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Economia e Negócios

Banco Central decide elevar taxa de juros para 10,75% ao ano

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar os juros em 1,50 ponto.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) iniciou 2022 com mais uma alta de 1,50 ponto porcentual da Selic e sacramentou o retorno aos dois dígitos da taxa básica de juros, que passou de 9,25% para 10,75% ao ano – o maior patamar desde maio de 2017. Mesmo reconhecendo, pela primeira vez, que a inflação de 2022 vai ficar acima do teto da meta (de 5%), indicando o segundo ano de descumprimento de seu mandato principal, o BC sinalizou uma redução do ritmo de alta de juros no próximo encontro, nos dias 15 e 16 de março.

“Em relação aos seus próximos passos, o comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”, disse o Copom, acrescentando, como de costume, que os passos futuros poderão ser ajustados para assegurar a convergência às metas.

Esperada por todas as 59 instituições ouvidas pelo Estadão, a decisão desta quarta-feira, 2, foi a oitava alta consecutiva da Selic, após a taxa chegar à mínima histórica de 2% devido aos primeiros impactos da pandemia de covid-19 sobre a economia. Desde o início do ciclo de aperto monetário atual, em março de 2021, o aumento acumulado é de 8,75 pontos porcentuais, o processo mais forte desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o BC elevou a taxa em 20 pontos de uma só vez.

Apesar da sinalização de alta mais branda em março, o BC repetiu, no comunicado, que é apropriado que o ciclo de aperto monetário “avance significativamente em território contracionista (que desestimula a economia)”, diante do aumento das projeções de inflação e risco de desancoragem das expectativas em prazos mais longos. O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

No momento, a própria projeção do BC indica novo descumprimento de seu mandato principal este ano, depois de perder a meta de longe no ano passado, com um desvio de quase cinco pontos. A projeção de 2022 subiu de 4,7% para 5,4%, acima do teto da meta de inflação (5,0%). Para 2023, alvo principal da política monetária a partir de agora, a estimativa seguiu em 3,2%, ligeiramente abaixo do centro da meta (3,25%).

Por trás dessa alta acelerada dos juros está a inflação em patamares muito elevados. O cenário com que o Copom precisou lidar na reunião incluiu inflação acima do esperado no IPCA-15 de janeiro e a sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que pode começar a subir juros a partir de março.

Fim do ciclo de alta

Para o economista-chefe da Neo Investimentos, Luciano Sobral, o Banco Central está preparando o terreno para encerrar o atual aperto monetário, com a Selic chegando entre 12% e 12,5% ao ano. Para encerrar o ciclo já no próximo mês, contudo, o cenário precisa melhorar. Como a dinâmica da inflação tem se mostrado persistente, a estratégia pode ser uma combinação de altas menores em março e maio.

“Acho difícil parar em março porque o que está fazendo o BC ter que subir juros rápido de uns tempos pra cá é a inflação corrente. A dinâmica tem sido pior que o esperado. Enquanto isso não mudar, o Copom vai ser pressionado a se mexer. Para parar em março, cenário precisa melhorar. Se não melhorar, dá um aumento menor em março e avança um pouco mais em maio”, avalia.

No comunicado, o BC reconheceu que a inflação continua surpreendendo negativamente. O colegiado ainda considerou que o cenário externo segue menos favorável para economias emergentes, com um risco de aperto monetário mais rápido nos EUA (ou seja, juros mais altos por lá aumentam a atratividade de títulos americanos em detrimento de outros investimentos). Quanto à atividade doméstica, houve avaliação um pouco mais otimista, com destaque para dados ligeiramente melhores no fim do ano passado, especialmente de mercado de trabalho.

Em relação aos riscos, voltou a alertar para o cenário das contas públicas: “Políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do País.”

Juro real

Com os oito últimos aumentos da Selic, o Brasil voltou a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista de 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 6,41% ao ano. Na sequência, aparecem Rússia (4,61%) e Colômbia (3,02%). A taxa real média desses 40 países está em -1,27%.

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