossas crianças sejam afetadas.”

Alex Azar, secretário da Saúde e Serviços Humanos, disse que a agência controladora de alimentos e medicamentos irá delinear um plano nas próximas semanas para remover do mercado os cigarros eletrônicos com sabor e também as cápsulas de nicotina, excluído o sabor de tabaco. A proibição incluirá cigarros eletrônicos com sabor de menta e mentolados, que são populares e que, segundo as fabricantes, não devem ser considerados sabores.

A Casa Branca e a FDA enfrentam uma pressão cada vez mais forte de legisladores, autoridades do setor de saúde, pais e educadores, que se mostram alarmados pela popularidade dos cigarros eletrônicos junto aos adolescentes, mas não têm poder para manter esses cigarros longe dos estudantes e fora das escolas.

Notícias de doenças respiratórias supostamente ligadas a esse tipo de cigarro, que agora chegaram a 500 casos em algumas dezenas de Estados, e possivelmente estaria ligado a seis mortes, aumentaram as preocupações e os apelos foram retomados para uma proibição total de produtos oriundos da maconha e dos cigarros eletrônicos.

Na semana passada, Michigan foi o primeiro Estado a proibir a venda de cigarros eletrônicos com sabor. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, também defendeu uma proibição e Massachusetts e Califórnia devem adotar medidas similares. São Francisco aprovou uma proibição desses cigarros este ano, que a Juul Labs, principal comerciante do produto nos Estados Unidos vem fazendo lobby para reverter, por meio de uma iniciativa a ser votada em novembro.

No ano passado, a FDA ameaçou proibir a venda dos cigarros eletrônicos, mas recuou. A indignação pública alimentada por acusações de que a Juul Labs estava promovendo o produto deliberadamente para os jovens levou a companhia a parar de fornecer cigarros com sabores mais apreciados como manga e pepino.

As autoridades da FDA esperavam que tornando menos acessíveis os produtos, isso reduziria o uso pelos adolescentes, mas dados recentes mostram que houve novo aumento do uso desses cigarros e cápsulas de nicotina, declarou o secretário da Saúde após o encontro com o presidente nesta quarta-feira, 11.

Cinco milhões de jovens, a maioria de escolas secundárias, declararam ter fumado cigarros eletrônicos recentemente, disse o secretário. Um quarto dos alunos de escola secundária em todo país declarou ter fumado nos últimos 30 dias este ano, na pesquisa anual realizada, um aumento de 20% em relação ao ano passado.

“O que temos visto, e pode estar relacionado, é um enorme aumento da utilização pelas crianças de cigarros eletrônicos sabor de menta e mentolados, que continuam disponíveis para vendas nas lojas”, disse Azar.

O problema parece ter tocado a Casa Branca, com Melania Trump participando da reunião, além de Ned Sharpless, inspetor da FDA e o presidente. “Ela tem um filho”, disse Trump, referindo-se ao seu filho adolescente, Barron. “Ela está muito preocupada a respeito”, acrescentou.

A empresa Juul Labs tem negado repetidamente que dirigiu seus produtos para menores, mas eles se tornaram cada vez mais populares e fáceis de ocultar. E apesar de uma série de cigarros eletrônicos com sabores terem desaparecido das prateleiras, eles ainda podem ser comprados online. Juul disse que quase 85% das suas vendas são de cigarros eletrônicos sabor de menta e outros sabores e que a decisão de parar de vendê-los provocou uma queda das suas vendas.

Quanto à decisão da FDA de proibir muitos sabores no caso desses cigarros, Ted Kwong, porta-voz da Juul, disse que a empresa cumprirá a ordem. “Concordamos que há necessidade de uma ação agressiva para toda a categoria dos produtos com sabor”, afirmou.

Grupos envolvidos com saúde pública têm clamado por cortes rigorosos na comercialização de cigarros eletrônicos, especialmente porque estão preocupados que o seu uso crescente entre os jovens esteja viciando uma nova geração na nicotina depois de décadas de queda no número de fumantes.

Matthew L. Myers, que preside a Campaign for Tobacco-Free Kids, qualificou a decisão do governo de “histórica”. “O anúncio do presidente de que o governo retirará do mercado os cigarros eletrônicos com sabor é uma medida extraordinária e necessária. Esta é uma crise de saúde pública e não podemos nos permitir mais delongas em confrontá-la.”

Organizações conservadoras e a indústria de cigarros uniram forças em oposição às propostas da FDA, incluindo uma que pretendia que as lojas reduzissem o acesso a dispositivos de fumo, cápsulas e outras parafernálias para mantê-los longe dos menores. E, desde o ano passado, a agência vinha elaborando um plano exigindo que as lojas colocassem os cigarros eletrônicos com sabor em áreas proibidas para menores. Mas o plano fracassou por causa da sua impraticabilidade e problemas legais. O anúncio feito agora substitui aquela proposta.

Desde que Scott Gottlieb renunciou como comissário da FDA em abril, a agência se tornou mais lenta nos seus esforços para controlar a epidemia. Embora Sharpless tenha afirmado que pretendia continuar o trabalho da agência nesse campo, pouca coisa foi feita. A proposta de Gottlieb para proibir o mentol nos cigarros esvaneceu, como também a ideia de reduzir a nicotina nos cigarros a níveis que não provocam dependência.

Mas com o início das aulas em todo o país e doenças que começaram a ser reportadas, o temor tomou conta e aumentaram os apelos para a FDA adotar medidas mais rigorosas. O senador Dick Durbin, de Illinois, na semana passada, alertou que pediria a renúncia de Sharpless se a agência não tirasse os cigarros eletrônicos com sabor do mercado. Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, também decidiu intervir esta semana, anunciando uma soma de US$160 milhões para proibir esses cigarros.

Em comunicado na terça-feira, a Vapor Technology Association disse que se opõe à proibição e qualificou como equivocadas as medidas a serem tomadas. “Mais de dois milhões de americanos morreram por enfermidades ligadas ao fumo nos últimos cinco anos. O presidente Trump não deve seguir o exemplo de São Francisco, Michael Bloomberg e extremistas da extrema esquerda”, diz o comunicado.

Mas não há pesquisa conclusiva sobre a segurança no longo prazo do uso dos cigarros eletrônicos. As cápsulas de nicotina com sabor têm uma alta taxa de nicotina em relação aos cigarros, o que preocupa por causa do efeito que a substância tem no cérebro ainda em desenvolvimento de um adolescente.

Médicos afirmaram que muitos pacientes com problemas de pulmão parecem ter fumado produtos relacionados com maconha ou THC, mas outros reportaram o uso de cigarros eletrônicos também. Ninguém apontou uma empresa particular, dispositivo ou produto como possível culpado.

As mortes foram reportadas em Illinois, Kansas, Califórnia, Indiana, Minnesota e Oregon. As idades dos pacientes variavam dos 30 anos até a meia idade ou mais velhos, a alguns tinham doenças pulmonares ou outras crônicas, segundo os médicos.

Os Centros de Prevenção e Controle de Doenças têm insistido para que as pessoas, especialmente não fumantes e adolescentes, não fumarem de modo nenhum. É recomendado que os fumantes que querem deixar de fumar consultem um médico em vez de usarem cigarros eletrônicos.

Um painel da Câmara convocou Robert Redfield, diretor do CDC, para depor em 24 de setembro sobre o surto de doenças pulmonares associadas ao fumo. Outra subcomissão de investigação planeja uma audiência separada sobre o assunto no dia seguinte.

Em Nova York, o prefeito Cuomo também orientou as autoridades de saúde do Estado a intimarem as empresas que comercializam ou vendem os chamados agentes espessantes que são adicionados aos produtos de fumo ilícito. Um laboratório do Estado, que detectou os agentes em produtos associados ao fumo de pacientes em Nova York, concluíram que eles continham óleo derivado de acetato de vitamina E, o que seria uma causa potencial de algumas das doenças reportadas.

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