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Piauí

Fundação Museu do Homem Americano pode deixar administração do Parque Nacional Serra da Capivara

Declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, parque nacional do Piauí enfrenta crise por falta de recursos

Após mais de 20 anos coordenando diretamente as pesquisas, divulgação, fiscalização, administração e todas as obras de infraestrutura do Parque Nacional Serra da Capivara através de um convênio de co-gestão e de um contrato de parceria com o governo brasileiro, a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), anunciou oficialmente ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que não dispõe de recursos para manter os projetos implantados na reserva ambiental.

Imagem: André PessoaPedra furada com anoitecer (Imagem:André Pessoa)Pedra furada com anoitecer

Mesmo contando com o importante patrocínio da Petrobras, através da Lei Rouanet, para proteger o parque, a instituição científica que é reconhecida no mundo inteiro pela excelência dos seus trabalhos, pode deixar, a qualquer momento, a administração do Parque Nacional Serra da Capivara nas mãos do ICMBio, o que certamente irá desencadear uma série de problemas que ameaçam a integridade de seu patrimônio cultural e natural, tendo em visto a falta de recursos orçamentários do órgão federal que não dispõe, sequer, de um simples funcionário concursado trabalhando no parque piauiense. O único agente oficial do ICMBio na Serra da Capivara é o chefe da unidade, Ítalo Robert, que vem fazendo um bom trabalho, principalmente na área da fiscalização, apesar da falta de estrutura.

Nos últimos meses, em função da falta de repasses de recursos pelos órgãos do governo brasileiro, o parque nacional vem sendo mantido com os recursos da Petrobras que são insuficiêntes e com várias restrições. Por outro lado a Fumdham mantém uma série de projetos, não apenas no Piauí mais em vários estados do Nordeste, a exemplo da pesquisa e do resgate arqueológico, histórico e paleontológico no canteiro de obras da transposição do rio São Francisco, o que lhe possibilita continuar seus trabalhos científicos.

Segundo a pesquisadora Niéde Guidon, a responsabilidade pela integridade do patrimônio cultural da Serra da Capivara é do governo brasileiro que assumiu compromisso perante a ONU através da Unesco. Niéde se mostra bastante preocupada pois foi ela quem assinou o termo de compromisso se responsabilizando pela preservação, manutenção e pesquisas desse imenso patrimônio. Ela teme que a falta de fiscalização nas guaritas, possibilidade provável de acontecer por falta de recursos, possa desencadear invasões da unidade de conservação e a consequente ameaça a sua riqueza natural e cultural.

Somente em São Raimundo Nonato a Fumdham emprega quase 100 técnicos e funcionários que trabalham em seus laboratórios, nas guaritas do parque, em serviços de manutenção dos circuitos turísticos, na manutenção das estradas internas, entre vários outros serviços imprescindíveis para o bom funcionamento do parque. Sem os recursos para manutenção desses trabalhos, a Serra da Capivara corre o risco de se transformar num parque nacional sem controle de sua área, ameaçado pelos caçadores e vândalos e com seu patrimônio cultural reconhecido pela Unesco correndo sérios riscos.

Guidon reclama que todo ano precisa apelar para as autoridades brasileiras como se estivesse pedindo um favor, quando ao contrário, ela tem dedicado os últimos 30 anos de sua vida tentando proteger e preparar o parque para o futuro. Até mesmo recursos próprios de sua aposentadoria já foram aplicados na reserva para evitar maiores danos. No entanto, com quase 80 anos, Niéde Guidon fica perplexa ao saber que nem mesmo seu mais antigo sonho - o de um país que reconhece e valoriza seu patrimônio - esteja cada dia mais distante.

Na semana passada o jornal O Estado de São Paulo trouxe matéria destacando o abandono por parte do Governo Federal das unidades de conservação do país inteiro. Para Niéde Guidon, falando especificamente da Serra da Capivara, caso o aeroporto em construção
na cidade de São Raimundo Nonato já estivesse concluído, o parque teria um grande fluxo de visitantes e com isso recursos para sua manutenção. No entanto, como ficou comprovado algumas semanas atrás, apenas 5 funcionários estão trabalhando nas obras do aeroporto.

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