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Talibã dependerá de ajuda externa para se manter no poder

Governos já anunciaram que congelaram apoio e FMI suspendeu o envio de fundos ao Afeganistão.

O Talibã tomou o poder no Afeganistão falando em combate à corrupção e recuperação econômica, mas para isso dependerá de ajuda internacional. Alguns governos, no entanto, anunciaram um congelamento do financiamento. Banco Mundial permanece em silêncio, mas o FMI anunciou nesat quarta-feira, 18, que suspenderá os fundos para o Afeganistão em razão da incerteza sobre o como será o governo.

O FMI deveria liberar uma parte final da ajuda de US$ 370 milhões a Cabul, no âmbito de um programa aprovado em 6 de novembro de 2020. O FMI já tomou medidas similares antes, quando parte dos seus membros não reconheceram o governo de um país, como no caso da Venezuela. A organização é formada por 190 países-membros que estão divididos sobre a crise no Afeganistão.

Segundo analistas, a renda de ajuda internacional equivale a dez vezes a receita do Talibã. Em 2020, ela representou 42,9% do PIB afegão, segundo o Banco Mundial. “A economia do Afeganistão se caracteriza por sua fragilidade e dependência da ajuda internacional”, afirma o Instituto Brookings, de Washington, destacando que o desenvolvimento econômico e a diversificação do setor privado são “prejudicados pela insegurança, instabilidade política, fragilidade das instituições, infraestrutura insuficiente e corrupção generalizada”.

Segundo o presidente do Banco Central do Afeganistão, Ajmal Ahmady, o Talibã tem acesso a 0,1% ou 0,2% das reservas monetárias do país. “As reservas internacionais afegãs nunca estiveram em perigo”, garantiu o funcionário, que deixou 0 país no domingo.

“O volume de reservas do Banco Central alcançava aproximadamente US$ 9 bilhões na semana passada. Mas isso não significa que a instituição tinha fisicamente US$ 9 bilhões em seus cofres”, afirmou Ahmady.

A renda atual do Talibã é estimada entre US$ 300 milhões e mais de US$ 1,5 bilhão anuais pelo Comitê de Sanções do Conselho de Segurança da ONU, que publicou um relatório em maio de 2020.

O Talibã se financia, principalmente, com atividades criminosas. Entre elas, o cultivo de papoulas, das quais extraem ópio e heroína, ou seja, do tráfico de drogas, mas também da extorsão de empresas locais e de resgates obtidos após sequestros. “Boa parte de sua renda também é resultado da arrecadação de impostos”, afirma Charles Kupchan, do Council on Foreign Relations. O Taleban se tornou especialista em tributar quase tudo o que passava pelos territórios que controlavam, fossem projetos de governo ou negócios, acrescenta o analista.

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse na terça-feira que o Afeganistão não será mais produtor de ópio. A produção será praticamente “reduzida a zero” de novo, afirmou Mujahid, referindo-se à proibição vigente quando controlavam o país, até 2001.

Por enquanto, e apesar dos bilhões de dólares gastos ao longo dos anos pela comunidade internacional para erradicar a papoula, o Afeganistão produz mais de 80% do ópio mundial. Centenas de milhares de empregos dependem desse negócio, em um país assolado pelo desemprego após 40 anos de conflito. Por isso, o Talibã reconhece que a melhora da economia passa pela ajuda externa. “Tivemos trocas com vários países. Queremos que nos ajudem”, afirmou Mujahid.

Atualmente, o grupo parece se beneficiar de uma melhor recepção internacional do que em seu regime anterior, de 1996 a 2001. Rússia, China e Turquia saudaram suas primeiras declarações públicas. Vários países doadores, com EUA à frente, manifestaram cautela e disseram que vão se manter vigilantes. Washington diz que espera que o Talibã respeite os direitos humanos, especialmente os das mulheres.

O Canadá declarou que não pretende reconhecê-los, enquanto a Alemanha anunciou, na segunda-feira, a suspensão de sua ajuda ao desenvolvimento do Afeganistão, que previa o desembolso de € 430 milhões este ano, sendo € 250 milhões para o desenvolvimento.

Para Kupchan, do Council on Foreign Relations, o Talibã tem interesse em ter uma boa imagem, se quiser obter ajuda econômica. Principalmente porque a China, a segunda maior economia do mundo, não substituiria os países ocidentais financeiramente. “Os chineses são muito mercantilistas. Tendem a se interessar pelos países dotados de um bom entorno comercial, onde podem construir suas novas rotas da seda”, explica. “Os chineses se instalaram na Síria? No Iraque? No Líbano? Não. Consequentemente, eu não superestimaria o papel da China no Afeganistão.”

Construir uma boa reputação para receber ajuda internacional é um fator estratégico, já que “os ativos do Banco Central que o governo afegão possui nos EUA não serão colocados à disposição do Talibã”, alertou, na segunda-feira, um responsável do governo do presidente americano, Joe Biden.

Os afegãos contam com as remessas de seus parentes no exterior, que em 2020 totalizaram US$ 789 milhões, segundo o Banco Mundial. A Western Union, porém, anunciou a suspensão das transferências de dinheiro para o Afeganistão a partir de segunda-feira.

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