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Teresina - Piauí

Justiça do DF concede prisão domiciliar ao dono da JR Rações

O juiz Tiago Pinto atendeu pedido da defesa que comprovou ser o empresário portador de doença grave.

A 2ª Vara de Entorpecentes do Distrito Federal converteu em domiciliar a prisão preventiva do empresário José Raimundo de Oliveira, proprietário da JR Rações, preso preventivamente acusado de vender ilegalmente a medicação anestésica Cetamina, utilizada para fabricar a nova droga conhecida como Keyla ou Key, para criminosos em Brasília.

A defesa do empresário sustenta o absoluto desconhecimento dos fatos a ele imputados, tendo em vista que se afastou da gestão da empresa desde o início da pandemia da COVID-19, delegando a seus filhos o gerenciamento e administração da sociedade. Alegou também que ele é portador de doença grave e pediu a conversão da prisão preventiva em medidas cautelares diversas, especialmente prisão domiciliar.

Foto: Alef Leão/GP1A loja do empresário é a J R Rações
A loja do empresário é a J R Rações

O juiz Tiago Pinto Oliveira atendeu pedido da defesa que comprovou ser o empresário portador de doença grave necessitando de cuidados especiais, tendo o Ministério Público se manifestado pela revogação da prisão cautelar. A decisão foi proferida no dia 17 de novembro e cumprida imediatamente, após a expedição de carta precatória.

José Raimundo deverá comparecer mensalmente em juízo, para informar e justificar atividades, e também para atualizar seu endereço.

As contas do empresário e da JR Rações , no entanto ainda estão bloqueadas por determinação do juiz que determinou a constrição de R$ 1.562.000,00 (um milhão quinhentos e sessenta e dois mil reais)

A Prisão

A prisão do empresário foi feita pelo Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) do Piauí, que prestou apoio à operação deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal, que abrangeu ainda o estado de Goiás. De acordo com o decreto de prisão preventiva, o empresário e o indivíduo identificado como Flavio Dias Cordeiro formam a espinha dorsal de um complexo e muito lucrativo esquema criminoso que vigora no Distrito Federal há mais de 10 (dez) anos para o tráfico de cetamina.

Flávio Dias Cordeiro, vulgo "Gargamel" , estaria há pelo menos uma década comandando a maior operação em atividade de tráfico de cetamina do DF. Seu principal fornecedor seria José Raimundo de Oliveira, através da empresa J Raimundo de Oliveira Rações Ltda de Teresina.]

A investigação contou com o auxílio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que elaborou Relatório de Inteligência Financeira (RIF) apontando movimentações milionárias e absolutamente incompatíveis com a renda declarada de Flávio Cordeiro, o qual ainda usaria a sua irmã, Eliete Cordeiro, para empréstimo de conta bancária para movimentações financeiras ilegais, e seu irmão Otacílio Cordeiro para o encobrimento de bens. O RIF também apontou forte fluxo financeiro de Flávio Cordeiro, intermediado pela conta bancária de sua irmã, para a empresa J Raimundo de Oliveira Rações Ltda, pertencente a José Raimundo de Oliveira, e localizada em Teresina, no Piauí.

O cloridrato de cetamina é um analgésico veterinário e tem seu tráfico originado sempre a partir de desvios de empresas dessa espécie. Esse analgésico é vendido liquefeito e depois de adquirido pelos traficantes passa por processos caseiros de evaporação, restando, ao final, apenas o pó puro.

Investigação e apreensão

Através de diligências realizadas com interceptação telefônica e ação controlada, a autoridade policial conseguiu interceptar a maior carga de cetamina da história do Distrito Federal. No dia 25 de julho de 2023, um ônibus que viajava de Teresina para Brasília foi interceptado pela Polícia Civil e em seu interior foram apreendidos 170 frascos de Cetamin, que foram enviados por José Raimundo de Oliveira para Flávio Cordeiro, quantidade que é superior ao dobro da quantidade apreendida no Distrito Federal nos últimos 5 anos e a maior da história nessa unidade da federação.

Na ocasião, a encomenda estava acompanhada de uma nota fiscal falsa, indicando se tratar do produto farmasept plus, e não Cetamin. A Nota fiscal foi emitida pela própria J Raimundo de Oliveira Rações Ltda., empresa de José Raimundo de Oliveira. O nome do remetente constante na encomenda era falso, mas tanto no nome do remetente quanto no nome do destinatário da encomenda foi inserido o telefone celular pertencente à José Raimundo. O nome do destinatário da encomenda não era falso, trata-se da pessoa de David Jonathan Borges Batista, o qual acabou sendo ouvido pela Polícia e esclareceu como se dava todo o esquema criminoso comandado por Flávio Cordeiro.

David relatou que foi contratado por Flávio Cordeiro para retirar a encomenda na Rodoviária Interestadual de Brasília toda semana, recebendo a quantia de R$ 300,00 por retirada. David tinha a obrigação de pegar as encomendas na Rodoviária e levar até a residência de Flávio. As encomendas sempre eram transportadas pela empresa Viação Real Maia, e sempre o mesmo funcionário da empresa, Rodrigo Viana dos Santos quem entrega as encomendas para David, após prévia ligação daquele para Flávio. Entretanto, por desconfiar que se tratava de um trabalho ilícito, por amigos terem lhe dito que Flávio era conhecido por vender ketamina, David afirmou ter abandonado tal incumbência, sendo substituído, posteriormente, por Wallace dos Santos Alves.

Na decisão que decretou a prisão preventiva, o juiz ressalta o risco que a liberdade de José Raimundo e Flavio Cordeiro representam, “isto porque se trata, em tese, do maior traficante de cetamina da história do Distrito Federal e do seu fornecedor, não havendo nenhum indicativo de que em liberdade eles cessariam as suas práticas espontaneamente, tampouco indicativos de que medidas cautelares diversas da prisão seriam suficientes para se resguardar a ordem pública”.

Em relação a José Raimundo e sua empresa, o RIF apontou movimentações financeiras que indicam que ele pode ser fornecedor de cetamina não só para Flávio Cordeiro, mas também para outros traficantes em outras unidades da federação, no aentanto, a Polícia Civil do Distrito Federal não se encarregou de investigações que diziam respeito a traficantes de outros estados.

Poder alucinógeno 10x maior que a cocaína

Conforme as informações fornecidas pela coordenadora do Denarc do Piauí, Alexandra Santos, o medicamento Cetamina é um anestésico utilizado em procedimentos em animais de grande porte, como equinos, no entanto, ao passar por processo manual para transformá-lo em uma substância em pó, gerava-se um entorpecente conhecido como conhecido como Ketamina, Keta, Keyla, ou Key, com poder alucinógeno 10x maior que a cocaína.

"Depois de sintetizado, de uma forma caseira, era feito o entorpecente Ketamina, que é um entorpecente sintético, de uso recreativo, muito utilizado em festas raves, em baladas. É uma droga altamente potente, chamada também de droga Key, Keta, Especial K. É uma droga com o efeito anestésico muito forte. A fórmula inicial, a Cetamina, é um medicamento controlado, muito utilizado no meio veterinário para animais de grandes portes, forte anestésico e analgésico também. Ele nunca tinha sido apreendido aqui, mas hoje ele tem sido bastante utilizado por esse público que consome drogas sintéticas", detalhou a delegada Alexandra Santos.

Efeito devastador à saúde

O efeito da substância entorpecente em humanos, provoca um estado de transe, proporcionando alívio da dor, sedação, perda de memória e efeitos psicodélicos. No entanto, a droga causa uma série de danos à saúde, além de deixar os usuários mais vulneráveis a perigos, devido aos apagões que ela causa. Por conta de seu efeito, a ketamina é um dos componentes utilizados no “Boa noite, Cinderela”, coquetel manipulado por criminosos para roubar ou estuprar suas vítimas.

Mercado ilegal lucrativo

"É algo bem lucrativo, só esse ano, esse alvo que foi preso lá em Brasília hoje, adquiriu mais de 140 mil dessas substâncias aqui dessa loja. Hoje também foi efetivado o bloqueio das contas, tanto dos alvos, quanto da empresa, no encoste de até R$ 780 mil reais. Então assim, movimentava muito [dinheiro]. Esse indivíduo lá de Brasília que comprava desse [empresário] daqui, lucrava semanalmente mais de R$ 60 mil, é um indivíduo que vivia em um padrão muito alto de vida. Esse mercado dessas drogas utilizadas em baladas, em raves, utilizadas como drogas recreativas, essas sintéticas, tem movimentado bastante", destacou a delegada Alexandra Santos.

Todos os investigados foram indiciados pelos crimes de tráfico de drogas interestadual de forma continuada, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, as penas somadas dos crimes imputados podem ultrapassar 35 anos de prisão.

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