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Teresina - Piauí

Projeto Jovem Esperança muda a vida de jovens no Porto do Centro

O projeto teve início no ano de 2006 e atualmente atende cerca de 150 jovens e crianças.

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Conheci o Projeto Jovem Esperança há três anos por meio do Porteiro do condomínio onde moro, o Wilson. Após um longo dia de estágio e aulas, cheguei em casa ainda com a farda do trabalho  e fui abordada por ele, que viu na estudante de jornalismo um meio de divulgar o projeto que executa no bairro Porto do Centro, na zona leste de Teresina.

Wilson contou que o Jovem Esperança nasceu no ano de 2006 como uma forma de tentar livrar a comunidade da violência e formar cidadãos. Dia a após dia o observei se aproximar dos moradores do condomínio para falar do seu projeto e pedir algum tipo de contribuição. Por diversas vezes vi pessoas levarem pacotes com cadernos, bolas, brinquedos e materiais esportivos. Diante de tanta movimentação e admiração pelo empenho daquele homem decidi ir com uma equipe de jornalismo ao local onde acontece o projeto.

Depois de circular por quase meia hora, meio perdidos no bairro de ruas escuras e muitas vezes sem calçamento, nós conseguimos chegar até a quadra onde as crianças praticam atividade física. Inicialmente pude ver alguns meninos já fazendo o aquecimento para começar o jogo de futsal, enquanto outros, que não participavam do projeto, estavam no entorno da quadra conversando e observando a prática do esporte.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Projeto Jovem Esperança muda a vida de jovens no Porto do Centro em Teresina Piauí Projeto Jovem Esperança muda a vida de jovens no Porto do Centro em Teresina Piauí

Fui recebida por outro coordenador do Jovem Esperança, o Manoel Lúcio, já que Wilson ainda não havia terminado sua jornada de trabalho de 12 horas diárias como porteiro do condomínio. Ao conversar com Manoel de forma mais aprofundada, pude entender de fato como o projeto faz diferença na comunidade e na vida daquelas crianças.

As palavras de Manoel me cativaram, saí dali sentindo, realmente, um sopro de esperança. Ele me explicou, de forma muito sábia, que os moradores do bairro Porto do Centro sofriam com uma grande onda de violência física e psicológica e que muitas vezes se viram desassistidos pelo poder público. “Por exemplo, o cara passa com uma arma na sua frente e você não pode fazer nada, vai chamar a polícia, a polícia chega num carro zoando e o cara se esconde, a gente sabe onde ele está, mas vai fazer o quê?”, começou Manoel.

Na contra mão da falta de apoio do poder público, Manoel iniciou o projeto com o intuito de dar uma nova oportunidade à comunidade. “A gente viu a necessidade de fazer alguma coisa pra que isso [violência] não passasse de geração, não tivesse continuidade. A gente sabe que tudo na vida tem começo, meio e fim, mas que a violência pode até findar pra uns, mas recomeça com outros, então a violência nunca acaba”, lamentou. Manoel afirmou que viu no esporte uma forma de tentar ajudar a população do Porto do Centro. “A gente sabe que o esporte hoje é o maior recrutador de jovens, que afasta da criminalidade, que dá uma perspectiva de vida e até uma oportunidade para ele ser um profissional no futuro. E a gente vendo essa possibilidade de usar o esporte para afastar esses jovens da criminalidade, teve a ideia de criar uma escolinha, que era nossa ideia inicial, mas a gente não teve muito apoio do poder público, e com a chegada de alguns parceiros e amigos acabamos transformando em uma ONG, não só uma escolinha, mas um projeto social”, disse.

Falta apoio do poder público

Quando questionei se atualmente, após dez anos do início do projeto, Manoel e Wilson já recebem algum tipo de ajuda do poder público, Manoel respondeu que não. “Não exatamente, o que existe mais são empresas parceiras, amigos, temos uns amigos do Banco do Brasil que nos apoiam. Não é um patrocínio fixo de todo mês ter isso, mas de vez em quando alguém vem aqui, ver a nossa necessidade, junta um grupo de amigos e ajuda a gente dessa forma”, disse.

Diminuição da criminalidade

Manoel explicou que antes do início do Projeto a comunidade sofria com disputas entre gangues rivais e que a interação entre os jovens nas ações promovidas pelo Jovem Esperança permitiu que as crianças crescessem amigas e assim, diminuiu a rivalidade entre os jovens. “A gente sabe que o projeto é inclusão social, mais do que tudo traz uma interação entre os jovens. Antes do projeto existiam as gangues divididas dentro da comunidade, quem é da Rua A não podia passar na Rua B, quem é da Rua B não podia subir até na Rua C, porque vai encontrar um adversário. Na época existia isso, tinham duas gangues inimigas que não podiam atravessar a avenida, que ficavam se digladiando, se matando, até mesmo criando pânico nas famílias”, disse ele, que ainda afirmou que quando uma pessoa se envolve no mundo do crime dezenas de outras pessoas são vítimas.
 

  • Foto: Lucas Dias/GP1Projeto Jovem Esperança Projeto Jovem Esperança

“Quando um jovem se mete na criminalidade não se perde apenas a vida daquele jovem, mas dezenas de vítimas que aquele jovem faz, e destrói toda uma família, desestrutura uma sociedade, a vizinhança em volta. Com esse trabalho vimos a possibilidade, depois que o trabalho surgiu, que aqueles jovens que não podia andar na rua de cima ou na rua de baixo, todo final de semana estavam jogando juntos, cresceram juntos, então não há mais essa rivalidade na nossa comunidade, graças a Deus isso acabou”, agradeceu.

O coordenador do Jovem Esperança assumiu que a violência ainda é presente, mas que o projeto visa principalmente dar outras oportunidades as crianças da comunidade. “Nós acabamos com a violência? Não, infelizmente a gente sabe que tem aqueles que já cresceram com aquela intenção, ou foi criado em casa dessa forma. Porque acontece isso, desde que a criança nasce ela é criado de uma forma, não preparada para o crime, mas desestruturada emocionalmente, o pai tem um desequilíbrio emocional, a mãe uma desestrutura e o jovem cresce com aquele desejo de ambição, de se dar bem em cima dos outros. Nossa ideia é dar novas oportunidades pra essas crianças, hoje já tem muitos jovens que saíram daqui, alguns se Deus quiser vão ingressar em algum time profissional do Sul, e outros mesmo buscando vagas nos times profissionais aqui da nossa cidade”, ressaltou.

Oportunidade

Israel Marques, ou apenas Rael como é conhecido pelos amigos, 17 anos, participou do Jovem Esperança e hoje luta para conseguir uma vaga em clubes profissionais. Ele não estava no projeto quando nossa equipe foi até o local, mas Manoel nos contou, cheio de orgulho, que o rapaz já foi aprovado pelo Sampaio Correia, do Maranhão, e está com testes marcados em clubes profissionais de São Paulo. “O Rael treinou  com a gente desde pequenininho, hoje já tem 17 [anos] e está tendo a oportunidade de quem sabe ingressar num time profissional do futebol brasileiro. Ele fez um teste no Sampaio Correia do Maranhão, mas a gente encontrou uma melhor oportunidade, de fazer testes em alguns clubes de São Paulo, e nós sabemos que São Paulo é um grande celeiro, é uma porta aberta, uma grande vitrine”, disse.

Ele destacou que mesmo com a oportunidade, Israel ainda precisa da ajuda do projeto para angariar fundos para custear as viagens. “Ele fez um teste no Sampaio Correia do Maranhão, mas a gente encontrou uma melhor oportunidade, de fazer testes em alguns clubes de São Paulo, e nós sabemos que São Paulo é um grande celeiro, é uma porta aberta, uma grande vitrine. Através de um rapaz que ajuda com ele, leva para todo lado, conseguiu essa vaga para fazer esse teste, agora não é mais uma aventura, é um teste específico em alguns clubes do centro-oeste. E a gente não tem condição financeira de bancar [o teste], porque se eu não me engano a passagem é 360, uma só, e o custeio todo foi avaliado em 1600 reais para bancar todos esses dias, porque parece que apenas dois clubes dão estadia, mas tem outros clubes que não pagam, então vai ser por conta do jovem e ele não tem condição, então nós estamos correndo atrás, estamos fazendo rifas, bingos. Primeiro a gente corre atrás pra ver se consegue o bem a ser rifado, depois a gente faz o bingo ou rifa. Porque também não é só a passagem, além da estadia tem material de frio, porque aqui no Nordeste o cara veste um calção e está resolvido, lá ele precisa de calça térmica, mais meia, mais chuteira porque chove todo dia. Já começamos a conseguir, mas ainda falta muita coisa”, contou.

Quantidade de crianças atendidas

Atualmente o Jovem Esperança atende cerca de 150 crianças, mas nem todas participam das atividades diárias do projeto. Manoel explicou que alguns pais dão todo apoio para a participação dos filhos na prática esportiva, no entanto, outros sequer acompanham a rotina de esportes das crianças. 

  • Foto: Lucas Dias/GP1Projeto JovemProjeto Jovem

“Aqui nós temos os meninos até 13 anos, o pessoal que nasceu de 2003 pra cá, eles treinam esse horário. Aqui não está todo mundo porque tem muita criança que mora em outros bairros, do outro lado da comunidade e ai às vezes o pai não tem como trazer, alguns o pai vem deixar, vem buscar, outros o pai deixa vir porque não está nem ai. Tem criança que está aqui há três/quatro anos e o pai nunca veio assistir um jogo, tem deles que se preocupam e não podem acompanhar então não deixam vir”, explicou.

Dia das crianças

Anualmente Wilson e Manoel buscam parcerias para realizar uma ação de Dia das Crianças para os jovens que participam do projeto, e este ano eles já buscam ajuda para realizar o ato. “Todo ano a gente tem feito uma ação de dia das crianças e esse ano não vai ser diferente. A gente não faz no dia das crianças porque todo lugar tem evento nesse dia, as vezes o pai quer viajar, sair com os filhos então normalmente a gente faz no sábado seguinte. Além do bingo, que é um evento para a comunidade, a gente vai realizar torneio relâmpago, que vai começar e acabar no mesmo dia. A gente sempre busca fazer distribuição de presentes, como eu citei nós temos essas pessoas que nos ajudam, eles já vieram aqui e fizeram um levantamento do que precisa, nós estamos contando com eles para distribuir presentes, como teve ano passado”, contou.

 Alexandre Lucas

Pedi para conversar com um dos meninos que participam das atividades do Jovem Esperança. Manoel chamou Alexandre Lucas, um menino de 13 anos muito consciente do objetivo do projeto. Questionei se ele gastava de participar dos jogos e se ele tinha o sonho de seguir carreira de jogar profissional e me surpreendi com a resposta: “Gosto, porque aqui é onde a gente treina, onde a gente bate bola, o único lugar que a gente tem pra jogar. Seguir carreira eu não confirmo, porque eu sou mais peladeiro, não sou aquela habilidade toda, mas estamos no caminho”, disse Alexandre arrancado o sorriso da nossa equipe.

 Ele afirmou que ali o mais importante é a diversão e a formação da cidadania. “Aqui o mais importante é brincar e se divertir e também se tornar um bom cidadão. Todos aqui são meus amigos, a gente conversa, brinca, joga bola” disse Alexandre que ainda ressaltou que os coordenadores do projeto cobram dos pupilos boas notas na escola. “Estou estudando, aqui é de base com o colégio, se tirar nota ruim você não joga, fica fora”, disse.

Ao perguntar se ele gostaria de agradecer a oportunidade de fazer parte de um projeto como o Jovem Esperança, fiquei orgulhosa com a resposta daquele menino que tinha acabado de conhecer: “gradecer todos aqui, que gastam dinheiro, eles que estão correndo atrás das coisas para ajudar nós, porque eles acreditam que isso vai dar futuro, vai dar certo, não em criar jogadores, criar cidadãos”.

Doações

O projeto atualmente conta com aulas de futebol, vôlei e capoeira, mas ainda conta com ajuda de doações para sobreviver. “Quem não quiser doar dinheiro pode doar material esportivo, a gente precisa de bola, precisa consertar nossos alambrados porque as grades tão arrebentadas. Tem o lanche dos meninos que todo sábado e domingo a gente tem que tirar do nosso bolso, então tudo isso, quem quiser doar uma caixa de biscoito, um fardo de refrigerante, tudo isso é bem-vindo. Sem falar da manutenção do esporte em si, a gente precisa de bola, de coletes”, disse Manoel.

As doações em dinheiro podem feitas por meio de uma Conta Corrente no Banco do Brasil, em nome da Associação Jovem Esperança, agência 1637-3, conta 58148-8. Aqueles que preferirem doar equipamentos ou outros materiais podem entrar em contato com Wilson por meio do número (86) 98824-9070.

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