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Ciência e Tecnologia

Mudança climática deixa o gelo no inverno mais perigoso, diz estudo

De acordo com um novo estudo, o número de afogamentos no clima frio é cada vez mais acentuado nas áreas mais amenas do Hemisfério Norte.

Segundo uma nova pesquisa relacionada à mudança climática e afogamentos durante o inverno, as mortes em razão de afogamento têm aumentado exponencialmente em regiões onde o inverno está mais ameno. O estudo, que foi publicado na revista PLosOne, examinou os casos de afogamentos em 10 países do Hemisfério Norte. O maior número deles ocorreu quando as temperaturas do ar estavam abaixo do ponto de congelamento, entre - 5ºC e 0ºC.

Os aumentos mais drásticos foram em áreas onde hábitos nativos e a luta pela sobrevivência exigem que as pessoas passem um tempo maior no gelo. Nos países estudados, crianças com menos de nove anos de idade e adolescentes e adultos entre 15 e 29 anos são os mais vulneráveis a esses acidentes.

Sapna Sharma, professora de biologia na Universidade York, em Toronto, que liderou o estudo, disse que as pessoas nem sempre se dão conta de como o aquecimento global vem aumentando os riscos associados às tradições de inverno, como patinação ou pescaria no gelo e andar com motoneve.

“Acho que existe uma separação entre mudança climática e os impactos locais cotidianos. Quando você pensa em mudança climática no inverno lembra dos ursos polares e das camadas de gelo, mas não nessas atividades que estão tão enraizadas em nossa cultura”, disse Sharma. Esses hábitos enraizados provocam uma sensação falsa de segurança, afirmou a professora.

“Pode estar 20 graus negativos hoje, amanhã e no fim de semana, mas na semana passada os termômetros marcaram 15 graus positivos”, disse ela. A ausência de um frio sustentado, o que leva a mais eventos de gelo e degelo, é crucial. Cada vez que o gelo derrete e volta a congelar ele fica um pouco mais frágil e pode permanecer assim durante o restante da estação fria.

“Temperaturas mais amenas significam que o gelo não fica tão espesso e nem sólido como deveria estar”, disse Robert McLeman, professor de geografia e estudos ambientais na Wilfrid Laurier University. “As pessoas passam por cima do gelo e não se dão conta de que ele está se desintegrando”.

Os autores compararam registros de morte e dados de temperatura no Canadá, Estônia, Alemanha, Finlândia, Rússia, Suécia, Itália, Japão e norte dos Estados Unidos. Analisaram cerca de quatro mil registros num período de 26 anos, embora o período de tempo tenha variado dependendo dos dados disponíveis em cada país.

No norte do Canadá e no Alasca, o número de mortes por afogamento é maior mesmo quando as temperaturas estão muito baixas. Segundo Sharma, provavelmente a razão disto é que as pessoas nessas regiões passam mais tempo no gelo. Comunidades indígenas que vivem próximas do Ártico dependem dos rios para comida e transporte, o que significa mais tempo no gelo no inverno e um risco maior de afogamento. A pandemia do coronavírus também colocou mais pessoas em risco.

“Se o inverno for como foi o verão, muitas pessoas passarão mais tempo em casas de campo na região de Ontário porque não podem ir para nenhum outro lugar”. Segundo a professora, o gelo com a água estancada em baixo, neve meio derretida ou buracos na superfície, no geral, é perigoso.

“Com a cobertura de neve fica mais complicado. As pessoas acham que há bastante neve sobre o gelo, que deve então estar mais denso e resistente, mas o fato é que a neve também age como isolamento térmico, derretendo o gelo mais rapidamente. “Precisamos, como indivíduos, adaptar nossas decisões e nos concentrarmos em como esses invernos que vêm mudando afetam os rios, lagos e riachos. “Hoje não é mais seguro como há 30 ou 40 anos”.

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