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Economia e Negócios

Mercado de trabalho recuperou de 10,3% a 11,3% das vagas perdidas na pandemia

Mesmo que a retomada da economia no terceiro trimestre tenha sido mais forte do que o inicialmente previsto, a recuperação não levou à criação generalizada de empregos.

Após atingir o fundo do poço em termos de demissões em julho, o mercado de trabalho brasileiro gerou 1,5 milhão de vagas em agosto e setembro, apenas de 10,3% a 11,3% do total de vagas perdidas por causa da recessão provocada pela covid-19, dependendo da metodologia utilizada para fazer a conta, conforme estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O trabalho doméstico e o emprego no setor de serviços, com destaque para a atividade de alojamento e alimentação, foram os mais atingidos.

Embora a retomada da economia no terceiro trimestre tenha sido até mais forte do que inicialmente estimado por economistas, o movimento não se traduziu em abertura generalizada de vagas no mercado de trabalho, mas, principalmente, no aumento de horas trabalhadas por quem não perdeu a ocupação, disse o pesquisador Marcos Hecksher, autor do estudo. Ou seja, menos pessoas estão trabalhando mais, enquanto falta trabalho para milhões.

Para fazer as contas, o pesquisador do Ipea, cujo estudo está previsto para ser publicado no site do órgão federal na quarta-feira, 11, usou dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) e da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As informações da Pnad-C são sempre por trimestre móvel, mas, no estudo do Ipea, foram mensalizadas e encadeadas com a Pnad Covid, que é mensal - pesquisadores do IBGE, geralmente, alertam que as pesquisas não são comparáveis.

Quando se considera a Pnad-C, o total de postos de trabalho fechados na crise fica em 14,1 milhões de fevereiro a julho. Quando se juntam as informações da Pnad-C com a Pnad Covid, o total de empregos destruídos de fevereiro a julho é de 12,8 milhões. Para Hecksher, independentemente da metodologia, a destruição de postos de trabalho é histórica. “É a maior queda histórica (da ocupação), uma coisa sem precedentes, que só começou a se recuperar”, afirmou o pesquisador do Ipea.

“O mercado de trabalho se recuperar depois já era esperado. Agora, no Brasil, essa demora na recuperação de empregos pode ser maior porque aqui o risco sanitário é maior”, afirmou Hecksher, numa referência ao avanço da pandemia no País, quando se compara com outras nações.

Os dados dos indicadores antecedentes do mercado de trabalho, calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e divulgados na segunda-feira, 9, reforçam a avaliação de que o estrago feito pela covid-19 parou de se agravar, mas a recuperação da economia ainda não passa pela criação de vagas. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), formado por uma combinação de séries extraídas das Sondagens da Indústria, de Serviços e do Consumidor, todas da FGV, subiu 2,9 pontos na passagem de setembro para outubro, para 84,9 pontos. Foi a sexta alta seguida, mas a sequência ainda deixa o indicador 7,1 pontos abaixo do patamar de fevereiro.

Na visão Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, um dos motivos para a recuperação da atividade econômica no terceiro trimestre ainda não ter melhorado o mercado de trabalho é o fato de a retomada estar se dando de forma desigual. “Essa recuperação da atividade tem sido intensa, surpreendeu positivamente, mas não tem sido muito homogênea entre os setores”, afirmou Tobler.

Nessa heterogeneidade da recuperação, o desempenho da indústria e do varejo de bens, com destaque para o comércio eletrônico e as entregas, é melhor, enquanto o setor de serviços, especialmente nas atividades relacionadas ao turismo, bares e restaurantes, segue com dificuldades. A composição é ruim para o mercado de trabalho, porque o setor de serviços responde pela maioria dos empregos.

O estrago na área de turismo, bares e restaurantes fica claro no estudo. Nas contas de Hecksher, o total de trabalhadores nas atividades de alojamento e alimentação tombou 35,7% entre fevereiro e julho, o fundo do poço. Só que nos dois meses seguintes a recuperação foi tão tímida que, em setembro, esse contingente estava ainda 34,5% abaixo do visto em fevereiro, antes da pandemia de abater sobre a economia mundial.

Para o pesquisador, o quadro é preocupante porque o desemprego, que já subiu bastante ante fevereiro, vai continuar subindo. Como analistas vem destacando desde o início da crise, por causa das peculiaridades da pandemia, muitos trabalhadores que perderam suas ocupações, formais ou informais, não foram ao desemprego. Por causa do isolamento social, saíram do mercado de trabalho - pelas metodologias internacionais, o trabalhador deve estar procurando ativamente uma vaga para ser considerado desempregado. Com a redução das restrições ao contato social, esses trabalhadores voltaram a procurar vagas, aumentando o desemprego.

A redução, e posterior retirada, do auxílio emergencial pago pelo governo aos trabalhadores informais de baixa renda também levará ao aumento do desemprego, vários economistas vêm destacando. O pagamento do governo é um incentivo para o trabalhador ficar em casa, evitando se expor. Sem o recurso, que deixará de ser pago em dezembro, muitos serão impelidos a sair em busca de trabalho ou a tentar a sorte com atividades informais, mesmo que rendam pouco.

Por isso, Hecksher defende uma nova desoneração da folha de salários, para todos os setores, mas especificamente para novos contratos de trabalho de jornadas reduzidas. O objetivo seria incentivar contratações - já que sairia mais barato para o empregador contratar duas pessoas para trabalharem 20 horas por semana cada, em vez de contratar um empregado para trabalhar 40 horas por semana - e, portanto, tentar moderar o avanço do desemprego, mesmo com a retomada da economia. A proposta já foi discutida por técnicos do Ipea. Um estudo anterior estimou que seria possível gerar 4,6 milhões de vagas a mais com essa desoneração.

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