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Economia e Negócios

Alta do petróleo desafia Petrobras e pode levar a mais reajustes nos combustíveis

Preços descolam da realidade internacional e desafiam a estratégia da Petrobras.

A recente e significativa alta nos preços do petróleo tem levantado a preocupação de um novo aumento nos preços dos combustíveis no Brasil. Esta escalada nos preços do barril de petróleo está levando os valores praticados no país a se distanciarem cada vez mais dos preços internacionais, criando desafios para a estratégia da Petrobras de manter preços abaixo dos praticados por seus concorrentes.

Analistas do setor acreditam que o atual rali do petróleo deve manter a commodity em um patamar elevado até o final do ano, o que coloca em xeque a prática recente da Petrobras de segurar os preços dos combustíveis por longos períodos. A Petrobras mudou sua metodologia de preços em maio, deixando de seguir a política de paridade de importação (PPI) e passando a represar aumentos nos preços de derivados de petróleo produzidos em suas refinarias.

Na época, o barril do petróleo tipo Brent, referência internacional, estava cotado a cerca de US$ 72, seu valor mais baixo desde dezembro de 2021. No entanto, desde então, o preço do petróleo subiu consideravelmente, impulsionado pelo anúncio da Rússia e da Arábia Saudita de manter uma redução de oferta de 1,3 milhão de barris diários até o final do ano. Essa medida, inicialmente temporária, foi implementada em conjunto com outros membros da Opep+, a união da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados.

A alta no preço do Brent, que chegou a variar entre US$ 82 e US$ 87 até agosto, representou uma diferença de até 20% em relação ao patamar utilizado como referência no momento em que a Petrobras reduziu os preços dos combustíveis. Essa discrepância tornou a importação menos viável, levando a restrições na entrega de cargas em algumas bases de distribuição.

Diante da preocupação com o desabastecimento de diesel no país, a Petrobras anunciou em 16 de agosto um reajuste de 25,8% no valor do diesel e de 16,2% na gasolina produzidos em suas refinarias, após três meses de preços estáveis. No entanto, o preço do petróleo tipo Brent continuou a subir e superou os US$ 90 pela primeira vez neste ano em 5 de setembro.

Atualmente, a diferença entre os preços praticados pela Petrobras e os preços internacionais aumentou. A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) relata que, nesta quarta-feira (13), a diferença chegou a 16% no caso do diesel e a 11% na gasolina.

O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) calcula um descolamento de 15,86% no preço da gasolina da Petrobras em relação ao valor para o importador e de 15,52% no caso do óleo diesel.

Em resposta, a Petrobras afirmou que não antecipa suas decisões de preços e que eventuais reajustes são feitos com base em análises técnicas e independentes. A empresa destacou que sua estratégia desde maio incorpora suas melhores condições de produção e logística para oferecer preços competitivos em relação às principais alternativas de suprimento.

A estatal também busca proporcionar períodos de estabilidade de preços para seus clientes, evitando repasses da volatilidade conjuntural do mercado de petróleo e derivados. A Petrobras observa o equilíbrio com os mercados internacional e nacional, levando em consideração sua participação no mercado para operar de forma segura e rentável.

O represamento de aumentos nos preços de combustíveis pela Petrobras tem impacto direto na contenção da inflação no país, um dos desafios do governo federal, que busca reduzir a taxa de juros estabelecida pelo Banco Central. O grupo "transportes" tem um peso significativo na composição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de variação de preços no Brasil. A gasolina, em particular, corresponde a 5% do indicador.

Com o reajuste anunciado em agosto, o preço da gasolina teve um aumento de 1,24% no mês, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o diesel teve um aumento de 8,54%.

O mercado acompanha de perto a evolução dos preços dos combustíveis no Brasil, uma vez que isso afeta diretamente a inflação e, por consequência, a política de juros do país. Com a escalada dos preços do petróleo, a Petrobras enfrenta o desafio de equilibrar seus interesses com os do governo e dos consumidores, enquanto o país lida com uma alta da inflação e a necessidade de estimular a recuperação econômica.

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