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A ingratidão e as maldades podem até adoecer, mas jamais matam os homens de bem

Mais um artigo do desembargador Edvaldo Pereira de Moura.

Foto: Lucas Dias/GP1Desembargador Edvaldo Moura
Desembargador Edvaldo Moura

Desembargador Edvaldo Pereira de Moura
Professor da UESPI e Diretor da ESMEPI

A ingratidão, a deslealdade, a humilhação, as injustiças, as maldades e as ofensas gratuitas, podem até abater, decepcionar, adoecer, mas jamais matam os homens de bem.

Eu já me sinto no final da jornada: cansado, abatido, doente, decepcionado, injustiçado, mais ainda com a férrea e inabalável vontade de fazer mais e melhor pela justiça a que sirvo, pelos filhos, parentes e amigos, que ainda me cercam.

Nesta longa e penosa caminhada, venci e perdi muitas batalhas, constituí sólidas amizades e inimigos figadais a quem muito ajudei, desinteressadamente, mas que nunca souberam ser gratos e leais. Hoje, sigo, talvez com medo, mas resolutamente caminhando, sem poder refluir, em busca da ambiência sadia, de que necessito para viver em paz. Faço-o, seguindo o ensinamento de Khalil Gilbran, quando mostra, em texto lapidar, a luta do rio que segue olhando para trás, analisando a sinuosidade do caminho percorrido e refletindo sobre os resistentes obstáculos, que tive que enfrentar, rumo ao inesperado e desconhecido, sem saber o que irei encontrar na perigosa imensidão e na abissal profundidade do oceano da vida, em que irei conviver, com ferozes animais, a exemplo de o Leviatã de Thomas Hobbes. 

Não posso refluir, porque tudo está em “fieri”, em permanente mudança e transformação, sem desaparecer, transformando-me em oceano e sem me diluir, voltando à condição de rio para, nas grandes tempestades, quando ocorre o fenômeno da ressuscitação, em que as suas águas, após a condensação, voltam a ser potáveis, para saciar a sede dos marinheiros, com esse líquido doce e salutar. 

Espero, como aquele rio ressuscitado, ainda poder ser útil, servindo, dos limites de minhas possibilidades, a todos que de mim precisarem, inclusive, aos que desconhecem a importância e o sentido da gratidão, sentimento nobre, cobrado por Jesus no episódio dos leprosos e sobre o qual, São Tomás de Aquino, autor da Suma Teológica, escreveu o seu Tratado, estabelecendo os seus três níveis: o superficial, o intermediário e o profundo. 

Superficialmente, em nível cognitivo, posso externar o meu agradecimento por algum gesto de que fui alvo, ou por algo que me apeteceu, fazendo uso da palavra alemã “zu danken”, dirigida ao que me provocou essa reação. Posso, igualmente, me sentir agradecido por um reconhecimento sincero e importante, por uma ajuda de que necessitava para superar eventual dificuldade, ou por aquilo que recebi e que tanto me alegrou. Esta é a gratidão em sentido intermediário, de que se utilizam os italianos, externando o termo “grazie”. 

Por fim, é no nível profundo que a verdadeira gratidão se exterioriza e para materializá-la expresso, de coração, aquele sentimento que, para sempre, me vinculará a esse alguém, que me fez torna-me melhor, mais útil, mais prestante e mais respeitado, perante os que ainda me cercam, dizendo “muito obrigado”.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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