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Explosões atingem aeroporto de Cabul no Afeganistão

O atentado ocorre na mesma semana em que autoridades ocidentais externaram grande preocupação.

Pelo menos duas explosões ocorreram na manhã desta quinta-feira, 26, no aeroporto internacional de Cabul - onde uma das maiores operações de retirada aérea da história vem sendo realizada desde a tomada da capital afegã pelo Talibã. A informação foi confirmada pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, que classificou o ato como um "ataque complexo" que resultou na morte de civis americanos e afegãos. Informações preliminares apontam que pelo menos 13 pessoas morreram na primeira explosão.

"Nós podemos confirmar que a explosão no Abbey Gate (um dos portões de acesso ao aeroporto) foi resultado de um complexo ataque que resultou em um número de mortes de americanos e civis. Nós também podemos confirmar que pelo menos uma outra explosão ocorrer perto do Baron Hotel, localizado próximo do Abbey Gate", escreveu Kirby em comunicado divulgado pelas redes sociais.

O atentado ocorre na mesma semana em que autoridades ocidentais externaram preocupação com um possível ataque do Estado Islâmico no Afeganistão - com altos funcionários de governos envolvidos na retirada de civis e militares do país dando indicações claras de que as pessoas evitassem o aeroporto nesta quinta-feira, 26.

O Estado Islâmico no Afeganistão, também conhecido como Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K), foi criado há seis anos por dissidentes do Talibã paquistanês. O grupo é grupo afiliado ao Estado Islâmico (EI), que atuou na guerra civil da Síria, sendo apontado como responsável por dezenas de atentados terroristas no país. Apesar de combater as forças ocidentais e o governo afegão deposto nos últimos anos, o ISIS-K também é rival do Talibã - a quem critíca por considerar que o grupo defende uma versão insuficientemente dura do Islã.

Diversas lideranças mundiais alertaram sobre o perigo de uma ataque nos últimos dias, mas da noite de quarta para a manhã desta quinta, novos alertas surgiram sobre a ameaça. O ministro das Forças Armadas britânicas, James Heappey, disse à BBC nesta quinta que havia "uma informação muito confiável de um ataque iminente" no aeroporto, possivelmente dentro de "horas".

Na noite de quarta-feira, 25, a embaixada dos EUA recomendou que cidadãos em três portões de aeroporto saíssem imediatamente do local devido a uma ameaça à segurança não especificada. Antes, na terça-feira, 24, o presidente americano, Joe Biden, já havia mencionado o grupo terrorista. "Cada dia que estamos no terreno é mais um dia em que sabemos que o ISIS-K está tentando atingir o aeroporto e atacar as forças dos EUA e aliadas e civis inocentes", disse.

Um alto funcionário dos EUA, que falou sob condição de anonimato ao The New York Times, confirmou que os EUA estavam rastreando uma ameaça "específica" e "confiável" no aeroporto programada pelo Estado Islâmico Khorasan.

Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia também aconselharam seus cidadãos a não irem ao aeroporto na quinta-feira, com o ministro das Relações Exteriores da Austrália dizendo que havia uma "ameaça muito alta de um ataque terrorista". A Bélgica alertou sobre a ameaça de um ataque suicida.

Antes do ataque, em meio aos alertas das autoridades ocidentais, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, negou a iminência de qualquer ataque. "Não está correto", escreveu em uma mensagem de texto após ser questionado sobre os avisos. Ele não deu mais detalhes.

Analistas e ex-funcionários americanos no país discutiam durante a semana que um ataque do Estado Islâmico no Afeganistão ao aeroporto de Cabul seria um golpe estratégico tanto nos Estados Unidos, que prometeram concluir a retirada de tropas até 31 de agosto, quanto na liderança do Talibã, que está tentando demonstrar que pode controlar o país. Na opinião dos analistas, as (até então) ameaças revelavam a complicada dinâmica entre o Talibã, a Al-Qaeda, a rede Haqqani e o ISIS-K.

O Talibã e a rede Haqqani, um grupo militante com base no Paquistão, são essencialmente o mesmo grupo, dizem especialistas em terrorismo, e Siraj Haqqani é vice-emir do Talibã desde 2015. Por sua vez, os Haqqanis são próximos, operacional e ideologicamente, da Al-Qaeda. "O Talibã, a rede Haqqani e a Al-Qaeda funcionam como um triunvirato, eles trabalham juntos de mãos dadas", disse Colin P. Clarke, analista de contraterrorismo no Soufan Group, uma empresa de consultoria de segurança com sede em Nova York.

Ainda de acordo com Clarke, a aliança formada pelos grupos cresceu nos últimos anos, e deve seguir esse padrão, o que analistas acreditam que pode resultar em um maior embate com outras linhas jihadistas, como o ISIS-K - o que pode indicar um futuro sangrento na disputa pelo poder no país.

'Preparativos' para o ataque

Em meio ao aumento da preocupação com um possível atentado, os aviões de carga militares que saíam do aeroporto de Cabul já utilizavam sinalizadores para interromper qualquer possível tentativa de disparo de míssil. Também havia uma grande preocupação de que alguém pudesse detonar explosivos na multidão, em frente ao aeroporto. O tipo de ataque desta quinta ainda não foi determinado pelas autoridades.

"Recebemos informações a nível militar dos Estados Unidos, mas também de outros países, de que havia indicações de que havia uma ameaça de ataques suicidas contra a massa da população", disse o primeiro-ministro belga Alexander De Croo, antes do ataque.

Apesar de todos os alertas, no entanto, poucos pareceram atender aos alertas faltando apenas alguns dias para o término do esforço de retirada. Heappey admitiu que há pessoas desesperadas para partir e que muitos na fila estão dispostos a se arriscar, mas reforçou que as informações sobre a ameaça eram muito confiáveis. "Há chances de que, à medida que mais relatórios forem chegando, possamos mudar a recomendação novamente e processar as pessoas de novo, mas não há garantia disso", acrescentou.

Estado Islâmico Khorasan (ou Estado Islâmico no Afeganistão)

O Estado Islâmico no Afeganistão surgiu a partir de uma dissidência do Talibã no Paquistão, reunindo representantes que têm uma visão ainda mais extrema do Islã. O grupo é uma das muitas afiliadas que do Estado Islâmico (EI) estabeleceu depois que invadiu o norte do Iraque vindo da Síria em 2014 e criou um califado do tamanho da Grã-Bretanha. Desde junho de 2020, sob o comando de um novo líder, Shahab al-Muhajir, o ISIS-K "permanece ativo e perigoso" e busca aumentar suas fileiras com combatentes do Talibã insatisfeitos e outros militantes, aponta um relatório da ONU.

Oficiais de contraterrorismo da ONU disseram no relatório de junho que o grupo do Estado Islâmico realizou 77 ataques no Afeganistão nos primeiros quatro meses deste ano, contra 21 no mesmo período em 2020. Os ataques do ano passado incluíram um ataque contra a Universidade de Cabul em novembro. Acredita-se que o ISIS-K tenha sido o responsável pelo atentado a bomba em uma escola na capital, que matou 80 meninas, em maio.

Apesar de combaterem as forças americanas e do governo afegão por anos, o ISIS-K também lutou contra o Talibã ao longo dos últimos anos, e seus líderes denunciaram a tomada do país pelos rivais, criticando sua versão do governo islâmico como uma linha insuficientemente dura.

Prazo final

Em meio às ameaças e à iminente retirada americana, alguns países europeus disseram que teriam de encerrar suas evacuações. O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse à rádio RTL que os esforços de seu país terminariam na sexta-feira à noite devido à retirada dos EUA.

O ministro da Defesa dinamarquês, Trine Bramsen, advertiu sem rodeios: "Não é mais seguro voar para dentro ou para fora de Cabul". O último vôo da Dinamarca já partiu, e Polônia e Bélgica também anunciaram o fim de suas evacuações. O governo holandês disse que os EUA disseram para partir na quinta-feira.

O Talibã disse que permitirá que os afegãos partam em voos comerciais após o prazo final da semana que vem, mas ainda não está claro quais companhias aéreas retornarão a um aeroporto controlado pelos militantes. O porta-voz presidencial turco Ibrahim Kalin disse que conversas estão em andamento entre seu país e o Talibã sobre permitir que especialistas civis turcos ajudem a administrar as instalações.

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