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Teresina - Piauí

Covid-19: esposa aguarda há 17h por vaga para enterrar marido em Teresina

A viúva disse, em tom de desabafo, que nesse momento não tem mais ninguém, pois vivia só ela e o esposo: “me ajudem, pelo amor de Deus!"

A dona de casa Ana do Rosário, 53 anos, moradora do bairro São Pedro na zona sul de Teresina, sofreu uma grande perda nesta sexta-feira (19) e agora enfrenta um drama inexplicável. Seu esposo, José Carlos Pereira de Amorim, 68 anos, morreu vítima da covid-19 às 4h30 da madrugada dessa sexta e até o momento, 17 horas depois de seu falecimento, não foi sepultado por não haver vagas gratuitas em qualquer cemitério da capital.

O GP1 está acompanhando o caso e conversou com a dona Ana no início desta noite. Ela relatou que foi procurada por uma pessoa da Superintendência das Ações Administrativas Descentralizadas (SAAD), antiga SDU, que se comprometeu em solucionar o problema. Enquanto isso, o corpo de seu esposo continua na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Promorar, onde ele faleceu.

Foto: Marcelo Cardoso/GP1Dona Ana segurando a foto do seu esposo
Dona Ana segurando a foto do seu esposo

“Não me disseram mais nada e amanhã eu tenho que tomar providência, porque o homem não pode ficar em cima da terra. É um sofrimento muito grande, um descaso muito grande um negócio desses. Ainda hoje ele está lá morto na UPA do Promorar. A moça disse que era da SDU, disse que ia falar com o superintendente. Ela disse que tinha arrumado uma vaga no Jardim da Ressurreição, mas eles iam entrar em contato com eles [da administração] para liberar, para autorizar, disse que ia deixar meu contato com eles, mas até agora ninguém entrou em contato”, revelou Ana do Rosário.

A viúva disse, em tom de desabafo, que nesse momento não tem mais ninguém, pois vivia só ela e o esposo. “Me ajudem, pelo amor de Deus! Foi o dia todinho andando e não resolvemos nada. Mais uma noite aqui em casa e o homem lá no hospital morto, podendo já estar enterrado. Não dormi, não comi nada hoje, eu estou sozinha, só era eu e ele aqui em casa”, declarou.

Foto: Marcelo Cardoso/GP1Ana em entrevista ao GP1
Ana em entrevista ao GP1

Desamparo dos filhos

Ana do Rosário afirmou ainda que ela e o marido falecido tiveram dois filhos, mas que não lhe prestam assistência. “Tenho dois filhos, mas os filhos nem ligam para os pais, nunca ligaram pra gente, nem visitaram os pais. Um mora perto de mim e o outro no Parque Eliana”, colocou.

A dona de casa foi em busca de uma vaga para sepultar o esposo no Cemitério Público Santa Cruz, no bairro Promorar, mas foi surpreendida pela notícia de que não havia vagas gratuitas e que o enterro no local só seria possível mediante pagamento de R$ 1.800 para a construção do jazigo.

O que diz a SAAD

A Assessoria de Comunicação da SAAD Sul afirmou não ter conhecimento do que foi relatado pela dona Ana do Rosário, garantindo que nenhum representante entrou em contato com a senhora prometendo uma vaga no cemitério. A assessoria informou ainda que acredita que Ana do Rosário possa ter sido vítima de trote.

O GP1 ainda entrou contato com o superintendente da SAAD Centro, Roncalli Filho, que está como responsável pelo plantão funerário da Prefeitura de Teresina nesta sexta-feira. Ele afirmou ao GP1 que está buscando uma solução para o caso: "estamos buscando vaga em um dos cemitérios da capital e enquanto não encontramos, estamos tentando providenciar uma geladeira para comportar o corpo".

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