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Por Júlio César Cardoso *

Imagem: ReproduçãoJúlior César Cardoso(Imagem:Reprodução)Júlior César Cardoso

Duas sacadas geniais do irreverente Millôr Fernandes, para reflexão do senador Aécio Neves (PSDB-MG), principalmente agora que o seu nome é citado em gravações do novo escândalo da política brasileira: Carlinhos Cachoeira.

“Acabar com a corrupção é objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder”.

“Os corruptos são encontrados em várias partes do mundo, quase todas no Brasil”.

Com efeito, depois que se chega ao poder as preocupações republicanas vão para o beleléu, os políticos só passam a se interessar por seus negócios particulares ou de grupos que representam, não combatem a corrupção lato sensu, ao contrário, corroboram para continuar o estado viciado de se tirar vantagem da coisa pública. A política pode-se dizer que é a arte de tirar proveito da coisa pública, ou como definiu Lênin: “Onde termina a política começa a trapaça”.

O senador Aécio é um político jovem, mas experiente. Já foi presidente da Câmara Federal. Governou o seu Estado com competência administrativa. E agora está no Senado. Tudo isso é bagagem política para se acreditar na seriedade de um homem público. Mas o senador dá mostras negativas que nos decepcionam, principalmente para quem tem pretensão de chegar à Presidência da República.

Um político que sabe da existência de atividades viciadas na administração pública ou no meio político e não toma iniciativas positivas para combatê-las não pode merecer seriedade e respeito da sociedade.

Vejam o caso do envolvimento de seu nome em gravações relacionadas ao senador Demóstenes Torres/Carlinhos Cachoeira. Se o senador Aécio Neves fosse um político comprometido com a moralização lato sensu da administração pública e política, certamente, diligenciaria para impedir o empreguismo de amigos, parentes, apaniguados, seus ou de outros, nas diversas esferas do poder público, sem a devida habilitação do concurso público.

Quando, conforme noticiado, o Cachoeira, através do senador Demóstenes Torres, pediu emprego para uma prima dele, e o senador Aécio prontamente deu atendimento, indicando-a ao cargo de Diretora da Secretaria de Estado de Assistência Social em Uberaba, o ilustre senador Aécio Neves apenas ratificou procedimentos não republicanos e condenáveis do famigerado jeitinho brasileiro de atender aos amigos no viciado mundo do empreguismo, sem concurso, na administração pública.

E agora não adianta o senador Aécio bufar o senador Demóstenes, como se ignorasse o pedido do Cahoeira, porque o seu dever moral seria combater essa pouca-vergonha de arrumar emprego por interferência política na administração pública, hoje repleta de paraquedista, sem concurso público, empregados e bem-remunarados. Vejam os gabinetes de parlamentares, por onde desfilam todos os tipos de apaniguados: ex-políticos, amigos, filhos e filhas de amigos, namorados etc. Sou de opinião, como moralização dos serviços públicos, que as assessorias parlamentares fossem somente exercidas por servidores concursados e com conhecimento da área. Isso acabaria com o clientelismo de parentes, amigos, cabide de emprego de ex-políticos etc.

Os noticiários dão conta de que assessores de Aécio Neves estão engordando os seus contracheques graças a cargos em estatais mineiras. Isso não é uma vergonha? Como no Senado não tem ponto, os assessores vivaldinos prestam serviço fora, com o consentimento do senador mineiro. Esse tipo de cabide de emprego público não pode mais prosperar nos gabinetes de parlamentares.

No Senado prospera a imoralidade e inconstitucionalidade de serviços médicos e hospitalares gratuitos, de forma perene, para senadores, ex-senadores e familiares, que não contribuem ou contribuíram com um só centavo. Os demais brasileiros não dispõem desse privilégio. Mas o senador Aécio Neves não demonstra espírito de moralidade republicana, beneficia-se dessa bondade pública sem combatê-la, da mesma forma que também não combate o empreguismo, sem concurso, em órgãos públicos.

Assim, como o povo brasileiro pode ter esperança positiva no político Aécio Neves, pretenso candidato à Presidência da República, se ele não dá prova de comportamento moral com a coisa pública?

* Júlio César Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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