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*Arthur Teixeira Júnior

Imagem: GP1Arthur Teixeira Júnior(Imagem:GP1)Arthur Teixeira Júnior

Não consigo ler ou assistir qualquer veículo informativo que não esteja ainda repercutindo o “acerto de contas” ocorrido entre os menores assassinos de Castelo do Piauí. Continua rendendo. Hoje foi a mãe do primeiro menor justiçado visitando o túmulo do filho estuprador. Ontem tinha sido um suposto bilhete que o menor eliminado teria entregue à mãe.
Imagem: Portal CasteloCarta escrita por Gleison dias antes de morrer(Imagem:Portal Castelo)Carta escrita por Gleison dias antes de morrer

Não sou perito, mas alguns detalhes chamaram-me a atenção:

1. Como um detento de tamanha periculosidade, tenso, trancafiado em uma cela do sistema prisional (ou chame como quiser uma cadeia para menores) brasileiro, teve a facilidade de conseguir papel e caneta para escrever tal bilhete? Quem lhe forneceu? Sendo um carcereiro, não poderia imaginar que o menor fosse tentar ferir-se com o objeto pontiagudo (caneta)? Onde conseguiu uma folha pautada de caderno, quando é comum vermos tal tipo de bilhete escrito em papel jornal, de embrulho, embalagem ou até mesmo higiênico? Folha pautada, nem o delegado tem.

2. A letra pareceu-me muito “redondinha” para um menino que estudou até a 5ª série e abandonou a escola faz tantos anos, enveredando no mundo do crime e das drogas;

3. As palavras estão muito bem “apoiadas” nas linhas e as letras são todas praticamente do mesmo tamanho (principalmente na altura) o que não é comum naqueles que principiam ou não estão acostumados com a escrita; também não há a mescla de letras maiúsculas e minúsculas e todas as letras estão emendadas umas às outras;

4. Há somente dois “borrões” no texto: ambos riscam letras que estavam corretas para a próxima palavra que seria escrita (o “n” de nunca e o “pa” de padrasto) parece até que houve um rascunho...e os borrões propositais para transmitir uma falsa mensagem ao leitor;

5. Sentimentos como arrependimento, agradecimento pelo que alguém lhe tenha feito, saudades da avó e do padrasto, fé divina (principalmente o conceito de perdão), resignação para a punição que irá sofrer (o curto período de internação), “eu nunca vou esquecer de ...” como estivesse de partida para não mais voltar, enfim, quase tudo que foi colocado, decididamente não faz parte da personalidade de quem participa de crimes tão brutais.

6. Leia a redação ou qualquer escrita de uma criança, com este nível de frequência escolar, e observe se há a retidão de raciocínio, a sequência de ideias, a estrutura gramatical ou os valores envolvidos, semelhantes a aqueles contidos no suposto bilhete.

Tudo isto parece-me uma farsa que está sendo montada por algum espertalhão (não vou citar sua profissão) para conseguir, em troca de uma boa porcentagem, uma polpuda indenização do Estado para a família deste estuprador assassino, que destruiu a vida de quatro adolescentes que nada tinham a ver com suas frustações.

Não é difícil que seja pedido ao Judiciário indenização de um salário mínimo (lembrando que este crápula nunca trabalhou) multiplicado pelos meses/anos de sua expectativa de vida (60 anos ou mais – como se bandido vivesse tanto), mais indenização por danos morais (como se houvesse envolvido alguém com moral), e mais alguma coisinha por fora.

A mãe do assassino aparece prenha, lamentando que agora precisa deslocar-se até a Capital para visitar o túmulo do filho. Coitadinha.

Enquanto isto, nunca mais li nada a respeito de como as vítimas destes sanguinários estão tentando refazer suas vidas, se é que em algum dia isto será possível. Não vi a imagem da mãe da menina que morreu (que, aliás, tinha a mesma idade deste seu algoz) chorando no túmulo da filha. Imagino o que devem estar escrevendo em seus cadernos que não levam mais à escola, as três sobreviventes dos coitadinhos presos.

Indubitavelmente, é dever do Estado proteger e dar a devida segurança a aqueles que mantém sob sua custódia. Mas as deficiências estruturais do sistema não podem servir de pretexto para enricar a família de bandidos, vítimas de seus pares. Pois assim sendo, o crime compensa, mesmo após a morte.

*Arthur Teixeira Júnior é colaborador

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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