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Política

Agência Reuters:Obra decide eleição de véspera em cidade do Piauí

Vila Nova do Piauí fica a 364 km de Teresina, capital do Estado

Os 2.432 eleitores de Vila Nova só têm uma opção de voto para eleger seus representantes na eleição de domingo nesta cidade do semi-árido do Piauí. Um acordo entre lideranças políticas da cidade gerou uma chapa única, com um candidato a prefeito, outro para vice e nove para vereador, o número exato de cargos em disputa.

"Eu nunca tinha visto algo parecido", afirmou o cientista político Cleber de Deus, salientando que é mais um caso inédito para a política piauiense. "Inédito e ruim", acrescentou.

O fato inusitado e típico do clientelismo político se deve à construção de uma barragem na cidade, que uniu os sete partidos com representação local. Antes da chapa única, eram dois candidatos a prefeito e 23 a vereador.

De acordo com o vereador Reinaldo Jovelino (PMDB), que lançou candidatura para prefeito, mas a retirou para apoiar o candidato oficial, a chapa é para o bem do povo.

"Esse acordo visa a barragem que o deputado federal Marcelo Castro (PMDB-PI) conseguiu para nossa cidade. São mais de R$ 4 milhões para a construção da obra, que era aguardada há anos pela população", disse ele, explicando que o objetivo da aliança é evitar disputas que possam prejudicar a obra.

Embora seja do mesmo partido do deputado federal, Marcelo não tinha seu apoio direto. O candidato preferido e que se confirmou como único postulante à prefeitura é José Naves Rocha (PSB).

Uma vantagem, segundo os candidatos e líderes dos partidos, é o fato de terem gastos reduzidos com campanha eleitoral - a cidade não tem horário político e são poucos os candidatos que gastaram algo com publicidade. Afinal, como estão todos eleitos, não é preciso despender grandes valores na campanha. O candidato a prefeito, por exemplo, gastou 8 mil reais, menos de 11 por cento do seu patrimônio declarado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Já os candidatos a vereador quase não gastaram nada. A soma dos investimentos dos nove vereadores não chega a 15 mil reais, o que pode ser verificado nas ruas da cidade. Não existem cavaletes, bandeiras ou santinhos de candidatos espalhados. "Até parece que não vai ter eleição", disse o agricultor Antônio Rodrigues, 33 anos.

AFRONTA À DEMOCRACIA

Mas, o acordo político em Vila Nova divide opiniões. A advogada Margareth Coelho, especialista em direito eleitoral, esclarece que o voto é o exercício pleno de cidadania.

"No Brasil, cidadão é aquele que vota, e votar é escolha. Então, quando você é tolhido nesse direito é como tivesse sendo proibido de exercer a sua cidadania", afirmou, manifestando-se contrária à candidatura única.

"Eleição é certame, tem que ter escolha. E o que está acontecendo em Vila Nova é um desrespeito à democracia", acrescentou.

Um dos pontos discutidos é com relação ao afastamento ou morte de um dos vereadores, já que não existem suplentes. "Caso o vereador tenha o diploma cassado, seja afastado ou até morra, a vaga fica aberta e uma nova eleição é realizada", informou a assessoria de imprensa do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí.

Vila Nova do Piauí fica a 364 km de Teresina, capital do Estado. Tem uma população de 3.030 habitantes, conforme o último censo do IBGE, e produto interno bruto (PIB) de 7.549 milhões de reais. A economia do município é estritamente agrícola com produção de mudas e castanhas de caju. Não existem empresas na cidade, apenas algum comércio. O maior empregador é o serviço público. O Fundo de Participação Municipal (FPM) não ultrapassa os R$ 2,7 milhões mensais.

 

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