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Manifestações no Iraque deixam 12 mortos após saída de líder xiita

Zona Verde de Bagdá foi invadida por apoiadores de Muqtada al-Sadr, causando conflito com a polícia.

O influente clérigo xiita do Iraque, Muqtada al-Sadr, anunciou nesta segunda-feira, 29, a sua aposentadoria definitiva da política e o fechamento dos escritórios do seu partido, o mais votado nas últimas eleições. O anúncio desencadeou manifestações de centenas de seus apoiadores em Bagdá. Pelo menos 12 deles foram baleados e mortos pelas forças de segurança do governo após invadirem o Palácio Republicano, agravando a crise política do país.

As manifestações começaram inicialmente nas ruas de Bagdá e progrediram para dentro da chamada Zona Verde da cidade, onde ficam os escritórios do governo iraquiano, o Parlamento e as embaixadas. O local tem sido ocupado por protestantes há semanas, devido ao impasse político do país para formar um novo governo. As imagens desta segunda-feira mostram os manifestantes pulando na piscina da sede do governo.

Além dos mortos, mais de 100 pessoas foram feridas pelos disparos das forças de segurança presentes na área, segundo informaram duas autoridades iraquianas. Pelo menos um soldado da divisão das forças especiais, responsável pela segurança na Zona Verde, foi morto. Várias balas de morteiro e metralhadora foram ouvidas.

Bagdá e a maioria das províncias estavam sob toque de recolher na noite desta segunda-feira (horário local), e o premiê interino, Mustafa al-Kadhimi, suspendeu as reuniões em resposta à violência. A Organização das Nações Unidas (ONU) acompanha a situação e disse estar “alarmada”, pedindo “medidas imediatas para esfriar a situação e evitar qualquer violência”.

Um assessor do clérigo Al-Sadr afirmou que ele estava entrando em greve de fome até que “a violência e o uso de armas parem”.

Impasse político

Embora tumultos e protestos de rua sejam comuns no Iraque, os eventos desta segunda-feira podem marcar uma fase ainda mais perigosa, que mistura as divisões xiitas, a violação de instituições públicas e o impasse político.

O Iraque está sem um novo governo desde as eleições de outubro de 2021, quando candidatos leais ao clérigo xiita ganharam a maioria dos assentos do Parlamento e sobressaíram aos partidos políticos xiitas rivais, apoiados pelo Irã. Desde então, o país não consegue chegar a um consenso para formar o governo e é comandado por uma equipe interina, incapaz de resolver questões urgentes, como a aprovação de um orçamento.

Al-Sadr, cuja milícia lutou contra tropas americanas durante a ocupação dos EUA do Iraque, é a figura religiosa xiita mais influente do Iraque envolvida na política. Em meio a divergências com outros partidos sobre quem deveria ser presidente e o primeiro-ministro, ele ordenou em julho aos membros recém-eleitos do Parlamento que fossem leais a ele e renunciassem.

Foi quando os seus apoiadores, em uma demonstração de força, invadiram o Parlamento e, em seguida, montaram um acampamento de tendas que bloqueou o prédio e impediu os deputados de se reunirem por mais de um mês.

Influência de Al-Sadr

Caso cumpra a promessa de abandonar a política, o clérigo pode abrir caminho para os rivais, apoiados pelo Irã, formarem o núcleo de um novo governo. Entretanto, a sua capacidade de mobilizar milhares de seguidores em todo o país significa que Al-Sadr também pode tumultuar uma nova gestão mesmo sem a participação direta.

Além disso, esta não é a primeira vez que ele anuncia a retirada da política – o que leva muitos iraquianos a pensarem neste anuncio como um blefe para ganhar maior vantagem contra os rivais. O clérigo usou essa tática em impasses anteriores, quando os desenvolvimentos políticos não foram como gostaria, mas a situação desta vez parece mais grave.

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