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Israel tenta evitar virar paraíso dos oligarcas russos em fuga de sanções

Ministério de Relações Exteriores formou força-tarefa para investigar a influência de empresários russos.

À medida que o Ocidente pressiona a economia da Rússia em razão de sua guerra na Ucrânia, Israel afirma estar trabalhando para evitar que oligarcas de Moscou, alguns deles detentores de passaportes israelenses, apareçam no país e o transformem num paraíso para evadir-se de sanções.

O mais visível entre eles é Roman Abramovich, ex-proprietário do time de futebol Chelsea, da Premier League, que possui cidadania israelense e foi sancionado pelo Reino Unido na semana passada. O jato particular dele aterrissou no Aeroporto Ben Gurion, em Israel, na noite do domingo, de acordo com a imprensa israelense.

Nas semanas que se passaram desde o início da invasão à Ucrânia, o Ministério de Relações Exteriores israelense formou uma força-tarefa para investigar a influência que alguns empresários russos, incluindo aqueles com supostos laços com o Kremlin, exercem em Israel. O ministro de Relações Exteriores, Yair Lapid, também pediu aos seus colegas de gabinete, no mês passado, que não concedam favores para os oligarcas, afirmando que manobras do tipo causariam estragos diplomáticos, de acordo com uma autoridade presente na reunião que falou sob condição de anonimato em razão da sensibilidade do assunto. “Israel não será rota para desviar de sanções impostas sobre a Rússia pelos Estados Unidos e outros países ocidentais”, afirmou ele durante visita à Eslováquia, nesta segunda feira.

A emissora de TV israelense Channel 12 News noticiou na semana passada que o governo de Israel planeja limitar para apenas 48 horas o período de permanência de jatos e iates particulares em aeroportos e portos do país. A manobra ocorre num momento em que uma torrente de jatos particulares alugados partido de cidades russas em direção a Tel-Aviv levantou especulações de que a abastada elite de Moscou está fugindo em direção ao Mediterrâneo.

Pelo menos 14 jatos particulares alugados partiram de Moscou e aterrissaram no Aeroporto Ben Gurion em 12 dias, noticiou no sábado o Channel 12 News. Países ocidentais, incluindo Reino Unido, EUA, e as nações da União Europeia, impuseram sanções sobre alguns dos mais proeminentes empresários russos.

“Alguns chegaram em aviões que não são deles e estão hospedados em casas de cônjuges ou amigos”, afirmou Elise Brezis, diretora do Centro Azrieli para Política Econômica da Universidade Bar-Ilan, no centro de Israel, a respeito dos oligarcas que têm chegado ao país. Na semana passada, ela liderou o que qualificou como uma reunião tensa entre representantes do Ministério das Finanças israelense, o Banco de Israel e outras agências do governo e instituições financeiras, que debateram maneiras de lidar com os oligarcas russos no país.

Vários judeus russos endinheirados solicitaram cidadania israelense depois que a Rússia anexou a Crimeia em 2014, em parte para evitar as consequentes sanções dos EUA. Em Israel, eles se beneficiaram de uma lei que isenta novos imigrantes do pagamento de imposto sobre a renda por 10 anos. A lei foi usada como subterfúgio para lavagem de dinheiro internacional e transformou cidades costeiras como Tel-Aviv, Caesarea e Herzliya em parques de diversão dos ultrarricos.

Esses empresários — incluindo Abramovich e o banqueiro bilionário Mikhail Fridman — não apenas possuem passaportes israelenses, mas com frequência são donos de condomínios luxuosos e mantêm laços políticos e status enquanto doadores e investidores na economia israelense.

Abramovich, que foi colocado na semana passada na lista de sancionados pelo governo do Reino Unido, adquiriu cidadania israelense em 2018 e tornou-se um dos maiores doadores de organizações israelenses e judaicas. No fim de fevereiro, enquanto tropas russas invadiam as fronteiras da Ucrânia, Abramovich fez uma doação “na casa das dezenas de milhões” ao Yad Vashem, o museu e memorial do Holocausto oficial de Israel, de acordo com o presidente da entidade, Dani Dayan.

Leonid Nevzlin, um bilionário russo-israelense crítico do presidente Vladimir Putin e dos empresários à sua órbita, afirmou que Abramovich e outros se tornaram “filantropos judeus, digamos, não por causa das convicções em seus corações, mas para conseguir proteção mundialmente”.

“Às vezes parece que eles tentam usar dinheiro de caridade para obter influência aqui e no exterior”, afirmou ele, de seu em Herzliya, o mesmo bairro onde, em 2020, Abramovich comprou por US$ 70 milhões a residência mais cara de Israel.

Brezis afirmou que, na semana passada, as autoridades concordaram que, em relação aos oligarcas, Israel “não dirá nada” oficialmente, “porque nossa situação não é simples”.

Israel caminha sobre uma corda-bamba diplomática em relação à Ucrânia: o governo israelense prometeu apoio a Kiev, mas tem evitado criticar Putin diretamente. A Rússia mantém uma grande presença militar na Síria, que faz fronteira com o norte de Israel, e por anos Putin tem autorizado extraoficialmente Israel a atacar alvos que afirma estar envolvidos em envios de armas para o grupo militante libanês Hezbollah.

Mas, sem diretrizes do Banco de Israel a respeito de como navegar em meio às sanções, instituições financeiras privadas do país têm tido dificuldades para formular suas próprias políticas, afirmou uma autoridade israelense em finanças que falou sob condição de anonimato para discutir um assunto sensível.

O Banco Hapoalim, um dos maiores de Israel, afirmou apenas em seu website que, “diante das sanções, (…) pode haver perturbações em transferências de dinheiro vindas de Rússia e Ucrânia e destinadas a estes países”.

“Por Israel não ter aderido às sanções, o status no país de oligarcas sancionados não está claro, o que significa que Israel pode estar em violação ao direito internacional”, afirmou Zvi Magen, que serviu como embaixador israelense na Rússia e na Ucrânia nos anos 90.

Em entrevista ao Channel 12 News na sexta feira, Victoria Nuland, subsecretária de Estado americana para assuntos políticos, afirmou que Israel não gostaria “de se tornar o último abrigo para o dinheiro sujo que alimenta as guerras de Putin”.

Roman Bronfman, ex-parlamentar israelense, afirmou que, quando a guerra russa na Ucrânia começar a cobrar mais vidas, Israel será forçado a se posicionar de maneira mais dura em relação a Putin e seus supostos comparsas, que há décadas têm injetado no país seu “dinheiro sujo”.

“Israel está percebendo que chegou a hora desses oligarcas pagarem pelos seus crimes”, afirmou ele.

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