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Imagem: ReproduçãoClique para ampliarArthur Teixeira Junior(Imagem:Reprodução)Arthur Teixeira Junior
Estou chegando ao final da linha. Meu coração não está aguentando mais “tantas emoções”. Somente em 2013, deu três paradas. Quando o coração pára, não dá aquela dor que aparece nos filmes ou novelas. Pelo contrário. Você desfalece, em serena prostração. Mas, quando isto acontece em um ambiente hospitalar, o que dói mesmo é o choque que eles te dão para acordar o coração. Você dá um salto de bunda, reabre lentamente os olhos baixos, com cara de abobalhado, babando, encara todos aqueles que estão à sua volta, inclusive aquele com os dois ferros de passar roupa na mão, não consegue falar nada, mesmo porque geralmente está entubado. Balbucia, mas todos festejam alegres o feito. Se você pudesse falar, certamente diria: “porque não vão dar um choque na mãe?” e “tira logo esta mangueira de minha boca e enfia no seu...”. Aconselho a todos terem suas paradinhas cardíacas no sítio da família, bem longe de um hospital ou do SAMU.

Alguns fatores indicam que perderam as esperanças comigo: no resultado de meu último eletrocardiograma, veio grampeado, no cantinho esquerdo, um cartãozinho da Funerária Pax União. Quando chego ao consultório da clínica cardiológica, os atendentes param imediatamente de conversar e cochicham movimentando os olhos em minha direção, como estivessem fisgando um peixe. O médico anotou o nome e todos os telefones de meus familiares em meu prontuário. Não tenho horário vago para tomar mais nenhum remédio.

Fico pensando: e depois, o que vai acontecer? Todos sabem que esta hora um dia vai chegar, mas sempre dá um friozinho na barriga. Lembro-me quando pulei de paraquedas pela primeira vez. Quando estava na porta do avião (eles chamam de aeronave), olhei para baixo e perguntei-me: “que diabos estou fazendo aqui?”. Mas saltei, convencido por um poderoso chute na bunda, dado pelo meu instrutor.

Alguém lá de cima (ou lá de baixo), vai me dar o chute decisivo. E prá onde eu vou? No céu, deve ser um saco. Tudo certinho, arrumadinho, organizado. E, além de tudo, dizem que os anjos não tem sexo! Tô fora. Mas no inferno, vou encontrar certamente minha sogra, em cuja cova urino todos os sábados antes de ir ao mercado, além de um monte de sujeitos de terno e gravata, com pastinha executiva na mão, querendo defender-me perante o Demo, prometendo vantagens inimagináveis.

De qualquer modo, terá seu lado bom. Não pagarei mais imposto de renda, IPVA, IPTU, ICMS, enfim, deixarei de ser assaltado. Ah, assaltado em todos os sentidos, pois onde moro até o padre anda armado. E, o que é melhor: aquela vagabunda de minha exmulher, vai finalmente ter que trabalhar, depois de viver oito anos à custa da pensão alimentícia que é descontada diretamente de meu contracheque.

Certamente, comparecerei ao meu velório. Assim como não poderá faltar o bêbado, o contador de anedotas e a desconhecida mulher chorosa com uma criança nos braços. O evento, que já está acertado, dar-se-á (adoro esta construção: chama-se mesóclises) no boteco do Domingão do Frango. Já deixei duas caixas de cerveja e dois litros de amargosa pagos. Os “comes” serão oferta dos vizinhos. Pouco haverá a velar, pois doei órgãos e tecidos a quem precisar. Família e conhecidos estão cientes. Duas partes não serão doadas: uma, minha mulher falou que não vai doar nem sob tortura, e, meu fígado, não servirá nem para sarapatel.

Débora falou que eu não teria enterro, pois não haveria ninguém para carregar meu caixão. Ledo engano. Só os credores, farão uma multidão. Irão certificar-se de meu óbito, conduzindo-me a ultima morada, sussurrando: “Você me levou, mas eu também estou te levando para o buraco...”.

Enfim, meu ultimo dia não deverá tornar-se feriado, nem lá em casa. Muitos irão sentirem-se até felizes, aliviados. Mas, estejam certos: vamos nos encontrar para onde eu for.

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