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Os dados oficiais já começam a mostrar os efeitos da crise no mercado de trabalho. Em novembro, foram cortadas mais de 40 mil vagas formais, ou seja, de trabalhador com carteira assinada. Situação que não ocorria desde novembro de 2002, quando o país enfrentava uma crise econômica por conta das desconfianças sobre os rumos da economia brasileira diante da vitória do presidente Lula. Incertezas que se mostraram infundadas.

Bem, voltando aos dados de desemprego, esse corte de vagas parece indicar que, pelo menos em parte, têm razão os empresários que estão querendo uma flexibilização na legislação trabalhista. Bandeira lançada pelo presidente da Vale, Roger Agnelli, descartada pelo presidente Lula e sindicalistas país afora.

Claro que, num momento como o atual, dificilmente serão feitas mudanças profundas nas regras trabalhistas brasileiras, que ainda datam do período de Getúlio Vargas. E realmente tentar fazer o ajuste apenas pelo lado mais fraco, dos trabalhadores, não parece lá muito justo. Mas que a nossa legislação é atrasada, tanto a trabalhista como a sindical, lá isso é. E já passou da hora de promover alterações nesses setores.

O fato é que Luiz Inácio Lula da Silva era o presidente ideal para liderar e promover tais mudanças. Sindicalista e ex-líder metalúrgico, nenhum outro presidente reuniria as mesmas condições para tal empreitada. Digo reuniria porque essa grande oportunidade de modernizar as regras trabalhistas foi perdida por Lula.

E começou a ser perdida na crise do mensalão, quando seu governo enfrentou o pior momento. Ali, acuado pela oposição e registrando suas piores avaliações, Lula decidiu não mais maltratar sua antiga base eleitoral. Ali, ele traçou a estratégia de manter por perto, e sob sua liderança, os grupos sindicais que, no início do mandato, andou desagradando.

Não foi uma nem duas vezes que ele chegou a dizer que o povo na rua o defenderia. Não foi preciso chegar a tal ponto. Lula conseguiu se recuperar daquele período de forte enfraquecimento e, hoje, com certeza, já na reta final de seu mandato, não irá abandonar sua antiga base de apoio.

É uma pena. De longe essa seria uma das reformas essenciais ao desenvolvimento do país. Basta lembrar que mais da metade do nosso mercado de trabalho encontra-se na informalidade, ali jogado em boa parte por conta dos elevados custos trabalhistas. E no próprio meio sindical, mais precisamente naqueles grupos alinhados ao presidente Lula, há quem defenda essas mudanças nas regras trabalhistas.

Só que não há avanços porque fica o temor de que alterações mais profundas do que desejadas por esses grupos ocorram. Enquanto isso, vamos continuando com essa legislação atrasada. Que aparentemente protege o trabalhador. Mas protege apenas aquele que está na formalidade e empregado, porque o desempregado e informal fica relegado à margem do processo.

Bem, enquanto isso, vou me beneficiar de um dos direitos trabalhistas nos próximos trinta dias e sair em férias.

Valdo Cruz, repórter especial da Folha

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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