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Mortes por doenças negligenciadas aumentaram na pandemia no Brasil, diz estudo

Em 2020, a taxa de mortalidade para malária subiu mais de 80%, apesar da queda de 29% nas internações.

A pandemia da covid-19 ocasionou impactos no atendimento relacionado às doenças tropicais negligenciadas que passaram a registrar aumento da mortalidade e queda de internações nesse período de alta da doença. Os dados são de um estudo dos pesquisadores Nikolas Lisboa Coda Dias e Stefan Oliveira, da Universidade Federal de Uberlândia, em parceria com Álvaro A. Faccini-Martínez, da Universidade de Córdoba, na Argentina.

Os pesquisadores compararam os dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) durante os primeiros oito meses de 2020 com os valores médios do mesmo período dos anos de 2017 a 2019.

No ano de 2020, a taxa de mortalidade para malária subiu mais de 80%, apesar da queda de 29% nas internações. Já a dengue registrou aumento quase 30% nas internações e de 14% na taxa de mortalidade.

Doenças como a leishmaniose visceral e a leptospirose também registraram aumento de mortalidade de 33% e quase 40%, respectivamente. O número de internações por essas doenças diminuiu no período, com quedas de 33% e 44% aproximadamente.

Na avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Júlio Croda, houve aumento do número de casos dessas doenças na pandemia. “Houve redução dos casos notificados e aumento da letalidade”, disse.

“Houve uma desassistência às pessoas que são acometidas por essas doenças e que, geralmente, são populações mais vulneráveis”, destacou o infectologista.

Retrocesso

Na avaliação de Júlio Croda, o Brasil retrocedeu de dez a 20 anos no combate a essas doenças. Conforme ele, será necessário reconstruir os serviços de saúde já que todos os programas nacionais de controle para essas doenças sofreram algum impacto.

Ele disse ainda que a curva de redução de incidência que o país mantinha e de mortalidade associada a essas doenças tende a entrar em estabilidade até 2030.

“A gente perdeu uma década de combate a essas doenças, principalmente por conta da pandemia, da desassistência, da falta de diagnóstico e de um tratamento precoce”, avaliou o especialista.

Tuberculose

O presidente da SBMT afirmou que, depois de 15 anos, houve registro de redução das notificações de tuberculose em todo o mundo e crescimento do número de óbitos, inclusive no Brasil.

A tuberculose é a doença negligenciada responsável pelo maior número de mortes entre as populações mais vulneráveis, segundo Croda.

Relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), divulgado em outubro de 2021, relatou que os serviços de tuberculose estão entre os interrompidos pela pandemia de covid-19 em 2020. O impacto sobre essa doença foi particularmente grave e, em 2020, 1,5 milhão de pessoas morreram de tuberculose no mundo.

A OMS estima que 4,1 milhões de pessoas sofrem atualmente de tuberculose, mas não foram diagnosticadas com a doença ou não notificaram oficialmente às autoridades nacionais. Em 2019, o número de pessoas afetadas por tuberculose chegava a 2,9 milhões.

Doenças Negligenciadas

Mais de 1,7 bilhão de pessoas em todo o planeta sofrem com algum tipo de doença tropical negligenciada.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), elas somam um grupo diversificado de doenças transmissíveis que prevalecem em condições tropicais e subtropicais em 149 países, matam milhões de seres humanos e custam bilhões de dólares às economias em desenvolvimento a cada ano.

O Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas, lembrado neste domingo, 30, foi criado em 2019, por uma resolução da Assembleia Mundial da Saúde.

Em nota divulgada hoje, o coordenador de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Marcelo Wada, afirma que que a pasta vem investindo na vigilância dessas doenças e implementando ações para que se alcance a eliminação ou controle desse grupo.

“Existem muitos desafios para a eliminação das DTNs, incluindo mudanças climáticas, ameaças zoonóticas e ambientais, emergentes em saúde pública. Vamos avançar nas estratégias para controlar essas doenças”, afirmou.

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