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Teresina e o puxa-saquismo social

Artigo do jornalista Gil Sobreira.

Foto: Lucas Dias/GP1Jornalista Gil Sobreira
Jornalista Gil Sobreira

Nessa semana que se passou a população teresinense acompanhou com apreensão a tragédia que se assolou sobre os restaurantes Coco Bambu e Vasto, pertencentes a um grupo empresarial que há muitos anos lucra com as suas atividades empresariais na capital piauiense. Houve uma grande cobertura da imprensa local, com repercussão nacional, inclusive.  

Ocorre que o debate sobre a responsabilidade social das empresas privadas ficou escanteado, a empresa que desenvolve atividades econômicas de risco tem responsabilidades sobre a sua atividade, por isso que deve cumprir as leis de segurança do trabalho bem como todas as normas necessárias para ter um grande estabelecimento funcionando.

Não há razão para comoção que não seja com as pessoas que perderem seus empregos e aquelas outras que tiverem as suas atividades econômicas afetadas pela situação sem terem dado causa, como os comerciantes e prestadores de serviço do entorno do local. Se houve negligência, imperícia ou imprudência ao ponto de causar o acidente não se sabe, há de se aguardar os laudos técnicos dos órgãos responsáveis.

Com tudo isso chamou demais a atenção, pessoas que se notabilizam pela tentativa de alpinismo social ao ponto de fazerem campanhas de arrecadação de alimentos, fundos, para os funcionários do estabelecimento, como também “zerar” o estoque de uma das lojas de roupa mais caras do Estado por conta do parentesco da proprietária com os empresários do Cocobambu e Vasto.

Aqui fazemos loas a qualquer inciativa que vise ajudar ao próximo que mais necessita de maneira desinteressada, mas há de se ponderar se essa responsabilidade é da sociedade ou dos empresários?

O que está por trás disso, se não for o aproveitamento de uma oportunidade para ascender socialmente em um meio empresarial e social?
Inaugurou-se uma espécie de puxa-saquismo social que é muito próprio da nossa terra, aonde estão essas pessoas, que clamaram por zerar um estoque de uma loja onde uma roupa custa muito mais do que o mês de salário da imensa maioria dos piauienses, na tragédia diária que é a vida das pessoas que vivem nas periferias sem o auxílio estatal devido?

Quem são essas pessoas que se posicionaram politicamente contra a reposição orçamentária para quem passa fome no estado e no país? Quais são os interesses desses que nas tragédias diárias silenciam, nas sazonais, como enchentes e seca nada falam nas suas redes sociais “influentes”?

Não há como se conformar com essa inversão de valores que quer empurrar para a sociedade algo que é dos empresários que tem, ao que se sabe, totais condições de se reerguerem através do seu esforço e não da caridade interessada e publicada em redes sociais (essa, sabemos, não é aquela recomendada pela doutrina cristã).

Rogamos para que os órgãos de controle (Ministério Público, CREA, Corpo de Bombeiros, Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho), que por sinal, estranhamente, ainda não se teve nenhuma notícia de que efetivamente tenham aberto algum procedimento administrativo ou investigativo sobre o caso, acompanhem a situação de perto, garantam os direitos dos trabalhadores, (como as rescisões contratuais, FGTS, seguro desemprego,  e todos os direitos trabalhista) e que quem tenha responsabilidade sobre o que aconteceu arque, na forma da Lei, para que os alpinistas sociais entendam que situações como essa não são adequadas para uma exposição capaz de engajá-los em um meio em que os mesmos não pertencem e os expõe ao ridículo!

Jornalista Gil Sobreira 

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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