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Com hiperinflação, Venezuela vai cortar seis zeros da moeda

Banco Central do país anunciou a reconversão monetária e o lançamento do bolívar digital.

Na tentativa de conter a inflação dos últimos anos e estabilizar a economia nacional, a Venezuela vai cortar seis zeros do bolívar, moeda nacional, a partir de 1º de outubro. A reconversão monetária, anunciada pelo Banco Central da Venezuela (BCV) nesta quinta-feira, 5, é a terceira em 15 anos, e também trará como novidade a implantação do bolívar digital - moeda emitida pelo BCV sem formato físico.

A medida era esperada por especialistas em meio a uma espiral inflacionária que fechou em 2020 com 2.959,8% da inflação acumulada e em 2019 com 9.585,5%, segundo dados do BCV. A decisão também visa "facilitar" o uso do bolívar, atingido por uma inflação acumulada de 264,8% entre janeiro e maio.

"A partir de 1º de outubro de 2021, o bolívar digital entrará em vigor, aplicando-se uma escala monetária que retira seis zeros à moeda nacional. Ou seja, todos os valores monetários e tudo expresso em moeda nacional serão divididos por um milhão", diz o comunicado do Banco Central.

A moeda digital (ou Central Bank Digital Currencies, na expressão em inglês) é mais similar a uma moeda convencional - podendo ser definida como uma extensão dela - do que a uma criptomoeda como o bitcoin, pois ela tem lastro na própria moeda. Outra diferença é que ela é custodiada por instituições financeiras - ou seja, o saldo sempre está dentro de um banco, não podendo ser trocada livremente por dois particulares - o que dificulta operações criminosas, como lavagem de dinheiro. Atualmente, o Brasil discute a implantação do "real digital", cujas diretrizes gerais foram apresentadas pelo BC em maio.

Na mesma data do lançamento do bolívar digital, começarão a circular também as novas notas impressas, nos valores de 5, 10, 20, 50 e 100 bolívares, e uma moeda de 1 bolívar. Todas elas serão cunhadas com o rosto de Simón Bolívar, um dos libertadores da América, e com uma alusão à batalha de Carabobo, momento chave da independência venezuelana.

"A introdução do bolívar digital não afeta o valor da moeda, ou seja, o bolívar não vai valer mais ou menos, apenas que para facilitar seu uso está sendo realizada uma escala monetária mais simples", acrescenta o comunicado do BCV. A taxa de câmbio, contudo, continua sendo definida pelo sistema de câmbio venezuelano.

O objetivo é "manter a inclusão" de todos os venezuelanos "e atender às suas necessidades de transação em todo o território nacional". Por isso, ressaltam que o BCV "continuará a atender à emissão do bolívar na sua expressão física".

Com a desvalorização do atual bolívar soberano, as notas praticamente desapareceram do dia a dia dos venezuelanos, pois a de maior denominação, a cédula de um milhão de bolívares, vale cerca de 25 centavos de dólar. Por conta disso, o país passa por um processo de dolarização transacional: a moeda norte-americana é a mais usada nos pagamentos à vista. É cada vez mais comum que os preços de qualquer comércio sejam refletidos em dólares.

A maioria dos pagamentos em bolívares é feita com cartão ou com transferência automática por meio de uma plataforma chamada Mobile Payment. No entanto, um dos maiores problemas que este tipo de pagamento apresenta deve-se ao precário serviço de internet no país, o que, muitas vezes, inviabiliza o pagamento através destas plataformas e até mesmo a utilização de smartphones. Nas ruas, é comum ouvir falar de "milhares" em vez de "milhões" na hora de comprar mercadorias.

O comunicado acrescenta que "esta mudança na escala monetária" se baseia "no aprofundamento e desenvolvimento da economia digital" na Venezuela e considera-a "um marco histórico necessário no momento em que o país inicia a trajetória de recuperação econômica".

Em 2007, a Venezuela passou por um primeiro processo de reconversão com a eliminação de três zeros da moeda que se tornou o forte bolívar, no governo de Hugo Chávez. Em 2018, ocorreu outro processo, conduzido pelo presidente Nicolás Maduro, que culminou com o nascimento do atual bolívar soberano, que retirou outros oito zeros da moeda.

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