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CEO do TikTok tem comando limitado e sofre pressão dos EUA

Washington quer regulamentar aplicativo chinês, que se diz independente das políticas de Pequim.

Recentemente, o TikTok tentou conter as preocupações dos legisladores dos Estados Unidos de que a rede social representa uma ameaça à segurança americana porque é propriedade da empresa chinesa de internet ByteDance. O aplicativo de vídeo viral insistiu que tinha uma relação independente com sua empresa controladora e que o CEO da rede estava no comando.

“O TikTok é liderado por seu próprio CEO global, Shou Zi Chew, alguém que nasceu e vive em Cingapura”, escreveu o TikTok em uma carta aos legisladores americanos em junho.

Mas, na verdade, o poder de decisão de Chew sobre o TikTok é limitado, de acordo com 12 ex-funcionários e executivos do TikTok e da ByteDance.

As decisões a respeito do serviço – inclusive as medidas para reforçar as transmissões ao vivo e as compras pelo TikTok – são tomadas por Zhang Yiming, fundador da ByteDance, assim como por um executivo de estratégia sênior da Bytedance e por um chefe da equipe de pesquisa e desenvolvimento do TikTok, disseram as pessoas, que pediram para não ser identificadas por medo de represálias. O crescimento e a estratégia do TikTok, ambos liderados por equipes da ByteDance, respondem não a Chew, mas ao escritório da empresa controladora em Pequim, disseram as fontes.

Os procedimentos ilustram a corda bamba na qual Chew, 39 anos, caminha como chefe de um dos aplicativos de redes sociais mais populares do mundo. Desde que foi nomeado CEO do TikTok em maio de 2021, ele teve que abrir caminhos apresentando-se ao ocidente como o líder autônomo de um serviço global, ao mesmo tempo em que atendia às demandas da empresa controladora do aplicativo.

Chew enfrenta cada vez mais desafios. Como o TikTok invadiu os smartphones das pessoas e conquistou cerca de 1,6 bilhão de usuários ativos por mês, seus laços com a ByteDance levaram a preocupações de que o aplicativo talvez esteja desviando os dados dos usuários para as autoridades chinesas. Nos últimos meses, legisladores e agências reguladoras dos EUA questionaram de forma contínua as práticas do TikTok com os dados dos usuários, reacendendo um debate sobre como os EUA deveriam lidar com as relações comerciais com empresas estrangeiras.

Há poucos dias, o diretor de operações do TikTok testemunhou no Congresso dos EUA e minimizou as conexões do aplicativo com a China. Vinte e quatro horas depois, o presidente Joe Biden assinou um decreto para intensificar os poderes do governo federal para bloquear o investimento chinês em tecnologia no país e limitar o seu acesso a dados privados dos cidadãos americanos.

Por e-mail, o TikTok disse que Chew era quem dava a última palavra a respeito das decisões de produto e de estratégia do aplicativo. A ByteDance disse ter familiaridade com os negócios da empresa.

Quem é Shou Zi Chew?

Pouco se sabe a respeito de Chew e como ele gerencia o TikTok. Mas os ex-funcionários do aplicativo e da ByteDance disseram que ele focava no desenvolvimento de disciplina financeira para o aplicativo no caso de uma crise global. Ele apertou os orçamentos, encerrou experimentos de marketing e demitiu funcionários na América do Norte, conforme o aplicativo transferia mais operações para Cingapura, disseram as fontes. Chew também se reuniu com executivos de negócios globais e autoridades reguladoras da Europa.

Em uma reunião no final do ano passado, um funcionário do TikTok perguntou a Chew onde ele via o aplicativo daqui a cem anos. “Eu só quero lucrar no próximo ano”, disse ele, de acordo com três pessoas que estavam presentes.

Mas a ByteDance tem mais controle, disseram outros. “Se ele não desejasse fazer algo que a ByteDance quisesse que ele fizesse, poderia ser demitido e outra pessoa ocuparia o cargo dele”, disse Salvatore Babones, diretor do departamento de China e sociedades livres do Center for Independent Studies, think tank australiano, em relação a Chew.

Chew reconheceu um relacionamento frequente com a ByteDance que existe desde quando ele ajudou a investir na empresa há aproximadamente uma década.

“Fiquei muito próximo do pessoal da ByteDance por causa do meu relacionamento inicial com eles”, afirmou em uma entrevista em março com o investidor bilionário David Rubenstein, cuja empresa, o Carlyle Group, tem uma participação na gigante chinesa. Chew também comentou que conheceu o TikTok primeiro como um “criador de conteúdo”, chegando a ter “185 mil seguidores”. (Ele parecia estar se referindo a uma conta corporativa que postava vídeos dele enquanto era executivo da Xiaomi, uma das maiores fabricantes de celulares da China.)

Nascido e criado em Cingapura, Chew estudou economia na University College London e fez mestrado em administração de empresas em Harvard. Em 2010, após estagiar no Facebook, foi trabalhar na DST Global, empresa de capital de risco comandada pelo bilionário russo Yuri Milner.

Chew, que é fluente em mandarim, tornou-se o líder da empresa na China. Ele fechou alguns dos negócios mais lucrativos da história da internet chinesa, entre eles os investimentos nas plataformas de comércio eletrônico JD.com e Alibaba, e o serviço de transporte por aplicativo Didi. Em 2011, ele ajudou a liderar o investimento de US$ 500 milhões da DST Global na Xiaomi.

Em 2013, Milner pediu a Chew para conhecer Zhang, que havia criado um aplicativo agregador de notícias chamado Jinri Toutiao. Os dois construíram uma boa relação e criaram um veículo de investimento com Milner, que liderou um financiamento de US$ 10 milhões na empresa de Zhang naquele mesmo ano, disseram três pessoas a par do acordo.

O agregador de notícias acabou se tornando a ByteDance – agora avaliada em cerca de US$ 360 bilhões, de acordo com a PitchBook –, que é dona do TikTok, da versão chinesa do aplicativo conhecida como Douyin e de inúmeros empreendimentos de software para educação e para empresas.

Em 2015, Chew foi trabalhar na Xiaomi como diretor financeiro. Ele conduziu a oferta pública inicial da fabricante de dispositivos em 2018, liderou seus esforços internacionais e se tornou o rosto da marca na língua inglesa.

“Shou cresceu com a língua e a cultura americana e chinesa ao redor dele”, disse Hugo Barra, ex-executivo do Google que trabalhou com Chew na Xiaomi. “De forma objetiva, ele é a melhor pessoa que já conheci no mundo dos negócios na China para desempenhar esse papel incrível de comandar uma empresa chinesa que deseja se tornar uma potência global.”

Em março de 2021, Chew anunciou que passaria a trabalhar na ByteDance como diretor financeiro, reforçando especulações de que a empresa iria abrir o capital. (Ela continua sendo uma empresa de capital fechado.)

Dois meses depois, o TikTok nomeou Chew como CEO, com Zhang elogiando o “profundo conhecimento da empresa e da indústria” do cingapuriano. No final do ano passado, Chew deixou seu cargo na ByteDance para focar no TikTok.

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