Fechar
GP1

Piauí

Entenda o feminismo e a luta das mulheres por mais direitos

O feminista defende que a mulher tenha o direito de poder escolher e que a sua escolha deve ser respeitada, e principalmente que elas possuam direitos iguais aos homens.

Com várias correntes, o Feminismo tem sido cada vez mais discutido pelas mulheres e pelos próprios homens. Em muitos casos, a ignorância em relação ao assunto e a concepção de que feminismo é o contrário de machismo, fazem com que as pessoas ainda acreditem que a feminista “não gosta de homem”, que “tem raiva de homem”, que “ela não pode se maquiar”, “que não pode andar de roupa curta”, “que ela não pode ser dona de casa”, entre outras frases que não representam o movimento.

A verdade é que o feminismo possui várias correntes, onde há a defesa de diversos assuntos, mas o movimento surgiu com o objetivo de lutar contra todas as formas de opressão exercidas sobre as mulheres e pela igualdade entre os gêneros. Ou seja, a feminista defende que a mulher tenha o direito de poder escolher e que a sua escolha deve ser respeitada, e principalmente que elas possuam direitos iguais aos homens.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Manifestantes em ato em prol das mulheresManifestantes em ato em prol das mulheres

Por exemplo, se a mulher quiser ser uma dona de casa, o feminismo defende que essa é uma decisão que cabe a ela e que isso não deve ser imposto pela sociedade, pelo marido, namorado ou qualquer outra pessoa, que acha que lugar de mulher é cuidando do lar, que quando a mulher se casa ela não deve trabalhar, ou se ela é mãe, ela deve abdicar de ter um emprego para ficar cuidando da casa e dos filhos. O que o feminismo defende é que se a mulher quer ser uma dona de casa, que a escolha seja feita por ela, mas não imposta. A escolha é dela.

A jornalista e poetisa Mírian Gomes, que está escrevendo o livro “O Silêncio dos Inocentes”, que trata de assuntos tabus como estupro, abuso sexual de crianças e suicídio, conversou com o GP1 sobre o feminismo.

“Ao contrário do que muita gente pensa, o feminismo não luta pela superioridade da mulher em relação ao homem, na verdade é um movimento político, filosófico e social que luta pela igualdade de gênero e pelos direitos das mulheres. Surgiu na Europa em meados do século XIX, mas os momentos mais intensos do feminismo foram nas primeiras décadas do século XX, quando as mulheres passaram a questionar ferrenhamente a exclusividade do poder social, político e econômico dos homens. Um dos símbolos que alavancou o feminismo foi a publicação do livro ‘O segundo sexo’, em 1960, obra da escritora feminista francesa Simone de Beauvoir, que desmistificou a hierarquização dos sexos como sendo biologicamente natural”, disse Mírian Gomes.

  • Foto: Lucas GomesEscritora Mírian GomesEscritora Mírian Gomes

Feminismo é o contrário de Machismo?

Feminismo não é o contrário de Machismo como muitos ainda acreditam. O Machismo busca oprimir as pessoas, entre elas as mulheres, o que não é o caso do feminismo, que é apenas uma busca das mulheres pela igualdade de gênero.

“Muitos mitos são difundidos por aí em relação ao feminismo. Um deles é a falsa ideia de que feminismo é o contrário de machismo. Não é verdade. O contrário do machismo é o femismo. Enquanto o feminismo reivindica a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o femismo traz a ideologia de superioridade da mulher sobre o homem, e o machismo prega a superioridade do homem sobre a mulher. São três conceitos diferentes”, explicou a escritora.

  • Foto: Facebook/Marcha Mundial das MulheresCartaz contra o MachismoCartaz contra o Machismo

O homem pode ser feminista?

Esse é um dos pontos que causa bastante discussão. Será que um homem que luta pela igualdade das mulheres, pode ser considerado feminista? Para Mírian Gomes “não existe só mulher feminista, existem homens feministas que lutam pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e isso é extremamente louvável. Frequentemente vemos manifestações de artistas, cantores, atores, políticos, ativistas, filósofos, entre outros, afirmando a importância da luta do feminismo e se auto intitulando homem feminista que luta pelos direitos das mulheres. Podemos citar como exemplo aqui no Piauí, o promotor Francisco de Jesus que é uma referência na luta pela causa dos direitos das mulheres. Ele é um exemplo de que o homem pode sim ser feminista e feminismo não é uma coisa apenas da mulher e pode ter adeptos de todos os gêneros”.

Fatos errados sobre o feminismo

Há muito conceito errado sobre o feminismo. Um deles é que a feminista não gosta ou odeia os homens. A feminista não odeia ou quer ser superior ao homem, quer apenas igualdade dos direitos. Outro ponto é que muitas pessoas ainda acreditam que o uso de roupas sensuais ou maquiagem deixam a mulher “menos feminista”, que uma dona de casa não pode ser considerada uma feminista, ou que elas não querem se casar e ter filhos.

“Feminista não é só aquela mulher que não se casa, que não tem filhos ou que segue uma carreira profissional. Não tem nada a ver uma coisa com outra. Feministas são pessoas, homem ou mulher, que lutam pela igualdade de direitos. Dizer que não pode usar roupa sensual ou maquiagem, pois você vai ficar menos feminista, isso não tem nada a ver. O feminismo luta pelo direito da mulher, inclusive de decisão. E se ela quiser dona de casa? Se quiser vestir uma roupa sensual? Se ela quiser passar maquiagem, mudar o cabelo, não casar, não ter filhos? E se quiser largar a carreira para ser dona de casa?, entre outras coisas, isso tudo são direitos conquistados, pois antes a mulher não tinha opção de escolha”, destacou.

  • Foto: Lucas GomesMírian Gomes, jornalista e escritoraMírian Gomes, jornalista e escritora

Mulheres que são contra o feminismo

Apesar de ser um movimento que luta pelos direitos das mulheres, muitas ainda não contra essa iniciativa. Algumas por simples desconhecimento do objetivo principal. “Nos últimos anos, não só no Brasil, como no exterior, diversas correntes tem combatido o feminismo como se ele fosse o mal inclusive com muita desinformação e principalmente por parte das mulheres achando que as mulheres querem ser superiores. Eu vejo que o ativismo em relação ao feminismo não pode parar e que a informação ainda é o instrumento mais importante para que essas ideias deturpadas não sejam passadas para frente”, disse.

  • Foto: Lucas Dias/GP1Manifestantes em ato no Palácio do KanarkManifestantes em ato no Palácio do Kanark

A escritora afirma que ainda existem mulheres machistas. “Eu destaco aqui veementemente a questão da mulher machista. Sim muitas mulheres não percebem que elas estão alimentando no próprio sistema onde elas são as vítimas. Mulher que critica outra mulher porque ela se separou, porque casou com um homem novo ou mais velho ou com homem rico, porque traiu ou porque escolheu a carreira em que o seu corpo é valorizado. Então não basta conscientizar o homem apenas, muitas mulheres ainda precisam ser conscientizadas. Nós nos espantamos e achamos uma prática terrível aquelas sogras que queimam o rosto das noras afegãs, que descontam nas mais novas todo o ódio, mas nós não somos diferentes delas. Nós somos terríveis também com as mulheres”, declarou.

Ela acredita que as mulheres precisam ter consciência do seu papel na sociedade. “Eu acho que conscientizar a própria mulher sobre o seu papel na sociedade ainda é um grande desafio. Elas atacam as mulheres, mas não atacam os homens. Nós estamos acostumados a sempre apontar a mulher como a culpada de todas as situações. Uma mulher machista só para pra pensar nas coisas que ela prega quando ela é a vítima ou é alguém da família”, destacou Mírian.

Feminismo tratado de forma negativa

“Muitas vezes é tratado de forma negativa justamente porque ainda vivemos numa sociedade de regime patriarcal. Estamos longe de termos direitos iguais, ainda recebemos menos que os homens, mesmo tendo a mesma formação, mesmo cumprindo a mesma função, ainda vemos muito diferença de tratamento entre homens e mulheres em diversos aspectos da sociedade. Essa visão negativa se deu por conta da reação na época do feminismo, onde só se dava destaque às feministas radicais. Eram as feministas que odiavam radicalmente os homens. Inclusive isso é um pensamento já ultrapassado”, afirmou a escritora.

  • Foto: Elaine CamposMulheres em ato contra a violência em São PauloMulheres em ato contra a violência em São Paulo

Violência Sexual e Agressão

Um dos temas mais debatidos pelo movimento é o alto índice de violência sexual contra as mulheres. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no mundo, 1 em cada 3 mulheres já sofreu algum tipo de violência física ou psicológica em algum momento da sua vida.

No Brasil uma mulher é espancada a cada 15 segundos, a cada 12 minutos uma mulher é estuprada, mais de 25% das mulheres agredidas ainda convivem com o agressor, neste carnaval uma mulher foi agredida a cada 3 minutos no Rio de Janeiro e mais da metade dos assassinatos de mulheres são cometidos por familiares e parentes. Esses são só alguns dos dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a violência contra a mulher no nosso país.

  • Foto: Lucas GomesMírian GomesMírian Gomes

“Quando acontece algum crime contra a mulher, para justificar o que aconteceu, costumam dizer que ela ‘precisava se dar o respeito’. Uma criança de 4 meses que foi abusada pelo pai, ela não se dá o respeito, é isso? E aquela senhora idosa que não saia mais da cama e que ficava só deitada, e o homem foi lá e abusou dela. Ela não se dá o respeito? Essa questão da roupa também não existe. No Afeganistão as mulheres andam de burca e é um dos países com maiores índices de estupro do mundo e a mulher não mostra nem os olhos”, afirmou.

Culpar a vítima tem sido cada vez mais recorrente no nosso país e isso contribui para que denúncias não sejam feitas. Atualmente muitas mulheres famosas estão revelando que sofreram abuso sexual e normalmente a vítima deveria ganhar a solidariedade, mas acaba recebendo uma série de ataques, principalmente pelas redes sociais.

“As vítimas sentem vergonha de procurar ajuda em diversos casos relacionados à violência porque a sociedade está acostumada a dizer que ela deu motivo, frases do tipo ‘O que será que ela aprontou para ter merecido isso?’,  são recorrentes. Uma entidade como STF soltando um feminicida como o goleiro Bruno, é um choque. É a prova de que a luta continua porque ele saiu da prisão fazendo selfies com os fãs. Então que sociedade é essa que a gente inverte os valores? Onde as vítimas se tornam culpadas e os culpados se tornam celebridades. Tem alguma coisa errada. A violência contra a mulher, a morte, ficou tão banalizada que não há nenhuma profundidade sobre o assunto. As pessoas não se importam mais”, disse.

  • Foto: Facebook/Marcha Mundial das MulheresCartaz contra o estuproCartaz contra o estupro

Várias correntes

Como são várias as correntes do feminismo, existem muitos temas polêmicos que algumas aprovam e outras não. O ponto principal é que nesse movimento existe uma grande diversidade de mulheres que acabam defendendo pontos diferentes.

Todas buscam a igualdade, mas possuem necessidades diferentes. Ás vezes o que uma mulher de classe alta defende, não é necessariamente o que uma mulher de classe baixa defende. Assim como uma mulher negra muitas vezes busca direitos diferentes de uma mulher branca. Então daí surgiram várias vertentes e grupos que defendem uma variedade de temas, mas sempre buscando melhorias para a mulher

Porque é importante lutar pela igualdade

Alguns acreditam que não há desigualdade entre os homens e as mulheres. Existe sim e ela é grande. Levando em consideração a questão salarial. Estudo da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontou que uma mulher brasileira com educação superior recebe cerca de 62% do que um homem com a mesma escolaridade.

De acordo com o Ipea, a renda média dos homens brasileiros, em 2014, chegava a R$ 1.831,30 mil. Entre as mulheres brancas, a renda média correspondia a 70,4% do salário dos homens, referente a R$ 1.288,50. Já entre as mulheres negras, a média salarial era de apenas R$ 945,90.

Importância de educar os homens sobre a luta das mulheres

Com dois filhos, a jornalista acredita que é importante que os pais vejam a importância de ajudar os filhos a respeitarem as mulheres. “Eu tenho dois filhos homens, um de 13 e outro de 6 anos. Diariamente educo os meus filhos homens para que respeitem as mulheres, para que entendam que elas não são objetos e que elas merecem respeito”, finalizou.

Mais conteúdo sobre:

Ver todos os comentários   | 0 |

Facebook
 
© 2007-2024 GP1 - Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do GP1.