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Novas altas da inflação nos EUA reforçam temor de recessão no país

Especialistas temem que, com a escalada dos juros, o banco central americano reprima demais a economia.

Quando a inflação começou a acelerar em 2021, as pressões sobre os preços estavam claramente atreladas à pandemia: as empresas não podiam produzir carros, sofás e jogos de computador rápido o suficiente para acompanhar a demanda dos consumidores confinados em casa devido aos transtornos nas cadeias de suprimentos.

Neste ano, a guerra entre Rússia e Ucrânia fez os preços dos combustíveis e dos alimentos dispararem, intensificando as pressões sobre os preços.

Mas agora, conforme essas fontes de inflação mostram os primeiros sinais de enfraquecimento, a questão é quanto os aumentos de preços no geral vão diminuir. E é provável que a resposta seja motivada, em parte, pelo que acontece em uma área crucial: o mercado de trabalho.

Os funcionários do Federal Reserve (o Fed, o banco central dos EUA) estão 100% focados no crescimento do emprego e dos salários, à medida que aumentam de forma rápida as taxas de juros para controlar efeitos indesejados na economia e desacelerar os rápidos aumentos de preços. Eles estão convencidos de que devem enfraquecer parte do ímpeto da economia para enfrentar a pior inflação em quatro décadas e levá-la de volta à meta de 2%.

O modo como pretendem fazer isso é diminuindo as despesas, as contratações e os salários – e para alcançar o objetivo, estão aumentando os custos dos empréstimos. Até agora, uma desaceleração considerável está se mostrando ilusória, sugerindo aos economistas e investidores que o Fed talvez tenha de ser ainda mais agressivo em seus esforços para atenuar o crescimento e reduzir a inflação.

Como os dados desta semana mostraram, os preços continuam a subir. E, embora o mercado de trabalho tenha se tornado um pouco menos aquecido, os empregadores ainda estão contratando de forma contínua e aumentando os salários no ritmo mais rápido em décadas. Esse avanço ininterrupto parece permitir que os consumidores continuem a gastar e pode dar aos empregadores tanto poder quanto motivação para aumentar os preços para cobrir as despesas crescentes com a mão de obra.

Recessão no horizonte

Segundo os economistas, como as forças inflacionárias continuam estáveis, aumenta o risco de o Fed reprimir a economia demais e os Estados Unidos entrarem em um período de recessão – provavelmente uma na qual o crescimento cai e o desemprego dispara.

Está se tornando cada vez mais provável que “não seja possível frear a inflação desta economia sem uma recessão e uma taxa de desemprego maior”, disse Krishna Guha, que lidera a equipe de política global e estratégia do banco central na Evercore ISI e que vinha prevendo que o Fed poderia conter a inflação sem provocar uma recessão total.

O desafio para o Fed é que, cada vez mais, o aumento dos preços parece ser motivado por fatores duradouros ligados de forma implícita à economia, e menos por fatores pontuais provocados pela pandemia ou pela guerra na Ucrânia.

A inflação tem atualmente um componente implícito muito grande que se baseia em um mercado de trabalho bastante aquecido

Jason Furman, economista da Universidade de Harvard

Os dados do Índice de Preços ao Consumidor dos EUA para agosto, divulgados na terça-feira, ilustram esse argumento. Os preços da gasolina caíram bastante no mês passado, o que levou muitos economistas a acreditar que isso puxaria a inflação geral para baixo. Eles também pensavam que as recentes melhorias nas cadeias de suprimentos atenuariam os aumentos dos preços das mercadorias. Os preços dos carros usados, que contribuíram de forma significativa para a inflação no ano passado, também estão diminuindo agora.

Aluguel em alta

No entanto, apesar desses acontecimentos positivos, o rápido aumento dos gastos com uma ampla gama de produtos e serviços ajudou a elevar os preços durante o mês. O aluguel, os móveis, as refeições em restaurantes e as idas ao dentista estão ficando cada vez mais caros. A inflação subiu 8,3% no acumulado do ano e aumentou 0,1% em relação ao mês anterior.

“A inflação tem atualmente um componente implícito muito grande que se baseia em um mercado de trabalho bastante aquecido”, disse Jason Furman, economista da Universidade de Harvard. “E depois, em qualquer outro mês, a inflação talvez seja maior por conta de uma maré de azar, como a gasolina subir, ou menor devido a um golpe de sorte, como a gasolina baixar.”

“A grande pergunta para o Fed não é: ‘A inflação já atingiu o pico?’ Mas, na verdade: ‘Para onde ela vai nos levar?’”, disse Aneta Markowska, economista-chefe do Jefferies. Ela estima que será difícil conseguir uma inflação abaixo de 4% – o dobro da meta do Fed de 2% – sem uma desaceleração substancial na economia e no mercado de trabalho.

“Ainda temos habitação e do mercado de trabalho, há muita pressão inflacionária ainda vindo dessas duas áreas, que são muito desequilibradas”, disse Aneta.

É por isso que o Fed, que se reúne nesta semana, está se esforçando para trazer a oferta e a demanda de volta ao equilíbrio.

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