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Deusval Lacerda de Moraes *

Imagem: Divulgação/GP1Clique para ampliarDeusval Lacerda de Moraes (Imagem:Divulgação/GP1)Deusval Lacerda de Moraes
Há tecnocrata no governo estadual que está redondamente enganado com a ciclotimia dos fatos. Diz que a pobreza extrema do Piauí foi resolvida, quando, na verdade, às vezes ela é imposta em razão da própria ação da natureza e da inação dos governos, como, respectivamente, a climática e a fome, que ocorre até de piorar em determinadas épocas em certas regiões do Estado. É o que está acontecendo agora no semiárido piauiense, ou seja, na área do Polígono das Secas, por causa dos dois anos consecutivos da estiagem que está dizimando o criatório, erradicando as plantações, destruindo a fauna e flora nativas e flagelando grande contingente populacional que, por sinal, algumas famílias estão em retirada para outros estados devido à peste que assola esses abandonados pelo destino.

Para se ter uma pequena ideia da seca que devasta as lavouras e o sonho dos sertanejos piauienses, mais de 200 municípios já decretaram estado de calamidade pública, e isso por si só demonstra a dimensão da tragédia que está vivendo a população desses rincões mafrenses. Mas tem gestor neófito, desavisado ou sei lá o que... Faz de conta que não é aqui ou sonega a realidade dos fatos para, quem sabe, dar a entender que está operando milagres ou que é mesmo o salvador da pátria. Mas que nada, sempre a realidade bate aos olhos de todos e termina falando mais alto, deixando os vendedores de ilusões inertes pelo tempo perdido que poderia ter sido utilizado em proveito de algo positivo para amenizar o drama desses conterrâneos desarvorados da sorte.

É bom esclarecer que os programas de transferência de renda do governo federal são melhores do que nada, mas sabemos que são de valor pecuniário individual irrisório e não passam de paliativos, porque eficazmente não resolvem a situação da dependência de migalhas que sempre padecem essas famílias beneficiadas. Depois, no Piauí, não se tem garantia do futuro promissor dos beneficiários, porque o nosso ensino público é extremamente deficiente, e nas zonas rurais é praticamente inócuo, dificultando o avanço educacional dos alunos. A assistência à saúde é precária e a alimentação básica diária no período da estiagem é escassa devido à carestia dos preços dos alimentos, inclusive fazendo com que muitos habitantes desertem os seus próprios lugares.

Sobre alimentação básica da população flagelada pela seca no território piauiense, apenas para refrescar a memória, das centenas de indústrias da desmancha da mandioca para se transformar em farinha, na microrregião de Picos, atualmente se conta nos dedos as que ainda subsistem e assim mesmo misturando mandioca com arroz pilado para o fabrico da farinha em razão do preço alto do herbáceo que vem de outros estados com o objetivo de obter lucro com a casca que se transforma em ração para o gado, que elevou para R$ 6,00 o quilo da farinha que normalmente a saca de 60 kg custava R$ 15,00.

Até o presente momento não houve concretamente uma ação do governo estadual em socorro desses pobres coitados. O que existe de verdade são programas de transferência de renda do Ministério de Desenvolvimento Social e do Ministério do Desenvolvimento Agrário do governo federal. O governo estadual só faz cadastrar os beneficiários, portanto sendo inadmissível ainda cadastrar errado. Se certas autoridades do governo do Estado se vangloriam por terem apenas cadastrados corretamente os piauienses que estão aptos a receber esses benefícios da União, é o fim dos tempos, pois sinaliza que nossas gestões governamentais têm pouca imaginação criadora para promover ações mais estruturadas, abrangentes, como elaborar e executar qualquer programa em proveito da coletividade.

O atual governador não vai entregar o governo com indicadores melhores, porque, até onde sabemos, os índices socioeconômicos do Piauí estão piores. A fome cresceu com a seca; o rebanho de gado e ovelhas se dizimou com a devastação da pastagem no campo; a emigração dos piauienses, que já era altíssima, aumentou sobremaneira com a estiagem; os custos dos alimentos básicos, como farinha e feijão, estão na estratosfera; Não existe mais lavoura de milho, algodão e outras culturas tradicionais do semiárido; a produção da soja no cerrado, devido à falta de chuvas, também está prevista redução de 50% da safra; Não existe mais abelha, pior ainda mel; os cajueiros secos estão indo para as carvoarias, portanto será também diminuída drasticamente a produção da castanha, suco de caju e cajuína. Enfim, só se tem notícia da devastação, destruição e desolação causadas pela seca que atinge ainda todas as regiões do Piauí.

Assim, não há mágica nisso, o que deveria existir é ação de combate do governo estadual, que claudica desde o começo da gestão. Não adianta jogar palavras ao vento, pois a realidade está a olhos vistos e desmascara falácias, retóricas e balelas palacianas. Não se deve tergiversar, ou melhor, dizer que está fazendo sem fazer, pois o enganado é o alardeador e não o que acha que está acreditando. E hoje em dia, com todo mundo antenado, e com as informações ganhando velocidades inimagináveis, é melhor mesmo ficar cabreiro para evitar desgastes desnecessários e ainda ser marcado pela sociedade como um daqueles que contribuíram para o Piauí continuar no marasmo que sempre a nossa classe dirigente deixou mergulhado por não ser capaz de debelá-lo. Um aviso: não se combate pobreza só com entusiasmo, pois pobreza sempre foi o desafio de todos os governos em toda a evolução da humanidade.

* Deusval Lacerda de Moraes é Pós-Graduado em Direito

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