Fechar
Blog Opinião
GP1
*Por Miguel Dias Pinheiro
Imagem: Divulgação/GP1Advogado Miguel Dias(Imagem:Divulgação/GP1)Advogado Miguel Dias
Há tempos que contestamos no Piauí as expressões preconceituosas de que uma pessoa humilde não pode representar nossa sociedade nos parlamentos e nos governos do estado e dos municípios. Sempre entendi tudo isso como uma discriminação e um preconceito, que agora aflorou fortemente quando a senadora Regina Sousa assumiu o lugar do governador Wellington Dias no Senado Federal, na qualidade de primeira suplente.

Na eleição de 2010, pela primeira vez o eleitor brasileiro votou no suplente para senador da República. Isso porque constou da urna eletrônica a foto tanto do titular como dos dois suplentes, Regina Sousa e José Santana, como primeiro e segundo suplentes, respectivamente, logo abaixo da foto do titular à cadeira ao Senado, o hoje governador Wellington Dias. Quem votou em Wellington para senador votou também em Regina e Santana para suplentes. E por que isso? Porque todos foram escolhidos em convenções partidárias e devidamente registrados no Tribunal Superior Eleitoral, sendo-lhes asseguradas todas as prerrogativas legais de candidatos aptos a votar e serem votados.

Então, na minha humilde visão, questionar hoje a situação da senadora Regina Sousa só pode ser mesmo entendido como um deplorável preconceito. Ora, se o novo sistema eleitoral obriga que apareçam na tela da urna eletrônica as fotos e os nomes dos suplentes ao Senado, como alguém ou algum incauto possa se atrever a contestá-lo? Somente com má intenção!

Na época, foi uma alteração importante no sistema eleitoral, para permitir que o eleitor tomasse conhecimento amplo e pleno em quem estaria votando para suplente de senador. Uma decisão inovadora, para que o eleitor soubesse em quem estava elegendo tanto para o cargo de titular como para os cargos de suplentes.
Imagem: Foto: ReproduçãoRegina Sousa(Imagem:Foto: Reprodução)Regina Sousa
O novo procedimento definido para a eleição de 2010 e as eleições vindouras constou da mini-reforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional. Na tela da urna eletrônica, portanto, lá estavam os rostos e nomes dos suplentes. Então, foi uma escolha consciente, diferentemente das escolhas em eleições anteriores, quando se omitiam e se escondiam as fotos dos suplentes.

Sem dúvida, quando o preconceito aflora - como uma ofensa contra um negro -, os contestadores da situação de Regina Sousa se esquecem de que no passado também se ocultavam os vices nas chapas para o Executivo federal, estadual e municipal. Hoje, tal qual a situação dos suplentes, é também obrigatória a presença das fotos dos candidatos a vice-governador(a) e a vice-presidente da República. Há transparência maior do que essa? Claro que não!

Ensina a literatura que, o preconceito na política é a arma dos poderosos. E devemos enfrentá-lo! No jogo político, o preconceito é visto como um juízo de valor pré-concebido, arquitetado às escuras, escondidas, invariavelmente manifestado por atitudes discriminatórias através de sentimentos e tendências comportamentais para ocupar espaços de decisão que pessoas consideradas inferiores na escala social possam ou venham a ocupar pelo voto ou não.

No caso de Regina Sousa, não tenho a menor dúvida de que os poderosos estão se sentindo impotentes, inoperantes, desconsertados. Resultado, com certeza, de frustrações que agora se transformam em raiva e hostilidade. Preconceituosos que deslocam toda essa ira para outros que consideram ou consideravam inferiores, resultando daí uma discriminação inconcebível e nojenta fruto de personalidades doentias e intolerantes, porque geralmente autoritárias, que sempre acreditaram nas normas das tradições, tornando-se hostis com aqueles que desafiam as regras antes estabelecidas impenetráveis e inquebrantáveis.

“Na política, a criação de preconceitos é arma muito utilizada por pessoas que já chegaram ao poder e não querem perdê-lo por nada neste mundo, ou por pessoas abastadas financeiramente que consideram um infortúnio enfrentar de forma igualitária outras de menor poder aquisitivo numa eleição. A coisa funciona assim: Quando se sentem ameaçados criam um título maldoso, ou fazem uma comparação com algo muito ruim, que não merece crédito e, com a ajuda de interlocutores, inclusive da imprensa, fazem da mentira inventada uma verdade imposta, criando perante a população, ou ao eleitorado para ser mais correto, um sentimento de descrença em relação à determinada pessoa ou partido, que aquele representa o lado ruim da política, ou dos políticos”, diz Júlio Salvidar, consultor empresarial.

Não se deve sacrificar Regina Sousa por apenas está cumprindo a lei eleitoral. Além de ser uma atitude preconceituosa, é também covardia. Sejamos sinceros, porque nossa democracia ainda traz consigo muitos e inúmeros resquícios do passado, época em que se “esfolava” publicamente quem se opusesse a interesses políticos inconfessáveis. E isso faz com que a sede de poder ainda hoje se sobressaia sobre o interesse geral. Como diz o consultor citado, “está mais do que na hora de abolirmos o apoio a esses tipos de manobras, de que principalmente as pessoas que lidam com a opinião pública repensem suas ações e passem a agir pelo bem comum, menos por seus interesses pessoais”.

*Miguel Dias Pinheiro é advogado

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.