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Política

'Não há espaço para o centro nas eleições de 2022', diz Onyx Lorenzoni

Atual chefe da Casa Civil, Onyx prevê nova disputa polarizada: ‘Não tem espaço para o PSDB e o MDB ficarem flutuando’ Entrevista com.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou não ver chance de um candidato de centro vencer a próxima eleição presidencial, em 2022. “Não tem espaço para o muro. Nem para o PSDB e o MDB ficarem flutuando aí”, disse ele ao Estado.

Filiado ao DEM, Onyx prevê uma nova disputa polarizada entre a direita e a esquerda, mas com muitas mudanças no quadro partidário até lá. “Precisamos ter paciência para que as morangas se acomodem”, comentou o ministro, que tem na mesa de trabalho o Novo Testamento – Salmos e Provérbios. Deputado licenciado, ele considerou “maluquice” os rumores de que será alvo de uma reforma ministerial.

Qual o impacto político das investigações envolvendo o senador Flávio Bolsonaro?

Para o governo? Nenhum. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Mas não existe uma preocupação de que isso possa ser usado para desgastar o presidente Jair Bolsonaro até mesmo no Congresso?

Acredito no caráter e na integridade do senador Flávio. O que a gente vê no Brasil é uma tentativa de criar artificialmente fato que possa trazer transtorno ao governo do presidente Bolsonaro. Uma coisa importante é a gente lidar com a verdade e, graças a Deus, temos as redes sociais.

O sr. vai se filiar ao Aliança pelo Brasil, o novo partido do presidente, ou continuará no DEM?

Eu apoiei o candidato Jair Bolsonaro, no ano passado, com o DEM apoiando Alckmin (ex-governador Geraldo Alckmin, que concorreu à Presidência pelo PSDB). Não tenho razão para mudar de partido. Nós precisamos ter paciência para que as morangas se acomodem no Brasil.

Que morangas?

O quadro político-partidário precisa se acomodar. Vão ter muitas acomodações daqui até 2022, porque vem uma cláusula de barreira muito forte. Então, tem muito partido que vai minguar. A gente precisa observar como vão acontecer as eleições do ano que vem. Eleições municipais e presidenciais são desconectadas, mas servem como bom termômetro de como a sociedade vai se posicionar, se vai ter um passo atrás ou à frente.

Qual o cenário o sr. vê para a disputa presidencial de 2022? A polarização vai continuar?

Sim, entre esquerda e direita. Não muda isso. Não tem espaço para muro. Não tem espaço para centro, não. Quem achar que tem espaço para centro repetirá o Macri (Mauricio Macri, ex-presidente da Argentina, derrotado na eleição deste ano). Por que o Macri caiu? Porque não se manteve onde tinha de se manter.

Quem é o centro?

Não tem espaço para PSDB, MDB ficarem flutuando aí. Vai ser uma disputa entre dois polos. E vai ser mais dura que a última, para os outros. Eu acho que ele (Bolsonaro) entra como franco-favorito e mata no primeiro turno.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva consegue recuperar os direitos políticos e disputar a próxima eleição?

O Lula é caso de polícia, e não de política. Vai ter um representante da esquerda. Não sei se é o Haddad (Fernando, candidato do PT em 2018) ou outro que vão botar.

Há nos bastidores informações de que o sr. e os ministros Abraham Weintraub (Educação) e Bento Albuquerque (Minas e Energia) deixarão o governo no início de 2020. O sr. está se preparando para voltar ao Congresso?

Isso é mentira. Uma maluquice. O governo tem um time unido de ministros e o presidente não se move por fofocas. Weintraub é o homem certo no lugar certo. E o ministro Bento vamos trocar por quê? Ele arrumou, nas vendas de óleo e gás, mais de R$ 200 bilhões para o Brasil.

O ano de 2019 foi marcado por concessões ao Congresso, cargos, emendas parlamentares. O governo Bolsonaro aderiu ao presidencialismo de coalizão?

Nem morto. Nós rompemos com tudo isso. Desde o governo Sarney, o presidencialismo de coalizão era ministério de porteira fechada. Nosso governo é completamente diferente. Aqui não tem corrupção, não tem toma lá, da cá, não teve marcação de território, que eram as características que levaram ao mensalão e ao petrolão. Nós fizemos a maior reforma previdenciária do mundo ocidental. Nenhum país fez uma reforma tão ampla e profunda, quer do ponto de vista da ação, quer do ponto de vista fiscal. A nossa, nesses primeiros dez anos, dá um R$ 1,1 trilhão.

O sr. disse que alguns programas sociais serão revistos. O Bolsa Família vai mudar ou a mudança será só de nome?

Era o governo Dilma que inaugurava placa e mudava nome. Aqui a gente trabalha sério. Pode ou não (mudar o nome). O relevante para nós é mostrar que, vencida a etapa de reorganização do governo, vamos gerar empregos. É o nosso foco, agora que a economia entrou nos trilhos. Não emprestamos dinheiro para nenhuma ditadura comunista. Vamos apresentar, em janeiro, um programa de treinamento de mão de obra, uma requalificação dos “nem-nem”, que são milhões de jovens que não trabalham nem estudam. Até maio devemos apresentar um novo Bolsa Família.

O sr. concorda com proposta de parlamentares de tornar permanente a parcela de 13º salário do Bolsa Família?

Assim como nós colocamos a economia no lugar, quietos, sem barulho, vamos fazer a mesma coisa na área social. (A parcela do 13.º) tem que existir. Se é permanente ou a cada ano renovada, isso não muda nada. O Congresso se queixa de que o Orçamento está engessado e cada vez engessa mais. E aí, como é que sai dessa contradição?

O presidente disse que vai vetar o fundo eleitoral. Isso não atrapalha a relação com o Congresso, já que foi o próprio governo quem propôs o valor de R$ 2 bilhões para esse fundo?

Não, o governo não propôs isso. Apenas repetiu o número que estava lá que foi votado e dado pelo próprio Parlamento. Como o fundo eleitoral não é política de governo, o governo apenas cumpre o que a lei determina. Na hipótese de haver veto, cabe ao Parlamento acatar ou não. Isso é democracia.

Com o PSL rachado, o governo perde votos na Câmara. Isso não preocupa?

O governo nunca teve base. Mesmo se você tivesse cem (deputados), isso é base? Resolve? Ajuda no quê? O PT teve 90 e resolveu? Você tem de ter 300. Esse é o ponto. E lembre-se de que não íamos votar a Previdência até julho na Câmara, mas votamos. Depois, não íamos aprovar neste ano no Senado. Aprovamos.

Mas foi preciso liberar emendas parlamentares extras...

Ninguém liberou emenda extra nenhuma. Fizemos programas de governo para os quais parlamentares, historicamente, sempre tiveram acesso. E nós, mesmo com o contingenciamento de R$ 34 bilhões do Orçamento, demos condições para que pudessem acontecer. Então, estão cobrando da gente o quê?

É porque o discurso do governo sempre foi o de que não haveria toma lá, dá cá...

E não tem. Quem escreve isso mente vergonhosamente.

Mas depois da aprovação da reforma da Previdência, deputados chegaram a paralisar uma votação porque o governo não tinha liberado emendas...

Aí havia outras questões. Eu tenho 24 anos de mandato consecutivo (na Câmara) e nunca conheci uma relação entre Executivo e Parlamento que não tivesse tensão. Isso vai continuar. Vai lá no Rio Grande do Sul para ver a tensão, agora, para votar a reforma da Previdência.

O sr. continua disposto a concorrer ao governo gaúcho?

Quem decide o que eu vou fazer é Deus em primeiro lugar. Em segundo lugar é o senhor Jair Messias Bolsonaro.

O sr. foi criticado pela articulação política com o Congresso e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse ao Estado que há muita intriga no Planalto. O fogo amigo entre os senhores aumentou?

Entre eu e o Ramos não tem nada. Somos amigos há muitíssimos anos. O problema está na porta da rua lá (olha em direção ao Congresso). Aqui dentro não tem problema.

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