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Economia e Negócios

"Banco Central pode ter acelerado demais o corte da Selic", diz Gustavo Loyola

Segundo o ex-presidente do BC, esse movimento pode causar dor de cabeça no fim do ano.

O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, acredita que o BC pode ter se precipitado ao adotar um corte mais agressivo na taxa básica de juros. O que, segundo ele, pode ser motivo de dor de cabeça no fim do ano. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O Banco Central calibrou bem o corte de juros?

No atual cenário, o BC talvez possa ter acelerado demais o corte da Selic. Há risco até de fecharmos o ano com sobreaquecimento da economia. Nossa visão é otimista este ano. A situação na Europa melhorou, a reestruturação da dívida grega se completa de maneira satisfatória, o BC europeu, depois de muita hesitação, está dando liquidez ao sistema bancário. A situação tende a normalizar, embora os riscos ainda perdurem.

O corte de 0,75 ponto na Selic foi precipitado?

O BC infelizmente não deixou muitas pistas sobre a motivação. Se tiver sido apenas uma reação aos dados negativos do PIB de 2011 e da produção industrial de janeiro, acho que o BC realmente teria se precipitado. Mas, devemos esperar a ata do Copom para uma ideia mais precisa. O movimento, talvez não necessário, pode trazer dor de cabeça para o BC, caso a inflação se acelere no fim do ano.

O corte da Selic dificulta a queda do dólar?

Essa é uma das grandes complicações neste momento. As declarações do ministro da Fazenda e outras autoridades econômicas levam a crer que a taxa de juros e a política monetária estão servindo a vários propósitos simultâneos. Isso traz mais incerteza para os agentes econômicos, além de se tornar contraproducente. A excessiva intervenção no mercado cambial, ao não permitir a apreciação do câmbio, dificulta o combate à inflação e a própria queda da taxa de juros. Mas, ao mesmo tempo, autoridades do governo, fora do Banco Central, dizem que a queda de juros veio para segurar a apreciação do real. Essa contradição dificulta, inclusive, a análise dos passos futuros da autoridade monetária e do Ministério da Fazenda.

Qual a expectativa para PIB e câmbio este ano?

Para o PIB, em torno de 3,2% e 3,3%. Com relação à taxa de câmbio, as incertezas são maiores, principalmente porque o governo ameaça usar ferramentas pesadas caso o real tenda a se apreciar. Diria que o dólar este ano, na média, não deve se desgarrar muito de R$ 1,75.

Qual o risco do uso dessas ferramentas?

As medidas de restrição geram muitos efeitos colaterais e pouca solução para a doença. Essas medidas de controle administrativo são pontuais, direcionadas para determinado tipo de transação ou agente econômico. O mercado acaba encontrando uma maneira de driblar as restrições. O governo sai atrás para tentar fechar esses buracos e o sistema vai se tornando cada vez mais distorcido.
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