O ex-sindicalista José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, voltou ao noticiário nesta semana ao ser citado no escândalo que investiga desvios de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Frei Chico é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), uma das entidades mencionadas na operação da Polícia Federal.
Quem é Frei Chico
Nascido em julho de 1942, José Ferreira da Silva nunca foi frei, nem se chama Francisco. O apelido surgiu ainda na juventude, quando a calvície lhe conferiu uma aparência semelhante à de um frade franciscano. Três anos mais velho que Lula, Frei Chico teve papel importante na introdução do irmão no universo sindical no final dos anos 1960, no ABC Paulista.

Após o golpe militar de 1964, Frei Chico se envolveu no sindicalismo e se filiou ao clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1969, sugeriu que Lula participasse da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, iniciando a trajetória sindical do futuro presidente. Segundo relatos, Lula aceitou após resistência inicial — e alguma "cachacinha", como contou o próprio Frei Chico em entrevista.
Apesar da relação fraterna, os dois mantêm contatos esporádicos atualmente. Frei Chico é descrito como mais radical do que Lula e mantém até hoje simpatia pelo comunismo. Em entrevista recente, defendeu que partidos de esquerda ocupem posições estratégicas no Judiciário, Ministério Público e Forças Armadas para promover mudanças estruturais.
Ligação com o Sindnapi
Aposentado há 29 anos, Frei Chico integrou o Sindnapi a convite de antigos companheiros de luta sindical. Durante entrevista à Revista Fórum em 2023, ele comentou, de forma breve, as denúncias envolvendo descontos indevidos em benefícios do INSS, afirmando que no Sindnapi "todo mundo é registrado" e negando irregularidades.
O escândalo que atinge o Sindnapi e outras entidades é investigado pela Polícia Federal e teria desviado cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo as autoridades. O presidente do Sindnapi, Milton Cavalo, declarou apoio às investigações e afirmou que o sindicato não foi alvo de mandados de busca e apreensão.
Histórico de investigações
Esta não é a primeira vez que Frei Chico aparece em investigações. Durante a operação Lava Jato, o Ministério Público Federal chegou a denunciar o ex-sindicalista e Lula por supostos recebimentos irregulares da empreiteira Odebrecht. De acordo com os procuradores, Frei Chico teria recebido mais de R$ 1,1 milhão, identificado com o codinome "Metralha" nas planilhas da empresa.
Na época, Frei Chico afirmou que os pagamentos eram referentes a serviços de consultoria. A Justiça rejeitou a denúncia em 2019, encerrando o caso.
Outro irmão de Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, também enfrentou investigações. Em 2007, a Polícia Federal apurou seu envolvimento em negociações de favores ligados a jogos ilegais.
O impacto do escândalo no INSS
A investigação que trouxe novamente Frei Chico ao centro das atenções já provocou consequências no alto escalão: o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi exonerado após a revelação do suposto esquema. As entidades investigadas teriam se beneficiado de descontos automáticos não autorizados nas aposentadorias e pensões, repassando valores sem consentimento dos beneficiários.
O Sindnapi afirma colaborar com as investigações e nega irregularidades.
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