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Deusval Lacerda de Moraes

Imagem: AscomClique para ampliarDeusval Lacerda(Imagem:Ascom)Deusval Lacerda
Tive a satisfação de conhecer por ocasião do XL Festival de Violeiros do Norte e Nordeste recentemente realizado em Teresina, e que foi a sua estrela candente, a poetisa Mariana Teles, natural de São José do Egito/PE, cidade conhecida como Berço Imortal da Poesia, que tem o gene da arte no DNA por ser filha do poeta repentista Valdir Teles e da artesã Maria Elza. Hoje com 18 anos, mas desde os seis anos de idade já fazia as primeiras estrofes e atualmente com versos maduros, essa “filha dos sonetos”, como ela mesma se intitula, já é destaque entre os grandes poetas nordestinos.

A sua estada em Teresina foi verdadeira coroação, pois o seu CD “De verso em verso” virou livro patrocinado pelo empresário João Claudino, patrono dos violeiros. No prefácio, o poeta Pedro Mendes Ribeiro (presidente da Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí - AVIPOP) disse: “Enfatiza, com invulgar inteligência, a frieza de um mundo desumano onde a criança sem amor, no vício da droga que destrói o futuro e impõe um manto de miséria interminável, vive abandonada, dirigida pelas mãos cruéis do destino, em que o amanhã é imprevisível, mas quase sempre miserável”. E também disse: “O livro é o parâmetro entre a luz e a escuridão; entre a verdade e a hipocrisia; entre a dor e a paz; é um apelo no sentido do despertar de uma consciência crítica comprometida com o amor para o bem-estar da vida social”.

Tive ainda a honra de receber o seu primeiro autógrafo, assim: “Deusval, receba o meu primeiro autógrafo do meu primeiro livreto”. Ela levou para Recife, onde estuda Direito, o meu livro “A Verdade como Ideal de Vida”. E da sua obra genial destacaria “Crítica ao Hino Nacional”, onde diz:

Uma mão estendida sobre o peito / Quando o hino começa a ser cantado / É por cinco minutos exaltado / Mas ao fim do refrão ele é desfeito / Quem cultua em sinônimo de respeito / Ao que o duque em estrofe deixou dito / Causa um choro de dor em tom maldito / Bate palmas pra um show de hipocrisia / Cala um gesto que a boca denuncia / E mato eco do som do próprio grito
Proclamando uma falsa independência / Cultuando um herói que não é seu / Exaltando uma história que quem leu / Sentiu o gosto do fel da prepotência / Os capítulos de pura violência / Nos anais dos governos militares / Nas revoltas das causas populares / Em defesa do homem brasileiro / Desde a morte de Antonio Conselheiro / À ruína do povo de Palmares
O país das reformas sem finais / Exaltado na constituição / De igreja vendendo a salvação / O berçário maior dos marginais / A política das vendas de estatais / Nos reflexos da nossa economia / O direito nas mãos da minoria / Proferindo mandatos de igualdade / Extinguindo os princípios da verdade / Cumpre ordens da pobre burguesia
A história de glórias envergonha / Quem possui RG de brasileiro / No gatilho das mãos de um pistoleiro / Tomba a vida nos braços da maconha / Pátria pobre de homens de vergonha / A cultura da massa vinda impura / Sendo vítima fatal de uma mistura / Importada de outra freguesia / Alimenta os cifrões da porcaria / E envenena as raízes da cultura
A nação de gramado esverdeado / Onde driblam a lei de uma justiça / É o fórum reduto da injustiça / Que nem sempre o culpado é condenado / O direito dos homens é comprado / Bacharel parcelando seu diploma / Alterando o valor de cada soma / Pra lucrar com tributos alterados / As tribunas de enfermos contratados / Que o caráter induzido vive em coma
O país tropical prega beleza / De um Cristo que diz ser maravilha / Mas sem Cristo por trás de quem se humilha / Nas senzalas da fome e da pobreza / Capital comparada com Veneza / É também referência em violência / Mas a mídia alterou a sua essência / Pra vender uma história mal contada / Distribui uma imagem alienada / Divulgando capítulos de imprudência
Mãe gentil não conhece gentileza / Se conhece é pra uns e outros não / De um lado a fartura da nação / Já do outro os escombros da pobreza / O seu berço é esplêndido de avareza / Do azul da bandeira cor de anil / Uma mãe negar leite ser gentil / Gentileza não é, é crueldade / E quem pratica esse tipo de maldade / Aprendeu na escola do Brasil
Raça impura de homens sem moral / De justiça que vende a própria lei / País cheio de manchas que eu nem sei / Se existe mais sujo que o tal / Que ostenta um hino nacional / De alguém que falou em pátria amada / Mas de pátria do amor não tem é nada / E o verde do bosque é puro lodo / De metades de tudo sem ter todo / Pátria mãe de criança abandonada
Eis, pois, apenas aperitivo da obra magistral de Mariana Teles. Ela mesma diz que a sua história tem a poesia como fio condutor. Em face às desventuras do nosso povo, Pedro Mendes Ribeiro arrematou: “’De verso em verso’ é uma versão da geopolítica do Nordeste que nasceu com o descobrimento e permanece no indiferentismo atual em que o prazer suplanta a ética e a vergonha se curva na luxúria da satisfação”. Acrescentaria apenas para desejar vida longa à poetisa do pajeú pernambucano Mariana Teles, pelo seu encanto, beleza, simplicidade e criatividade.


*Deusval Lacerda de Moraes
Pós-Graduado em Direito

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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