Padrasto de Tatiana Medeiros ajudava namorado da vereadora em esquema de agiotagem

O inquérito policial que investiga a participação de pessoas ligadas a vereadora Tatiana Medeiros (PSB) em um esquema envolvendo lavagem de dinheiro e o uso de recursos de facções criminosas para financiamento de campanha eleitoral revelou a atuação contundente do padrasto da parlamentar, Stênio Ferreira Santos, nas condutas ilícitas. Conforme informação obtida com exclusividade pelo GP1, ele era o intermediador de Alandilson Cardoso Passos, namorado da vereadora, em um esquema de agiotagem. Stênio era responsável por arregimentar servidores da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi) a pedirem empréstimos com Alandilson, também investigado por envolvimento com tráfico de drogas e financiamento de organizações criminosas.

Em decisão proferida pelo juiz eleitoral Luís Henrique Moreira Rêgo, foi determinado o afastamento do padrasto da vereadora das funções exercidas na Sesapi. Segundo investigação da Polícia Federal (PF), no âmbito da segunda fase da Operação Escudo Eleitoral foram revelados diálogos entre o padrasto e o namorado de Tatiana Medeiros através do WhatsApp. Em um deles, Stênio chegou a enviar uma lista com os nomes de servidores da Sesapi que estavam inadimplentes com os empréstimos, além de pedir a concessão de novos valores a serem encaminhados para outros servidores interessados.

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Foto: Reprodução

Stênio Santos, Alandilson Cardoso e Tatiana Medeiros

Esses valores repassados por Alandilson teriam origem ilícitas, e essa seria uma prática usada para lavar dinheiro, especialmente com o uso de contas bancárias de terceiros. Além disso, parte dos juros arrecadados nesse esquema de agiotagem eram supostamente repassados a Tatiana Medeiros e à mãe da vereadora, Maria Odélia Medeiros, e posteriormente revertidos para o financiamento ilícito da campanha eleitoral da vereadora. “Nesse ponto, a dinâmica dos eventos revela que a percepção do ágio retroalimentaria o patrimônio de Alandilson e dos demais beneficiados com a repartição dos lucros, o que resultaria em valores oriundos da mesma fonte comum, os quais também serviram para aplicação na campanha da vereadora”, revelou trecho do inquérito.

Uma análise bancária revelou um fluxo financeiro intenso nas contas de Stênio Ferreira, principalmente no ano das eleições municipais, época em que manteve relação próxima com Alandilson Cardoso. Em 2024, ele movimentou R$ 702.659,23 (setecentos e dois mil, seiscentos e cinquenta e nove reais e vinte e três centavos) em créditos. O padrasto da parlamentar também recebeu R$ 201.000 (duzentos e um mil reais) do Instituto Vamos Juntos, que pertence à vereadora, próximo às eleições. Esse montante seria usado na cooptação de eleitores e compra de votos, evidenciando sua participação como intermediador de Tatiana.

Entenda o caso

Tatiana Medeiros e seu namorado, Alandilson Cardoso Passos, foram alvos de mandados de prisão preventiva expedidos pelo 1º Juízo de Garantias da Justiça Eleitoral no Piauí. A investigação da Polícia Federal teve início após o resultado das eleições de 2024, quando foram identificados indícios da ligação da vereadora eleita com a facção criminosa Bonde dos 40.

A PF suspeita de que a campanha da vereadora tenha sido financiada com recursos ilícitos do crime organizado, com o nome de Alandilson surgindo como um dos principais articuladores financeiros do grupo criminoso.

Foto: Alef Leão/GP1

Tatiana Medeiros

Envolvimento com o Bonde dos 40

No inquérito instaurado em novembro de 2024, a Polícia Federal apontou quatro possíveis crimes envolvendo Tatiana Medeiros e a facção Bonde dos 40. As suspeitas são:

1. Uso do Instituto Vamos Juntos – Tatiana pode ter utilizado a ONG para captar recursos ilícitos, incluindo dinheiro oriundo da facção criminosa, e direcioná-los para sua campanha eleitoral.

2. Financiamento Eleitoral Irregular – O Bonde dos 40 pode ter financiado diretamente a campanha da advogada em troca de influência política e facilitação de suas atividades no Piauí.

3. Coação e Manipulação de Eleitores – A facção teria mobilizado membros para coagir ou aliciar eleitores em comunidades vulneráveis sob seu domínio, garantindo votos para Tatiana.

4. Fraude na Prestação de Contas – A vereadora é suspeita de omitir ou adulterar informações em sua prestação de contas, incluindo despesas fictícias. Um dos exemplos citados é a locação de um veículo registrado no nome de sua mãe, Maria Odelia de Aguiar Medeiros, que não possui registro de CNH, o que levanta indícios de irregularidade.

Eleição de Tatiana Medeiros

Tatiana Medeiros foi eleita vereadora de Teresina, no dia 06 de outubro de 2024, com 2.925 votos, por quociente partidário, no Partido Socialista Brasileiro (PSB). No registro de sua candidatura, a parlamentar declarou que hão havia nenhum bem material em seu nome.

Namorado preso

Alandilson Cardoso Passos está preso desde 14 de novembro do ano passado e é alvo de uma investigação que aponta seu envolvimento com crimes como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Seu nome consta em diversos boletins de ocorrência e processos, incluindo posse irregular de arma de fogo, tráfico de drogas, roubo qualificado e dano qualificado com substância explosiva.

Foto: Reprodução

Tatiana Medeiros e Alandilson Cardoso em culto

Vida de luxo e ostentação

Apesar de não possuir vínculo formal de emprego, Alandilson ostenta um estilo de vida luxuoso, morando em condomínios de alto padrão e mantendo um haras com cavalos de vaquejada. Sua empresa, AC Passos LTDA, registrada como prestadora de serviços automotivos, não existe de fato e opera como fachada para ocultação de dinheiro ilícito. Há indícios de que ele esteja envolvido com a facção criminosa Bonde dos 40, realizando transações financeiras suspeitas com outros investigados ligados ao tráfico. Ele também teria remetido dinheiro para empresas utilizadas para lavagem de dinheiro, como a Val Carnes/Val Veículos.